A PEDAGOGIA DO OPRIMIDO”, DE PAULO FREIRE
Segunda Opinião RUI LEITÃO O clássico Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, foi concluído em outubro de 1968, quando ele estava exilado no Chile. No prólogo, intitulado “Primeiras palavras”, afirma que a obra “é resultado das observações e reflexões – reunidas durante os cinco anos de exílio – acerca das atividades […]


Segunda Opinião
RUI LEITÃO
O clássico Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, foi concluído em outubro de 1968, quando ele estava exilado no Chile. No prólogo, intitulado “Primeiras palavras”, afirma que a obra “é resultado das observações e reflexões – reunidas durante os cinco anos de exílio – acerca das atividades educativas que tivera a oportunidade de exercer no Brasil e na América Latina, incluindo o próprio Chile”. A tese revolucionária defendida tem seu caráter pedagógico pautado na promoção da liberdade emancipatória, por meio do diálogo, da solidariedade e do companheirismo entre educadores e classes operárias.
A obra-prima foi elaborada inteiramente em manuscritos, que foram deixados sob a guarda de Jacques Chonchol, um dos principais ministros do governo de Salvador Allende. Depois que os entregou, nunca mais os viu, pois não ficara com qualquer cópia. Os originais permaneceram em poder do ministro por cerca de duas décadas, sendo levados por ele para Paris, onde se instalou como exilado após a derrubada do governo Allende, no Chile. Por sorte, esses manuscritos não foram apreendidos quando as tropas de Pinochet invadiram a casa do ministro, não dando importância à pasta simples de cartolina que continha as folhas de papel almaço escritas à mão. Em 2013, Chonchol entregou os manuscritos à Universidade Nove de Julho, de São Paulo.
O livro foi proibido pela ditadura militar, permanecendo inédito até 1974. Nem se poderia esperar postura diferente do regime autocrático instalado no Brasil após o golpe de 64, considerando que Freire inicia dedicando a obra: “Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam.” Está na 50ª edição em português, embora tenha sido publicado pela primeira vez em inglês. É, sem dúvida, uma das obras brasileiras mais traduzidas e editadas no exterior.
A reação da direita, em todos os lugares do mundo, sempre é no sentido de tentar conter o potencial transformador da educação, em sua capacidade de moldar mentes e inspirar mudanças sociais. Paulo Freire critica a cultura do silêncio imposta aos oprimidos, que objetiva fazê-los desconhecer as condições que têm de transformar a realidade em que estão inseridos. Dá ênfase à necessidade de desenvolver um processo político, pela educação libertadora, visando despertar os indivíduos de sua opressão e gerar ações de transformação social.
Paulo Freire sustenta que se torna essencial uma consciência crítica da realidade, para que sejam superados os conflitos entre opressores e oprimidos, permitindo, assim, um maior engajamento no compromisso com a transformação social. O livro Pedagogia do Oprimido nunca perdeu a atualidade, não só porque continuam existindo os oprimidos, mas também porque se trata de uma obra considerada de grande valor na busca por criar, por meio da educação, “um mundo em que seja menos difícil amar”, como afirma ao final da obra.
Continua causando impactos em várias gerações de educadores na América Latina e no mundo, contribuindo para a definição de espaços de resistência ao autoritarismo político e demagógico. Segundo o escritor e educador Moacir Gadotti: “Paulo Freire escreveu sua Pedagogia do Oprimido no contexto dos fortes movimentos emancipatórios da década de 60: movimentos de mulheres, estudantes, camponeses, trabalhadores, negros, movimentos sociais e populares.”
Rui Leitão, Rui Leitao é jornalista, historiador e escritor, membro da Academia Paraibana de Letras.
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