EUA entram no conflito e atacam instalações nucleares do Irã
Os Estados Unidos entraram diretamente no conflito entre Israel e o Irã, marcando uma nova escalada na região nove dias após o início da campanha militar israelense. Segundo anunciou o presidente americano Donald Trump, bombardeios dos EUA destruíram nas últimas horas três instalações nucleares iranianas, incluindo o complexo subterrâneo de Fordo, que representava um desafio estratégico para os […]


Os Estados Unidos entraram diretamente no conflito entre Israel e o Irã, marcando uma nova escalada na região nove dias após o início da campanha militar israelense. Segundo anunciou o presidente americano Donald Trump, bombardeios dos EUA destruíram nas últimas horas três instalações nucleares iranianas, incluindo o complexo subterrâneo de Fordo, que representava um desafio estratégico para os israelenses.
“Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares do Irã, incluindo Fordo, Natanz e Isfahan. Todos os aviões estão agora fora do espaço aéreo do Irã. Uma carga completa de bombas foi lançada no local principal, Fordo. Todos os aviões estão a caminho de casa em segurança. Parabéns aos nossos grandes guerreiros americanos. Não há outro exército no mundo que poderia ter feito isso”, escreveu Trump na rede Truth Social na noite de sábado (21/06, no horário de Washington; madrugada de 22/06 no Irã).
Em um breve pronunciamento na Casa Branca, Trump também pressionou os iranianos a aceitarem um novo acordo para limitar seu programa nuclear. “O Irã, o tirano do Oriente Médio, deve buscar a paz agora”, disse Trump.
“Se não o fizer, os ataques futuros serão muito maiores e muito mais fáceis”, acrescentou Trump, que estava acompanhado no pronunciamento pelo vice-presidente J.D. Vance, pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth, e pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
Os israelenses, que lançaram sua campanha militar contra o Irã na semana passada, sob a justificativa que o regime de Teerã estaria desenvolvendo armas atômicas, afirmaram que estavam “coordenando completamente” os novos ataques com os EUA.
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que pressionava Trump a se envolver diretamente no conflito, também agradeceu e parabenizou o presidente americano. “Sua decisão ousada de atacar as instalações nucleares do Irã com a força impressionante e virtuosa dos Estados Unidos mudará a história”, disse Netanyahu em uma mensagem dirigida a Trump.
Já o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, alertou em um post na rede X que os ataques dos EUA “terão consequências duradouras” e que Teerã “se reserva todas as opções” para retaliar.
Horas após o anúncio do ataque, mísseis iranianos atingiram áreas no norte e no centro de Israel, deixando pelo menos 16 feridos, de acordo com a imprensa israelense.
Nas horas seguintes ao ataque ao Irã, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU disse no que não detectou nenhum aumento nos níveis de radiação nas imediações das principais instalações nucleares.
“Após os ataques a três instalações nucleares no Irã (…) a AIEA pode confirmar que nenhum aumento nos níveis de radiação fora do local foi relatado até o momento”, publicou o órgão de inspeção nuclear na rede X.
O que se sabe sobre o ataque dos EUA ao Irã
A mídia estatal iraniana confirmou que parte do complexo de Fordo, assim como as instalações nucleares de Isfahan e Natanz, foram atacadas.
Trump evitou fornecer detalhes sobre como foram executados os ataques. A imprensa dos EUA, citando fontes da Casa Branca, relata que a operação empregou seis bombardeios B-2 e dezenas de mísseis disparados a partir de submarinos.
No caso do ataque à instalação nuclear de Fordo, os EUA teriam empregado mais de uma dúzia de bombas GBU-57A/B, conhecida como “destruidora de bunkers, e que pesam mais de 13 toneladas cada e só podem ser lançadas a partir dos bombardeios B-2.
O complexo de Fordo era considerado o principal desafio da campanha israelense lançada em 13 de junho. Construído sob o solo numa remota região montanhosa do Irã, Fordo era considerado impenetrável pelo aparato militar de Israel e especialistas apontavam que apenas os EUA contavam com equipamento capaz de atingir a instalação.
