Chamado de macaco, menino se recusa a voltar à escola no DF
À coluna, o pai do menino de nove anos detalhou o ocorrido e manifestou o desejo de que a mulher seja punida

À coluna, Marcos Alberto Alves da Silva, 34 anos, detalhou a violência sofrida pelo filho de 9 anos em um jogo de futebol ocorrido no Gama (DF) no último sábado. Naquele dia, ao término da partida, uma mulher desconhecida chamou o menino de “gordo”, “macaco” e “preto”.
Desde o fato, o pai tem se desdobrado para identificar a autora da violência e fazer com que a mulher responda pelos atos. Ele registrou um boletim de ocorrência e a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso como injúria racial.
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Enquanto o pai busca por justiça, a criança transparece a forma como foi afetada pelo ato racista.
O pai conta que, naquele dia, a família acordou animada e tranquila. O dia que era para ser repleto de diversão, porém, tornou-se um pesadelo ao término da partida. Enquanto o pai busca por justiça, o menino transparece as marcas da violência sofrida.
“O jogo ocorreu por volta das 14h. Meu filho teve uns três ou quatro embates. Ele tem um porte físico grande, avantajado. Quando o jogo terminou, fomos reunir as crianças para um lanche e os meninos vieram eufóricos, gritando que ele tinha sido vítima de racismo”, lembrou.
Após o relato das crianças, Marcos contou que uma mãe teria confirmado a versão dos meninos e sinalizado que uma mulher da outra torcida havia xingado o menino.
“Nós fomos procurar por ela, as crianças correram na frente para mostrar quem havia dito e eu fui mais atrás. Quando os meninos perguntaram porque ela havia dito aquilo, ela respondeu que sim, que havia xingado o menino, e ainda disse outras duas palavras que eu não consegui ouvir”, contou o pai, indignado.
Diante da situação, o pai teria se exaltado e ido na direção da mulher para informar que o menino estava na companhia do responsável. “O pessoal da arquibancada achou que eu queria bater nela, então os seguranças cercaram ela e a colocaram para dentro do campo.”
Abalado, o menino teria começado a chorar, sendo acolhido pelos amigos e pela mãe de um dos colegas, que atua como psicóloga. Nervoso e sem condições de agir, Marcos relatou que pediu aos amigos para acionar a Polícia Militar.
“Naquele momento, eu não sabia se dava atenção ao meu filho, se olhava a moça para ela não fugir, se ia para o portão esperar a polícia. Eu queria aquela mulher presa, eu já sabia que esse crime é inafiançável, queria que ela saísse de lá detida.”
O pai alega que cerca de duas horas depois do ocorrido a PM ainda não havia chegado e, em dado momento, o grupo com quem a mulher foi ao jogo se dirigiu para uma van e deixou o local.
“Quando ela saiu, eu decidi ir para a delegacia registrar o boletim de ocorrência, mas me ligaram cerca de sete minutos depois, avisando que a polícia havia chegado. Eles pediram a placa do veículo que ela estava para o interceptarem, mas a gente não tinha”, lamentou.
Abalado
O pai disse que o menino está abalado. Nesse domingo (9/6), em mais uma partida de futebol pelo Capital DF, time pelo qual joga há um tempo, o garoto recebeu o apoio dos amigos, que os abraçaram e fizeram questão de fazer um ato antirracista com o apoio do clube.
“Esse é o segundo campeonato que ele participa. Meu filho joga desde os cinco anos de idade. O sonho dele é dar uma casa para a mãe por meio do futebol”, confidenciou o pai.
Mais tarde, na festa de aniversário da irmã de quatro anos, o menino relutou em aparecer nas fotos, atitude que nunca tinha tido antes.
“Eu conversei com ele. Expliquei que aconteceu e, infelizmente, vai acontecer mais vezes. Mas falei para ele não abaixar a cabeça, que ele não tem culpa de ter esse porte físico, que ele não pode ser violento, mas jogar duro é normal. Ela estava num mau dia, e o problema é dela, mas ele não pode deixar de jogar.”
Na manhã desta segunda-feira (9/6), o menino acordou desanimado, mais uma vez. Decidiu que não queria ir para o reforço, tampouco para a aula normal. O pai o acolheu.
“O que faltou foi rapidez da polícia, porque estavam todas as testemunhas ali, a vítima estava lá e ela, a autora, também. Agora temos que ficar juntando os cacos para a polícia conseguir montar o quebra-cabeça”, reclamou Marcos Alberto.
Ele destacou que a identidade do esposo da autora da violência já foi identificado, mas que o homem nada tem a ver com a atitude da mulher. Agora, Marcos aguarda o andamento das investigações na esperança de ver a punição ser aplicada.
Pronunciamento
O Capital DF se pronunciou sobre o ocorrido. No perfil oficial do time, publicou uma nota lamentando a situação.
“A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Capital repudia com veemência o caso covarde de injúria racial ocorrido no sábado (7), no Centro de Treinamento do Gama; O Capital tomou conhecimento do fato por meio do próprio pai do jogador ofendido e se colocou à disposição para prestar apoio irrestrito no que for preciso”, escreveu o time.
“Uma das características do nosso time e da nossa torcida é serem diversos, heterogêneos, agregadores e abertos a todo cidadão; nos solidarizamos com o atleta e sua família e ressaltamos o compromisso de sempre defendermos que o racismo não tem espaço em nenhum segmento da sociedade e, muito menos, no futebol.”
“Casos como esses não podem ser ignorados e precisam ser investigados e, se for o caso, energicamente punidos. Com racismo não tem jogo. Diga não ao racismo”, finalizou a nota.
Nos comentários do post, pais de outros jogadores, torcedores e pessoas que se compadeceram com a situação deixaram comentários de indignação e revolta.
O outro lado
A mulher apontada como autora da ofensa ainda não teve o nome divulgado pela coluna, pois o caso segue sob investigação da Polícia Civil e ela ainda não foi qualificada, formalmente, como suspeita.
Por ora, a apuração busca esclarecer as circunstâncias e responsabilidades do episódio antes da identificação formal e eventual responsabilização.
O Metrópoles opta por preservar a identidade da suspeita até que haja confirmação oficial por parte das autoridades.
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