A trajetória do Chega, partido de direita e anti-imigração que cresceu na eleição de Portugal
Em apenas seis anos de existência, o Chega aumentou sua votação de 1,3% para cerca de 23%. Seu líder disse que resultado é histórico e dá fim à hegemonia das legendas mais tradicionais no país. André Ventura, candidato do partido de extrema direita português Chega a primeiro-ministro REUTERS A Aliança Democrática (AD), coligação de centro-direita, partido que já governa Portugal, venceu as eleições legislativas ao ser a mais votada na eleição realizada no domingo (18). Mas outro partido também está sendo considerado como um dos grandes vencedores do pleito: o Chega, de direita radical. O Chega conquistou o mesmo número de vagas no Parlamento do Partido Socialista (PS), de esquerda: 58 deputados. SANDRA COHEN: A extrema direita abala a vitória da centro-direita em Portugal ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Eleições em Portugal: coalizão de centro-direita vence, mas não consegue maioria no Parlamento Em apenas seis anos de existência, o Chega aumentou sua votação de 1,3% para cerca de 23%. "A direita democrática, na identidade da AD, vence as eleições, mas perde o combate político. É uma das suas mais curtas vitórias. Não consegue maioria para governar", escreveu o cientista político Antonio Barreto em artigo no jornal português O Público. O líder do Chega, André Ventura, comemorou o resultado eleitoral. "Podemos declarar oficialmente, e com segurança, que acabou o bipartidarismo. Fizemos história." Não está claro ainda se a AD de Luís Montenegro fará aliança com o Chega para poder governar. Na eleição passada, a AD se negou a formar uma coligação com a direita radical. Para governar, a AD — que conquistou 89 vagas — precisaria do apoio de 27 deputados. Até o momento, com votos finais ainda sendo apurados, o PS obteve 58; o Chega, 58; e os demais partidos somaram 20 assentos. O empate eleitoral do PS com o Chega foi considerado tão desastroso pela sigla de esquerda que seu líder, o socialista Pedro Nuno Santos, anunciou sua demissão. Os socialistas ainda podem até ficar atrás do Chega no resultado final da eleição — se os resultados dos eleitores no exterior, que demoram alguns dias a serem contabilizados, forem semelhantes aos das eleições do ano passado. Pedro Nuno Santos renunciou à liderança do Partido Socialista após empate com o Chega EPA via BBC 'Chega' em alta A eleição coroa a ascensão meteórica do Chega, que foi fundado em 2019. Seu líder, André Ventura, de 42 anos, ficou conhecido em Portugal como comentarista de futebol. Torcedor do Benfica, ele ganhou notoriedade em 2014 ao defender o clube no canal de televisão CMTV. Formado em direito, Ventura também foi seminarista durante um ano — e trabalhou como professor universitário e inspetor tributário, antes de migrar definitivamente para a política. Isso aconteceu em 2017, quando concorreu à Câmara Municipal de Loures, perto de Lisboa, pelo PSD. A mensagem principal de sua campanha era dirigida aos ciganos, uma comunidade, nas suas palavras, "que vivia dos subsídios do Estado". "O que eu vou dizer pode não ser muito popular, mas é verdade: temos tido uma tolerância excessiva com alguns grupos e minorias étnicas", disse ele, na época, em entrevista ao site Noticias ao Minuto. Nas palavras de Ventura, famílias, "por serem de etnia cigana", tinham ajuda do Estado para reformar as casas enquanto outras esperavam pelo benefício. "Quem tem de trabalhar todos os dias para pagar as contas no fim do mês olha para isso com enorme perplexidade. Isso não é racismo nem xenofobia, é resolver um problema que existe porque há minorias no nosso país que acham que estão acima da lei." Ventura não ganhou aquelas eleições, mas aproveitou a atenção da mídia gerada pela polêmica para, dois anos depois, lançar o Chega, prometendo defender os "portugueses de bem". Defensor do controle da imigração, Ventura fez campanha para criar o crime de "residência ilegal em solo português" — e impor cotas anuais de entrada de estrangeiros no país baseadas "nas qualificações dos imigrantes e nas necessidades do mercado português". "Não podemos viver em um país onde todo mundo entra sem controle nem critério, sem saber porque entra