Casa Branca de Trump vira campo minado para líderes estrangeiros

Presidente americano expõe visitantes à humilhação pública para agradar à base radical e tenta enfraquecê-los politicamente em seus países. Trump constrange presidente da África do Sul e fala em genocídio contra brancos Palco de encontros outrora monótonos e formais, o Salão Oval da Casa Branca virou um campo minado para líderes estrangeiros neste conturbado início do segundo mandato do presidente Donald Trump. É preciso estar preparado para escapar da humilhação pública a que o chefe de Estado dos EUA impõe, como anfitrião, a seus convidados. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Desta vez, o alvo era o presidente da África do Sul, que veio equipado para enfrentar as falsas acusações de que seu país promove um genocídio contra a minoria étnica branca. Cyril Ramaphosa levou um livro de 14 quilos sobre os campos de golfe de seu país e dois campeões golfistas para tentar seduzir o presidente americano. A troca de amenidades foi momentânea, e Trump partiu para o ataque. Mandou apagar as luzes, exibiu uma montagem de clipes do opositor Julius Malema, líder do partido de extrema esquerda Combatentes da Liberdade Econômica, orquestrando cânticos da era do apartheid que pediam a morte dos africâneres. O presidente dos EUA, Donald Trump, mostra supostas reportagens sobre 'genocídio branco' na África do Sul enquanto se encontra com o presidente do país, Cyril Ramaphosa REUTERS/Kevin Lamarque Munido de um calhamaço com artigos e fotos de sepulturas de sul-africanos brancos, coletados da mídia de extrema direita americana, Trump sustentou que os fazendeiros sul-africanos estão sendo mortos por serem brancos. “Eles estão sendo executados de forma terrível”, repetia em ladainha conspiratória. Diferentemente do ucraniano Volodymyr Zelensky, também atacado em fevereiro no Salão Oval, Ramaphosa manteve a calma e não mordeu a isca lançada por Trump. Perguntou onde estavam as sepulturas e disse desconhecer a origem das fotos exibidas pelo presidente americano. O presidente sul-africano enfatizou que as maiores vítimas de crimes em seu país são negras e lançou um argumento, que considerou definitivo, recorrendo ao espírito conciliador de Nelson Mandela. "Se houvesse genocídio de fazendeiros africâneres, posso apostar que esses três cavalheiros não estariam aqui", disse referindo-se aos dois golfistas e um bilionário africâner, que integravam a sua comitiva. A visita de Ramaphosa serviu para mostrar que a passagem pelo Salão Oval não é o melhor caminho para dissipar as tensões entre dois governos. Outros líderes tentaram e foram brindados com a descortesia do anfitrião americano. Trump coloca líderes mundiais em "climão" durante reuniões oficiais Arte g1 O premiê canadense, Mark Carney, ouviu insinuações sobre os planos de anexação de seu país ao território americano e foi firme. “Tendo me encontrado com os donos do Canadá (os eleitores) ao longo da campanha, posso garantir que não está à venda, nunca estará”. Desconfortável, o rei Abdullah, da Jordânia, resistiu, como pôde, às pressões para receber refugiados palestinos, outra obsessão de Trump. O líder britânico, Keir Stammer, levou uma estocada do vice-presidente e cão de guarda, J.D. Vance, que derramou queixas sobre a repressão às empresas de tecnologia americanas no Reino Unido. “Temos liberdade de expressão há muito tempo no Reino Unido e ela durará muito, muito tempo”, devolveu. Nesses confrontos abertos no Salão Oval, há três meses transformado em ringue de luta, Trump demonstra não querer apenas posar de herói para agradar à sua base radical Maga. Ao expor os convidados estrangeiros à humilhação, ele tenta também enfraquecê-los diante de seus eleitores e interferir no cenário político desses países. Se a diplomacia convencional saiu definitivamente de cena, por outro lado, a bajulação ao presidente americano tem se mostrado pouco eficaz. O visitante tem de exibir preparo físico e mental para enfrentar o reality show do Salão Oval.