Entrada dos EUA ocorre após Trump enviar sinais contraditórios
Esta é a primeira ação de grande ação militar direta dos EUA contra alvos do Irã em quase quatro décadas.
Antigos aliados, os dois países se tornaram inimigos a partir de 1979, quando o Irã se converteu em um regime fundamentalista islâmico. Nos anos 1980, os EUA chegaram a atacar navios de guerra e plataformas de petróleo iranianas, mas nunca haviam lançado diretamente uma ação militar contra alvos em solo.
O ataque também marca uma reversão nas políticas adotadas por governos anteriores dos EUA, que desde os anos 2010 vinham ceder aos apelos do premiê israelense Benjamin Netanyahu para uma ofensiva militar contra o Irã.
A intervenção direta dos EUA no conflito ocorre após Trump mandar sinais ambivalentes nos últimos dias. Após o início da campanha israelense, membros do governo americano afirmaram que a operação havia sido iniciada unilateralmente pelos israelenses, sem participação dos EUA.
Na última semana, Trump chegou a emitir ameaças contra o regime de Teerã, chegando a especular que os EUA poderiam matar o “líder supremo” iraniano, Ali Khamenei, mas também afirmando que a teocracia poderia obter uma saída negociada. Na quinta-feira, Trump também chegou a afirmar que tomaria uma decisão sobre uma eventual entrada nos EUA em “duas semanas”, no que chegou a ser encarado como uma hesitação e uma abertura para uma solução diplomática.
Uma eventual intervenção também era encarada com oposição entre membros da sua base – uma das promessas de campanha do republicano foi não envolver os EUA em guerras no exterior e adotar uma política externa isolacionista. Em maio, Trump também emitiu sinais de que poderia estar se afastando da sua aliança estreita com os israelenses, ao evitar visitar o país em um giro pelo Oriente Médio e ao contrariar Netanyahu ao anunciar o fim das sanções contra a Síria.
No entanto, o ataque desta madrugada mostra que membros do governo dos EUA que advogavam um ataque contra o Irã prevaleceram. Nesta semana, Trump chegou a desautorizar publicamente sua diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, membro da ala isolacionista do governo, que em março havia afirmado não ver evidências de que o Irã estivesse desenvolvendo uma arma nuclear.
O desafio imposto pelo complexo iraniano de Fordo parece ter desempenhado influência decisiva sobre a entrada dos EUA. Com os israelenses incapazes militarmente de atacar o complexo subterrâneo, só mesmo Washington possuía uma arma que poderia ser capaz de destruir a instalação a partir de um ataque aéreo.
ONU faz alerta e parte da oposição democrata nos EUA critica iniciativa de Trump
Após a entrada dos EUA no conflito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a ação representa uma “escalada perigosa em uma região que já está no limite — e uma ameaça direta à paz e à segurança internacional”.
“Há um risco crescente de que este conflito saia rapidamente do controle — com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo”, declarou Guterres, em nota publicada pela ONU.
Nos EUA, alguns membros da oposição democrata criticaram a iniciativa de Trump, destacando que os ataques foram realizados sem o consentimento do Congresso.
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez afirmou enxergar a decisão de Trump como uma “grave violação” da Constituição e “motivo para impeachment”.
“Por impulso, ele arrisca lançar uma guerra que pode nos prender por gerações”, escreveu a deputada no X.
O deputado Jim McGovern, por sua vez, chamou a situação de “insana”. “Trump acabou de bombardear o Irã sem a aprovação do Congresso, arrastando-nos ilegalmente para uma guerra no Oriente Médio. Será que não aprendemos nossa lição?”
Por sua vez, a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, conclamou todos os lados do conflito entre EUA, Israel e Irã a retomarem negociações, ao mesmo tempo em que insistiu que a segurança internacional estaria ameaçada se o Irã desenvolvesse uma arma nuclear.
“Não se deve permitir que o Irã desenvolva uma arma nuclear, pois isso seria uma ameaça à segurança internacional. Peço a todos os lados que recuem, voltem à mesa de negociações e evitem uma nova escalada”, escreveu Kallas na rede X.
jps (ots)
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