Brasileiros em Israel relatam ‘medo’ e ‘estado de choque’ diante do conflito contra o Irã

Mais de uma semana após o início da ofensiva maciça lançada em 13 de junho pelo exército israelense contra o Irã, os moradores de Israel convivem com um novo cotidiano: sirenes diárias, ataques ao longo do dia e uma ameaça sem precedentes, mesmo para uma população “acostumada” a conflitos. Neste sábado (21), o governo de […]

Jun 21, 2025 - 10:00
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Brasileiros em Israel relatam ‘medo’ e ‘estado de choque’ diante do conflito contra o Irã

Mais de uma semana após o início da ofensiva maciça lançada em 13 de junho pelo exército israelense contra o Irã, os moradores de Israel convivem com um novo cotidiano: sirenes diárias, ataques ao longo do dia e uma ameaça sem precedentes, mesmo para uma população “acostumada” a conflitos. Neste sábado (21), o governo de Israel afirmou ter conseguido retardar a capacidade de desenvolvimento de uma bomba atômica pelo Irã, após novos ataques aéreos a uma instalação nuclear em Isfahan, na região central do país. Em seguida, o Irã atingiu um prédio residencial no norte de Israel, sem registro de vítimas até o momento.
A brasileira Sarah Salomao Neta, cozinheira e guia de turismo, mora sozinha em Bat Yam, cidade que faz parte da região metropolitana de Tel Aviv. A casa dela foi destruída por um míssil iraniano que atingiu o prédio em frente.
A brasileira Sarah Salomao Neta, cozinheira e guia de turismo, mora sozinha em Bat Yam, cidade que faz parte da região metropolitana de Tel Aviv. A casa dela foi destruída por um míssil iraniano que atingiu o prédio em frente. © Henry Galsky

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Se, durante os conflitos com o Hamas na Faixa de Gaza ou com o Hezbollah no Líbano, a vida no interior de Israel ainda mantinha uma aparência de relativa normalidade, a guerra contra o Irã mudou drasticamente esse cenário.

Nos ataques contra Petach Tikva, na região central de Israel, um casal morreu dentro do abrigo protegido do apartamento. O Comando da Frente Interna — braço do Exército responsável por orientar a população civil —, reconheceu que, no caso de um ataque direto, mesmo os abrigos reforçados garantem proteção total.

Apesar dos sistemas de defesa avançados, os mais de 500 mísseis balísticos disparados pelo Irã têm se mostrado desafiadores. Em apenas uma semana de conflito, ao menos 24 israelenses foram mortos em ataques da República Islâmica.

Brasileiros em ‘choque’ em Israel

RFI conversou com brasileiros que vivem em Israel para entender como têm sido os últimos dias no meio de uma guerra inédita na região.

Sarah Salomão Neta, cozinheira e guia de turismo, mora sozinha em Bat Yam, cidade que faz parte da região metropolitana de Tel Aviv. A casa dela foi destruída por um míssil iraniano que atingiu o prédio em frente.

Ela estava no “miklat”, o termo em hebraico para o abrigo coletivo, que fica na parte de baixo dos edifícios. Este tipo de abrigo é muito comum, em especial em prédios mais antigos construídos antes de 1993, quando uma lei aprovada pelo parlamento israelense determinou que todas as novas construções deveriam ter um quarto protegido no interior dos apartamentos.

“Para mim só a parte da frente do prédio tinha sido destruída. Depois subi no apartamento e tudo estava destruído. A porta de madeira estava caída no chão, a janela tinha caído na poltrona, no meu quarto todas as paredes caíram”, conta Sarah, que está temporariamente hospedada em um hotel em Tel Aviv, assim como os demais moradores do prédio.

“Eu estou em estado de choque. Não posso ouvir um barulho que meu coração vem na boca”, diz a brasileira.

Já Deborah Kopstein Schanz trabalha como cuidadora de crianças e mora em Ramat Gan, outra cidade atingida por um míssil iraniano. “Não estou saindo de casa para praticamente nada, compras eu peço para entregar. Tem sido muito difícil. Fico pensando nos meus pais que moram em Haifa, no meu irmão que mora em Zichron Yaakov (também no norte de Israel) com as crianças”, indica ela.

