Bolsonaro, finalmente, senta-se no banco dos réus. Merece
O que ele não quer que lembremos

O general João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar de 1964, saiu do Palácio do Planalto por uma porta lateral e pediu aos brasileiros que o esquecessem. Foi atendido prontamente.
Jair Bolsonaro, que no dia 30 de dezembro de 2022 abandonou o país para não dar posse a Lula, pede aos brasileiros que esqueçam boa parte do que ele disse durante quatro anos do seu governo.
Pede aos brasileiros, não. Pede aos ministros do Supremo Tribunal Federal que o julgarão por tentativa de golpe, abolição violenta da democracia, organização criminosa e danos ao patrimônio público.
Não será atendido, e nem poderia. Afinal, nem os generais que comandaram o país entre 1964 e 1985 ousaram se manifestar contra a democracia nos termos em que Bolsonaro se manifestou.
Para os militares, o golpe de 64, que chamavam de revolução, foi o meio de salvar a democracia ameaçada pelo comunismo. O golpe tramado por Bolsonaro era apenas para mantê-lo no poder.
Em 1999, em resposta a uma pergunta sobre se ele fecharia o Congresso caso fosse o presidente da República, Bolsonaro disse:
“Não há menor dúvida, daria golpe no mesmo dia! Não funciona! E tenho certeza de que pelo menos 90% da população ia fazer festa, ia bater palma, porque não funciona.”
Na ocasião, afirmou que não acreditava que houvesse solução por meio da democracia e defendeu a morte de “30 mil”, incluindo a de civis e a do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Explicou-se:
“Através do voto você não vai mudar nada nesse país. Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil e fazendo o trabalho que o regime militar não fez.”
Bolsonaro sempre primou pela coerência. Um golpista assumido desrespeita a Justiça. Foi o que ele fez, antes e depois de se eleger presidente. Em março de 2022, Bolsonaro disse:
“Temos tudo para sermos uma grande nação. O que falta? Que alguns poucos não atrapalhem. Se não tem ideias, cala a boca. Bota a tua toga e fica aí. Não vem encher o saco dos outros”.
Toga é a capa preta usada por ministros de tribunais superiores. Contrário ao voto eletrônico pelo qual sempre se elegeu, Bolsonaro prometera restabelecer o voto impresso:
“O povo armado jamais será escravizado. E podem ter certeza de que, por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados”.
O Congresso decidiu que o voto continuaria sendo eletrônico. Bolsonaro jamais se conformou. E seguiu a desacreditar o processo eleitoral e a minar a confiança das pessoas na Justiça.
A menos de seis meses da eleição em que seria derrotado por Lula, em reunião com empresários paulistas, Bolsonaro declarou:
“Tudo pode acontecer. Podemos ter outra crise. Podemos ter umas eleições conturbadas. Imagine acabarmos as eleições e pairar, para um lado ou pro outro, a suspeição de que elas não foram limpas?”
Acrescentou:
“Não sou ditador. Sou uma pessoa que tem responsabilidades pelo Brasil. Se Deus me deu essa missão, eu vou cumpri-la. […] Só ele me tira de lá. Não adianta alguém inventar uma canetada”.
Não houve “canetada”, mas até hoje Bolsonaro nunca reconheceu sua derrota. É na condição de réu que ele será interrogado, esta semana, pelos ministros que tanto atacou. Seu destino está escrito.
Se fugir, será condenado à revelia. Se não, será condenado a 30 ou a 40 anos de prisão. E assim terminará sua história – salvo se um bolsonarista raiz ou enrustido se eleger presidente em 2026.
O de raiz dirá que o perdoará (alô, alô, Romeu Zema e Ronaldo Caiado). O enrustido, para contar com o apoio de Bolsonaro, será obrigado a dizer (alô, alô, Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr).
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