May 22, 2025 - 11:00
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Casa Branca de Trump vira campo minado para líderes estrangeiros

Presidente americano expõe visitantes à humilhação pública para agradar à base radical e tenta enfraquecê-los politicamente em seus países. Trump constrange presidente da África do Sul e fala em genocídio contra brancos Palco de encontros outrora monótonos e formais, o Salão Oval da Casa Branca virou um campo minado para líderes estrangeiros neste conturbado início do segundo mandato do presidente Donald Trump. É preciso estar preparado para escapar da humilhação pública a que o chefe de Estado dos EUA impõe, como anfitrião, a seus convidados. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Desta vez, o alvo era o presidente da África do Sul, que veio equipado para enfrentar as falsas acusações de que seu país promove um genocídio contra a minoria étnica branca. Cyril Ramaphosa levou um livro de 14 quilos sobre os campos de golfe de seu país e dois campeões golfistas para tentar seduzir o presidente americano. A troca de amenidades foi momentânea, e Trump partiu para o ataque. Mandou apagar as luzes, exibiu uma montagem de clipes do opositor Julius Malema, líder do partido de extrema esquerda Combatentes da Liberdade Econômica, orquestrando cânticos da era do apartheid que pediam a morte dos africâneres. O presidente dos EUA, Donald Trump, mostra supostas reportagens sobre 'genocídio branco' na África do Sul enquanto se encontra com o presidente do país, Cyril Ramaphosa REUTERS/Kevin Lamarque Munido de um calhamaço com artigos e fotos de sepulturas de sul-africanos brancos, coletados da mídia de extrema direita americana, Trump sustentou que os fazendeiros sul-africanos estão sendo mortos por serem brancos. “Eles estão sendo executados de forma terrível”, repetia em ladainha conspiratória. Diferentemente do ucraniano Volodymyr Zelensky, também atacado em fevereiro no Salão Oval, Ramaphosa manteve a calma e não mordeu a isca lançada por Trump. Perguntou onde estavam as sepulturas e disse desconhecer a origem das fotos exibidas pelo presidente americano. O presidente sul-africano enfatizou que as maiores vítimas de crimes em seu país são negras e lançou um argumento, que considerou definitivo, recorrendo ao espírito conciliador de Nelson Mandela. "Se houvesse genocídio de fazendeiros africâneres, posso apostar que esses três cavalheiros não estariam aqui", disse referindo-se aos dois golfistas e um bilionário africâner, que integravam a sua comitiva. A visita de Ramaphosa serviu para mostrar que a passagem pelo Salão Oval não é o melhor caminho para dissipar as tensões entre dois governos. Outros líderes tentaram e foram brindados com a descortesia do anfitrião americano. Trump coloca líderes mundiais em "climão" durante reuniões oficiais Arte g1 O premiê canadense, Mark Carney, ouviu insinuações sobre os planos de anexação de seu país ao território americano e foi firme. “Tendo me encontrado com os donos do Canadá (os eleitores) ao longo da campanha, posso garantir que não está à venda, nunca estará”. Desconfortável, o rei Abdullah, da Jordânia, resistiu, como pôde, às pressões para receber refugiados palestinos, outra obsessão de Trump. O líder britânico, Keir Stammer, levou uma estocada do vice-presidente e cão de guarda, J.D. Vance, que derramou queixas sobre a repressão às empresas de tecnologia americanas no Reino Unido. “Temos liberdade de expressão há muito tempo no Reino Unido e ela durará muito, muito tempo”, devolveu. Nesses confrontos abertos no Salão Oval, há três meses transformado em ringue de luta, Trump demonstra não querer apenas posar de herói para agradar à sua base radical Maga. Ao expor os convidados estrangeiros à humilhação, ele tenta também enfraquecê-los diante de seus eleitores e interferir no cenário político desses países. Se a diplomacia convencional saiu definitivamente de cena, por outro lado, a bajulação ao presidente americano tem se mostrado pouco eficaz. O visitante tem de exibir preparo físico e mental para enfrentar o reality show do Salão Oval.

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