Déficit de 941 leitos superlota e trava UPAs e hospitais no DF
Pacientes deveriam ficar, no máximo, 24 horas nas UPAs, mas sem leitos de retaguarda, ficam 20 dias. Isso trava o fluxo de atedimento

A revolta de famílias pela falta de atendimento para crianças nas unidades de pronto atendimento (UPAs) e no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) é resultado da falta de leitos de transição para internação. Segundo o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), atualmente, faltam 941 leitos de retaguarda.
Veja:
As UPAs deveriam atender pacientes em, no máximo, 24 horas e os casos de internação transferidos para leitos de retaguarda.
Poucos dias antes de famílias revoltadas pela falta de atendimento depredarem a UPA de Ceilândia, em 27 de abril de 2025, o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), fez uma diligência na unidade e identificou pacientes internados por 20 dias. A crise é agravada pela temporada de doenças respiratórias, prejudicando principalmente crianças.
A promotora Hiza Carpina, da promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus), ajuizou uma ação civil pública (ACP) na Justiça para forçar o DF a adotar medidas a fim de acabar com o déficit de leitos de transição.
Segundo Hiza, o problema é complexo e demanda medidas de curto, médio e longo prazos. “A gente tem um déficit gigantesco de leito de retaguarda”, alertou. Faltam 584 leitos de clínica médica e 357 de pediatria geral. “O problema não é só contratar pediatrias. Só isso não resolve, porque as condições de trabalho são deletérias”, completou.
“Com os leitos de retaguarda você consegue esvaziar o pronto-socorro e dar giro de leitos. Você consegue fazer com que esse paciente saia do pronto-socorro para o leito, onde precisa estar o atendimento, e não fica represado”, explicou.
Hiza lembrou que a rede pública local acolhe e trata pacientes de outras unidades da Federação. Para a promotora, o DF deveria dialogar com Goiás, com objetivo de definir uma estratégia conjunta para reforçar a assistência. “Quando você deixa um paciente represado na porta. Você nega o direito à saúde para esse paciente”, assinalou.
Não basta novas UPAs
Pelo diagnóstico da presidente do CRM-DF, Lívia Vanessa Ribeiro Gomes Pansera, a estrutura hospitalar do DF é antiga. E apenas a abertura de UPAs não resolve o problema. Além do número de leitos de retaguarda, a rede pública precisa de reforço na Atenção Primária, na visão dela.
“Vimos pacientes internados por 20 dias na UPA de Ceilândia. Os pacientes estavam em leitos improvisados, sem cadeira, sem suporte adequado. Afinal, não eram leitos, eram adaptações”, contou. Lívia Vanessa lembrou que existem leitos de retaguarda bloqueados pela falta de profissionais de saúde nas equipes.
Adoecimento
Segundo o presidente do Conselho Regional de Enfermagem (CRE-DF), Elissandro Noronha, o déficit de leitos está diretamente ligado à falta de servidores. E cada profissional afastado acaba adoecendo os demais profissionais da equipe por sobrecarga de trabalho. Muitos sofrem com burnout, por exemplo.
“A população não sente que tem acesso à saúde. Porque o paciente recebe negativa em todos os pontos da rede. Ele precisa entrar e ser atendido. É preciso garantir o que está na Constituição Federal: o direito à saúde. Falta gestão nos processos de trabalho, recursos humanos e estrutura”, pontuou.
Outro lado
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges/DF) realizou a ampliação de carga horária de profissionais, com pagamento de horas extras nas UPAs 24 horas que apresentam maior demanda, garantindo maior cobertura assistencial nos momentos de pico.
“Diante da sazonalidade em que estamos, esse tempo se estende além do ideal, por questões de superlotações em todas as unidades de saúde e, principalmente, pela necessidade de aguardar uma vaga em leito hospitalar compatível com o perfil clínico do paciente e a disponibilidade do mesmo”, argumentou o Iges.
Segundo o instituto, a permanência média nas UPAs tem sido de até 18 horas para alta médica direto da unidade, considerando o tempo necessário para medicação, observação e reavaliação. Para os casos de transferência para os hospitais de retaguarda ou especializados, a média de permanência está de até 7 dias, enquanto se aguarda a liberação de leitos hospitalares adequados e conforme os critérios clínicos.
O Metrópoles também entrou em contato com a Secretaria de Saúde. Não houve resposta até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto.
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