'Ainda não morri, mas já vivo num caixão': os relatos dos moradores de apartamentos 5 vezes menores que uma cela em Hong Kong
Apartamentos-caixão: como são por dentro as micromoradias em Hong Kong “Um idoso uma vez me disse: ‘Ainda não morri, mas já vivo num caixão.’” A lembrança é da assistente social Lain Shan Sze, que há 30 anos percorre os becos e prédios de Hong Kong para visitar os chamados apartamentos-caixão. O apelido à moradia foi dado pelos próprios moradores dos cubículos de menos de dois metros de comprimento e pouco mais de meio metro de largura, espaços tão minúsculos que chegam a ser cinco vezes menores do que uma cela solitária em uma prisão de Hong Kong. Dentro dessas caixas, a vida se desenrola comprimida entre paredes de metal e calor de 40°C. Um morador mostra os insetos que mata e deixa na parede; outro, Simon, que mora no microapartamento há 3 anos, diz que já viu “muita gente chegar e ir embora”. Ali, as pessoas comem, leem, sonham e sobrevivem, cada uma tentando manter algum traço de dignidade em meio ao aperto. “Somos só pessoas aleatórias no mesmo lugar”, resume um dos homens. “É como se não quiséssemos ser inimigos nem amigos.” A reportagem do Fantástico visitou um dos apartamentos, mas foi expulsa pelo proprietário. Uma das moradoas, a faxineira Wai-Shan Lee, disse que nunca viu o dono tão irritado. Em entrevista ao Fantástico, ela contou que foi parar ali depois de perder a mãe e romper com o irmão. Lee diz sentir falta de casa, de infância, de ar. “Morar lá é devastador”, confessa. "Sinto falta da minha casa, quero muito voltar para o mundo de quando eu era pequena". Para Lee, a cachorra Bibi virou sua companhia diária, e talvez o único respiro entre paredes sem janela. Hong Kong tem mais de 4 mil arranha-céus, mas também uma multidão vivendo empilhada em cômodos clandestinos. A cidade mais vertical do planeta exibe o contraste brutal entre luxo e miséria, arranha-céus e caixões, uma crise de moradia profundamente ligada aos baixos salários. Paga-se muito mal e o trabalhador precisa gastar cada vez mais para se sustentar. Para a assistente social Lain Shan Sze, o drama dos moradores resume uma era em que o direito básico de ter um lar virou um privilégio. "Muitos apartamentos-caixão não são registrados, não têm licença, não estão dentro da lei", resume a assistente social.
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