e ao que vem", defendeu o líder do Chega. Sobre os muçulmanos, Ventura postou em 2019 em sua conta no Twitter: "Quantos paquistaneses vão ter de cortar a cabeça a mais mulheres para percebermos o real perigo que esta vaga (onda) islâmica significa para a Europa?" Ventura sempre negou as acusações de racismo e xenofobia — afirmando que o que ele quer é "uma imigração decente, mas não descontrolada". LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Após passar mal 2 vezes, líder da extrema direita de Portugal aparece em cama e diz que interromperá campanha 'Contratempo', diz líder da extrema direita de Portugal após passar mal e ser levado para hospital pela 2ª vez Bolsonaro e brasileiros O discurso de Ventura agrada também muitos brasileiros que vivem no país. Portugal tem a segunda maior comunidade brasileira no exterior, atrás apenas dos


Em apenas seis anos de existência, o Chega aumentou sua votação de 1,3% para cerca de 23%. Seu líder disse que resultado é histórico e dá fim à hegemonia das legendas mais tradicionais no país. André Ventura, candidato do partido de extrema direita português Chega a primeiro-ministro REUTERS A Aliança Democrática (AD), coligação de centro-direita, partido que já governa Portugal, venceu as eleições legislativas ao ser a mais votada na eleição realizada no domingo (18). Mas outro partido também está sendo considerado como um dos grandes vencedores do pleito: o Chega, de direita radical. O Chega conquistou o mesmo número de vagas no Parlamento do Partido Socialista (PS), de esquerda: 58 deputados. SANDRA COHEN: A extrema direita abala a vitória da centro-direita em Portugal ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Eleições em Portugal: coalizão de centro-direita vence, mas não consegue maioria no Parlamento Em apenas seis anos de existência, o Chega aumentou sua votação de 1,3% para cerca de 23%. "A direita democrática, na identidade da AD, vence as eleições, mas perde o combate político. É uma das suas mais curtas vitórias. Não consegue maioria para governar", escreveu o cientista político Antonio Barreto em artigo no jornal português O Público. O líder do Chega, André Ventura, comemorou o resultado eleitoral. "Podemos declarar oficialmente, e com segurança, que acabou o bipartidarismo. Fizemos história." Não está claro ainda se a AD de Luís Montenegro fará aliança com o Chega para poder governar. Na eleição passada, a AD se negou a formar uma coligação com a direita radical. Para governar, a AD — que conquistou 89 vagas — precisaria do apoio de 27 deputados. Até o momento, com votos finais ainda sendo apurados, o PS obteve 58; o Chega, 58; e os demais partidos somaram 20 assentos. O empate eleitoral do PS com o Chega foi considerado tão desastroso pela sigla de esquerda que seu líder, o socialista Pedro Nuno Santos, anunciou sua demissão. Os socialistas ainda podem até ficar atrás do Chega no resultado final da eleição — se os resultados dos eleitores no exterior, que demoram alguns dias a serem contabilizados, forem semelhantes aos das eleições do ano passado. Pedro Nuno Santos renunciou à liderança do Partido Socialista após empate com o Chega EPA via BBC 'Chega' em alta A eleição coroa a ascensão meteórica do Chega, que foi fundado em 2019. Seu líder, André Ventura, de 42 anos, ficou conhecido em Portugal como comentarista de futebol. Torcedor do Benfica, ele ganhou notoriedade em 2014 ao defender o clube no canal de televisão CMTV. Formado em direito, Ventura também foi seminarista durante um ano — e trabalhou como professor universitário e inspetor tributário, antes de migrar definitivamente para a política. Isso aconteceu em 2017, quando concorreu à Câmara Municipal de Loures, perto de Lisboa, pelo PSD. A mensagem principal de sua campanha era dirigida aos ciganos, uma comunidade, nas suas palavras, "que vivia dos subsídios do Estado". "O que eu vou dizer pode não ser muito popular, mas é verdade: temos tido uma tolerância excessiva com alguns grupos e minorias étnicas", disse ele, na época, em entrevista ao site Noticias ao Minuto. Nas palavras de Ventura, famílias, "por serem de etnia cigana", tinham ajuda do Estado para reformar as casas enquanto outras esperavam pelo benefício. "Quem tem de trabalhar