Adoção aos 18 anos transforma vida de jovem com paralisia cerebral
História do jovem Gabriel, adotado em Arinos após quase duas décadas em abrigos, emociona e inspira novas formas de olhar o amor
Aos 18 anos, Gabriel Ferreira de Souza realizou um sonho que parecia distante: ser adotado. Depois de quase duas décadas em instituições de acolhimento, o jovem, que tem paralisia cerebral, encontrou no casal Samira Sales e Lucas Nogueira o lar e o amor que sempre esperou. A história, ocorrida em Arinos, no Noroeste de Minas Gerais, tem comovido a comunidade local e se tornou um símbolo de esperança.
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Nascido em Januária, no Norte do Estado, Gabriel foi acolhido ainda bebê, aos quatro meses de vida, em situação de extrema vulnerabilidade. Pesando pouco mais de dois quilos, desnutrido e com diagnóstico de paralisia cerebral tetraplégica mista associada à disartria, ele precisou de cuidados constantes desde o início.
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Entre idas e vindas de abrigos, Gabriel cresceu rodeado por afeto e dedicação dos profissionais que o acompanharam. A oficial judiciária Deuseni Santana, voluntária da instituição Associação de Meninas e Meninos de Arinos (Ammar), lembra dele como o “garoto feliz do abrigo”. “Ele se comunicava com o olhar e com o sorriso. Era impossível não se encantar com sua alegria”, conta.
Mesmo com limitações motoras, Gabriel frequentou escola regular e concluiu o ensino fundamental. Atualmente, cursa o 3º período da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Apae de Arinos, onde continua desenvolvendo habilidades e ampliando sua comunicação.
A adoção tardia do jovem
Mas, à medida que a maioridade se aproximava, crescia também a ansiedade pelo futuro fora do abrigo. Gabriel não havia estabelecido vínculos com a família biológica e as tentativas de adoção durante a infância e adolescência não avançaram.
Foi então que o destino deu um novo rumo à sua história. Samira e Lucas, que haviam adotado três irmãos na Comarca de Arinos em 2020, nunca esqueceram de Gabriel — a quem chamavam carinhosamente de “o quarto filho”. Mesmo morando em Caçapava (SP), o casal manteve contato e, ao saber que o jovem estava prestes a completar 18 anos, decidiu agir.
Eles procuraram a assistente social judicial Fátima Valadares, que acompanhou a primeira adoção da família, e iniciaram o processo. Fátima descreve o momento como “atípico e emocionante”, já que Gabriel já era maior de idade. Com fotos, chamadas de vídeo e gestos, o vínculo foi se fortalecendo até o dia em que o jovem, por meio de um sorriso, confirmou seu desejo: queria ser adotado.
Gabriel e sua família. Adotado aos 18 anos, jovem com paralisia cerebral era conhecido como “garoto feliz do abrigo”
Para Lucas, o encontro foi transformador.
“Adotar o Gabriel não foi apenas abrir as portas da nossa casa, mas também do coração. Ele me ensinou o verdadeiro sentido do amor incondicional”, conta emocionado.
A oficial Deuseni define a adoção do jovem como um “milagre de amor”, resultado de uma rede de sensibilidade e empenho formada pelo Juiz Gustavo Obata Trevisan, pela equipe do Juízo e pelos profissionais da Comarca.
Trevisan, que conduziu o processo de adoção, descreve o momento da assinatura como um dos mais marcantes de sua carreira.
“Ver o Gabriel, depois de tantos anos de acolhimento, encontrar uma família foi uma realização profunda. É a prova de que a esperança não tem idade.”
Hoje, Gabriel vive cercado de carinho e segurança. Sua nova família o acolheu com o mesmo amor dedicado aos filhos que já haviam sido adotados. Para Samira, o sentimento é de plenitude:
“Ele veio ocupar o lugar que sempre foi dele. Veio completar nossa família.”
A história de Gabriel ecoa como um convite à reflexão sobre adoção tardia e inclusão. Para Deuseni Santana, é também um lembrete de que o amor supera qualquer limitação.
“Adotar exige coragem e entrega, mas o que se recebe em troca é um coração inteiro, transbordando amor.”
Em Arinos, o “garoto feliz do abrigo” agora é o filho amado de uma nova família — e o sorriso do jovem com paralisia cerebral continua sendo o mesmo, só que ainda mais cheio de luz.
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