“Eu tenho que ir para o abrigo do prédio, mas que não tem uma porta de ferro. É só rezar, porque está se aproximando, [os mísseis] estão caindo muito perto de pessoas que a gente conhece”, relata Deborah.

Ao cair da noite, os israelenses se recolhem em suas casas, e as ruas das cidades ficam praticamente desertas. Tel Aviv, conhecida por sua vida vibrante e constante movimento, está excepcionalmente calma.Tel Aviv, conhecida pela agitação permanente, está excepcionalmente calma. Um bairro inteiro foi destruído por um míssil iraniano.

A reportagem da RFI esteve no local e registrou a destruição de prédios residenciais, casas, mercados e hotéis. Todas as construções em um raio de 500 metros quadrados foram afetadas.

Um comandante do exército que pediu para não ser identificado confirmou a potência do ataque: “Foi um milagre que ninguém tenha morrido por aqui”.

Prédio atingido por míssil iraniano em Ramat Gan, região central de Israel.
Prédio atingido por míssil iraniano em Ramat Gan, região central de Israel. © RFI/ Henry Galsky

Fábricas não conseguem proteger trabalhadores

Nossa reportagem esteve presente em cinco locais atingidos na região norte e central de Israel: Tamra, uma cidade árabe-israelense onde quatro jovens de uma mesma família foram mortas, Rishon Letzion, Tel Aviv, Haifa e Ramat Gan.

Juliano Rosenberg é agrônomo e mora em Kiriat Ata, uma das cidades do entorno de Haifa. Ele trabalha em uma empresa que produz artefatos para a indústria bélica e percebeu uma redução dos trabalhadores ativos na fábrica. Juliano detalha que as ausências acontecem pelo fato de o abrigo protegido da fábrica não ser grande o bastante para proteger todos os funcionários em caso de ataques.

“Estamos funcionando com um número reduzido de trabalhadores pelo tamanho do bunker, que não comporta todos os funcionários. Então, estamos trabalhando em rodízio”, afirma Rosenberg.

O Irã afirma que tem buscado atingir apenas alvos militares. Mas as evidências no terreno mostram outra realidade. Nos locais visitados foi possível verificar que apenas estruturas civis foram destruídas. O Irã atingiu uma refinaria de petróleo em Haifa; um alvo considerado estratégico, o Hospital Soroka, em Beersheva, além de prédios civis em Holon, Bat Yam, Petach Tikva e Bnei Brak.

Foram registrados também ataques contra um alvo militar na região central de Israel (cuja localização precisa ainda não foi divulgada) e o Instituto de Ciências Weizman, em Rehovot, ao sul de Tel Aviv. O Instituto Weizman é dedicado basicamente a ciências, mas realiza parte de suas pesquisas em parceria com as forças militares de Israel nas áreas de energia, medicina e ciências da computação. A maioria dos danos causados pelo míssil iraniano destruiu laboratórios de pesquisa de tratamentos contra o câncer.

Adaptação à nova rotina de guerra

Ao conversar com brasileiros que vivem em Israel, fica evidente que, neste momento, a prioridade tem sido se adaptar à nova rotina imposta pela guerra. Até agora, são poucas as vozes críticas ao conflito, pois os esforços estão voltados para lidar com os desafios do dia a dia — como manter as crianças entretidas com as aulas presenciais suspensas, conciliar o trabalho remoto e garantir que os abrigos domésticos estejam sempre prontos para uso.

A operadora de turismo Luana Amorim, moradora de Petach Tikva, relata as mudanças no cotidiano desde o início da guerra, há uma semana.

Viver em Israel nesses dias tem sido uma mistura de tensão constante, tentativas diárias de seguir em frente para não surtar dentro de casa. Tenho dois filhos, então foi preciso sair da rotina porque não tem nada funcionando. E com as crianças em casa, trabalhando de casa, está sendo bem difícil conciliar, além do medo. Essa é a primeira vez que, realmente, o medo está bem grande. As sirenes tocam a qualquer momento. Mas quando a gente recebe esses avisos, o coração dispara”, conta.

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