todos os dias para pagar as contas no fim do mês olha para isso com enorme perplexidade. Isso não é racismo nem xenofobia, é resolver um problema que existe porque há minorias no nosso país que acham que estão acima da lei." Ventura não ganhou aquelas eleições, mas aproveitou a atenção da mídia gerada pela polêmica para, dois anos depois, lançar o Chega, prometendo defender os "portugueses de bem". Defensor do controle da imigração, Ventura fez campanha para criar o crime de "residência ilegal em solo português" — e impor cotas anuais de entrada de estrangeiros no país baseadas "nas qualificações dos imigrantes e nas necessidades do mercado português". "Não podemos viver em um país onde todo mundo entra sem controle nem critério, sem saber porque entra e ao que vem", defendeu o líder do Chega. Sobre os muçulmanos, Ventura postou em 2019 em sua conta no Twitter: "Quantos paquistaneses vão ter de cortar a cabeça a mais mulheres para percebermos o real perigo que esta vaga (onda) islâmica significa para a Europa?" Ventura sempre negou as acusações de racismo e xenofobia — afirmando que o que ele quer é "uma imigração decente, mas não descontrolada". LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Após passar mal 2 vezes, líder da extrema direita de Portugal aparece em cama e diz que interromperá campanha 'Contratempo', diz líder da extrema direita de Portugal após passar mal e ser levado para hospital pela 2ª vez Bolsonaro e brasileiros O discurso de Ventura agrada também muitos brasileiros que vivem no país. Portugal tem a segunda maior comunidade brasileira no exterior, atrás apenas dos EUA, com 513 mil brasileiros. Apesar da grande comunidade em Portugal, um estudo estima que o número de eleitores brasileiros — e de imigrantes em geral — é pequeno. Apenas 34 mil imigrantes estariam inscritos para votar — e cerca de 25% desses seriam brasileiros. Em Portugal, menos de 0,3% do eleitorado de cerca de 10 milhões de pessoas é de pessoas nascidas no exterior. Ventura é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e já organizou protestos no Parlamento contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na eleição passada, Bolsonaro gravou uma mensagem aos portugueses: "É muito importante que André Ventura, do Chega, consiga essa cadeira de primeiro-ministro. É a direita, é o conservadorismo, são as pessoas de bem que se fazem cada vez mais presentes". Neste ano, Ventura fez uma transmissão ao vivo pela internet com Bolsonaro no qual apoiou o brasileiro nos processos que ele enfrenta no Supremo Tribunal Federal. Sobre o atual presidente brasileiro, Ventura disse: "Lula deve ser condenado por sua proximidade com a Rússia e pela incapacidade de ver o sofrimento do povo ucraniano, contrário à diplomacia que Portugal tem feito e bem, no âmbito europeu, pela sua proximidade à China, pela sua hesitação em condenar as ditaduras sul-americanas que tanta dor, pobreza e sofrimento têm causado, mas sobretudo e acima de tudo, pelo nível de corrupção que representa." O Chega organizou um protesto contra Lula em 2023 em Lisboa EPA via BBC O líder do Chega defendeu, como Bolsonaro, algumas propostas polêmicas, como a castração química para estupradores e pedófilos. Ele resgatou em 2021 o lema da ditadura "Deus, Pátria e Família", ao qual acrescentou "trabalho" — mas, diferente de Bolsonaro em relação à ditadura brasileira, Ventura não é um defensor do regime autoritário sob o comando de António Salazar que governou Portugal durante 40 anos. "Fiquem à vontade comigo porque não tenho nenhum saudosismo de uma República que eu não vivi. Não é isso que me move. Vejo Salazar como vejo outras figuras da história", disse em entrevista à agência Lusa em 2020. Ele também não hesitou em condenar os ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal . Liberal na economia, Ventura defende a redução dos impostos, mas quer também o aumento das pensões e dos salários. Quando se elegeu, em 2019, Ventura postou no Twitter: "Por que razão cresce o Chega nas sondagens e na rua? Porque já não é só a voz individual, os nossos desejos e as nossas ambições. O Chega é a voz de um povo inteiro farto de corrupção e de impunidade."
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