A Regra do Jogo (por Pedro Costa)

Jean Renoir filmou, durante a “drôle de guerre” — intraduzível, mas digamos “estranha guerra”, o período do inverno 39/40, quando a Alemanha “apenas”destruiu a Polônia, em parceria com Herr Stalin — uma obra-prima, La Règle du Jeu. É uma mistura de drama-moral e comédia de enganos, que tem por pai Beaumarchais, avós Molière e Shakespeare. Disseca a comédia das entranhas humanas. André ama Christine, mulher de Robert, amante de Geneviève; Octave é intermediário entre André e Christine, que tem como criada Lisette, mulher de Édouard, guarda-caça de Robert e desejada por Marceau, braconnier — caçador ilegal (o “Quadrilha”, do nosso C.D.A, foi publicado em 1930, e tratava de desencontro, não das vísceras humanas). Édouard persegue Marceau, André quer Christine mas antes falar a Robert, Christine se entrega a Octave etc…. Afinal, Édouard, pazes feitas com Marceau, mata, por engano, André. Um acidente, que em nada abala a festa. “Perturbado”, Renoir interpreta “o estado de espírito do mundo” sem falar da guerra, falando da guerra.

Falemos de nossa guerra, do atual estado de espírito do mundo. As quadrilhas nazistas agem a todo vapor. Trump estupra o art. 1o, a 1a emenda, a 14a, a 15a, a 25a, a lei e as leis, bah, mais um passo para a necessária ditadura. A quadrilha do genocida continua aliada com a quadrilha dos ladrões — não sou eu quem diz, mas o condenado e assassino helenista — para surrupiar as chaves das cadeias, bah, é preciso pacificar o Brasil.

Pacificação é assim: roubar vale o mesmo que ser roubado: quem foi roubado esquece que foi roubado, quem roubou esquece que roubou e guarda seu dinheiro bem guardado em mansões, touros, cavalos, aviões, depois de pixlavar o dinheiro.

Tipo vamos combinar que a Terra é redonda e plana, como um disco. Ou que a teoria da evolução e o criacionismo explicam por igual o crescimento de algumas fortunas parlamentares: “audaces fortuna iuvat.”

É, a audácia ajuda a fortuna ($$$, não destino) dos huguinhos, malafiosos, patinhos, lyricos et caterva. Audácia, etimologia descaramento, sem-vergonhice, malandragem, calhordice… Também, o que esperar de quem é eleito secretamente pelas secretas emendas, senão agir com transparência, tanta que o mesmo voto pode ser contra ou a favor, contra e a favor do transparente segredo do abre-te Tesouro da União.

Graças a Deus protestamos por intermédio dos nossos oráculos apolíneos, velhinhos como eu, mas batendo nossos milhões de corações: há outra regra do jogo, nem tudo chafurda na amoralidade, nem tudo é desespero, há esperança. Amanhã será outro dia…

Seremos bem-aventurados por buscar a Paz. Não a “pacificação” dos violentos, golpistas, genocidas, mas a Paz que pedimos ao Cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo.

Pedro Costa é arquiteto, escritor, curioso…