Brasil sobe 19 posições no ranking de liberdade de imprensa da RSF, mas situação no mundo piora
Por RFI A Noruega lidera a lista da RSF pelo nono ano consecutivo, seguida pela Estônia (2°) e pela Holanda (3°). A Eritreia permanece em último lugar, atrás da Coreia do Norte e da China. O Brasil continua sua ascensão após a era Bolsonaro, subindo 47 posições desde 2022. “O novo governo de Luiz Inácio Lula […]


Por RFI
A Noruega lidera a lista da RSF pelo nono ano consecutivo, seguida pela Estônia (2°) e pela Holanda (3°). A Eritreia permanece em último lugar, atrás da Coreia do Norte e da China.
O Brasil continua sua ascensão após a era Bolsonaro, subindo 47 posições desde 2022. “O novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem normalizado as relações entre os órgãos estatais e a imprensa, após um mandato de Jair Bolsonaro marcado pela hostilidade constante ao jornalismo”, aponta a ONG.
Esta evolução positiva do país no ranking de 2025 reflete a percepção de uma atmosfera menos adversa ao jornalismo. O Brasil ainda se destaca como uma das poucas nações no mundo a melhorar seu indicador econômico, um dos elementos de análise para a elaboração do ranking.
Entretanto, problemas estruturais persistem e requerem atenção das autoridades e da sociedade brasileira, assinala o documento. “A violência estrutural contra jornalistas, um cenário midiático marcado pela alta concentração privada e o peso da desinformação constituem desafios para a liberdade de imprensa no Brasil”, assinala a RSF.
A concentração da mídia, a fragilidade dos serviços de informação pública e as condições de trabalho precárias são consideradas as principais deficiências para um jornalismo livre e independente nas Américas. O México (124º), o país mais letal da região para os profissionais do setor, perdeu três posições, enquanto a Colômbia (115º) mantém uma pontuação geral estável.
Nos últimos anos, o colapso dos modelos tradicionais de negócios da mídia exacerbou a crise na região. “À medida que as receitas publicitárias migram para plataformas tecnológicas globais e os hábitos do público se transformam, as redações encolhem e a independência editorial se enfraquece”, observa a ONG. Dos 28 países da região, 22 registraram queda em seus indicadores econômicos.
Nos Estados Unidos (57°), o segundo mandato de Donald Trump provoca uma deterioração preocupante da liberdade de imprensa e faz o país recuar duas posições no ranking, ficando atrás da Serra Leoa. Os retrocessos mais marcantes na região também podem ser explicados pelas tendências autoritárias.
Na Argentina (87º), o presidente Javier Milei estigmatizou jornalistas, desmantelou a mídia pública e utilizou a publicidade estatal como instrumento de pressão política. O país perdeu 47 posições em apenas dois anos, ressalta a RSF. No Peru (130º), a liberdade de imprensa também entrou em colapso, despencando 53 posições desde 2022. A mídia independente está sob forte pressão no país andino e os profissionais de imprensa peruanos sofrem assédio judicial, em meio a um ambiente de campanhas de desinformação. El Salvador (135º) mantém sua trajetória de queda: 61 posições perdidas desde 2020.
Deterioração global
No cenário global, a RSF lamenta uma situação preocupante. Neste ano, todas as regiões do mundo apresentaram queda nos índices médios pesquisados pela entidade.
“A liberdade de imprensa está se deteriorando pela primeira vez em 10 anos. Observa-se que a situação, que antes era considerada mediana, passou a ser classificada como difícil”, disse Anne Bocandé, diretora editorial da organização, em entrevista à RFI.
Segundo ela, atualmente, as condições para o exercício do jornalismo são ruins em metade dos países do mundo. “Menos de 1% da população global – apenas 0,7% – vive em países onde a liberdade de imprensa é plenamente garantida”, enfatiza a diretora editorial da entidade.
Pressão financeira crescente
A liberdade de informação é “cada vez mais prejudicada por condições de financiamento opacas ou arbitrárias”, aponta o relatório. Na Hungria (68º), por exemplo, o governo está sufocando os veículos de imprensa críticos ao poder político por meio da distribuição desigual de publicidade estatal.
Mesmo em países “bem posicionados” como Finlândia (5º) ou Austrália (29º), a concentração da mídia, “uma ameaça ao pluralismo”, continua sendo “um ponto de vigilância”.
Na França (25º), que caiu quatro posições no levantamento, uma “parte significativa da imprensa nacional é controlada por algumas grandes fortunas”, observa a RSF, questionando “a real independência das redações”.
A situação da liberdade de imprensa é descrita como “muito grave” em 42 países, sete dos quais estão incluídos nesta categoria – Jordânia, Hong Kong, Uganda, Etiópia, Ruanda, Quirguistão e Cazaquistão.
A Eritreia permanece em último lugar, atrás da Coreia do Norte e da China.
A RSF produziu este ranking com base em “uma pesquisa quantitativa de abusos cometidos contra jornalistas” e “um estudo qualitativo” conduzido por especialistas. As conclusões são publicadas na véspera do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
RFI e AFP
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