A carta-testamento do monarca enfermo, preso e sem futuro
Michelle, uma pedra no meio do caminho de Flávio e dos seus irmãos
Bolsonaro passou no dia do Natal por uma cirurgia de correção de hérnia inguinal sem nenhum imprevisto. Nos próximos dias, os cuidados médicos se voltarão “para analgesia, fisioterapia e profilaxia de tromboembolismo venoso.” Talvez seja operado de novo para amenizar as crises de soluços que o enfraquecem.
Soluços são espasmos involuntários do diafragma (músculo da respiração) seguidos pelo fechamento rápido da glote (abertura da laringe). Causas comuns incluem comer demais, beber álcool, irritação gástrica ou estresse. Soluços contínuos podem indicar problemas mais sérios como refluxo. Parece ser o caso dele.
O Papa Pio XII, que governou a Igreja de 1939 até a data de sua morte em 9 de outubro de 1958, enfrentou episódios graves de soluços persistentes a partir de 1954, frequentemente associados a problemas gástricos, como a gastrite, e ao esgotamento físico por excesso de trabalho. Um derrame cerebral o matou.
Bolsonaro jamais morrerá por esgotamento físico. Nunca gostou de pegar no pesado. Como militar, destacou-se em provas de corrida a curta distância. Como presidente, por expedientes que raramente entravam pela noite. Em compensação, sempre descuidou da saúde, comendo e bebendo o que não deveria.
Segundo o cardiologista Brasil Ramos Caiado, o quadro de soluços tem causado cansaço extremo e prejudicado o sono de Bolsonaro. A condição tem relação direta com uma esofagite severa, associada à gastrite e ao refluxo gastroesofágico. Inicialmente, haverá uma tentativa de reduzir os sintomas com tratamento clínico.
A frase “Deus, Pátria e Família” foi o lema do movimento integralista fundado por Plínio Salgado em 1932 e inspirado no fascismo de Benito Mussolini. Bolsonaro utilizou-a para evocar valores conservadores, tradições religiosas e montar sua base política. Para ele, na prática, a família está em primeiro lugar.
Michelle, sua terceira mulher, mãe de sua única filha, faz parte da família e é a mais bem colocada dos Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto para presidente em 2026. Mas não foi ela a escolhida para levar adiante o legado do monarca enfermo, preso e inelegível até completar 105 anos de idade.
A carta-testamento de Bolsonaro, escrita por ele do próprio punho e lida, ontem, à porta do hospital em Brasília onde o ex-presidente está internado, diz que Flávio Bolsonaro, o mais velho dos seus filhos, herdará sua fortuna de votos. O próprio Flávio foi quem a leu. Em apelo messiânico, de olho nos evangélicos, Bolsonaro diz:
“Ao longo da minha vida tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto com minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.
Diante desse cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da República em 2026.
Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim.”
(Está na Bíblia, João 3:16-17: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele”.)
Vai ver que é por isso que Flávio tem se apresentado como mais centrado, mais moderado, mais tolerante do que o pai – “o Bolsonaro que todo o Brasil quer”. Só falta ele se dizer menos golpista do que o pai e a madrasta, que segundo o tenente-coronel Mauro Cid, incentivou o marido a dar o golpe.
Michelle continuará sendo uma pedra no caminho de Flávio e dos seus irmãos, com os quais nunca se deu bem.
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