EUA: imigrantes presos são forçados a comer de joelhos “igual a cães”
Relatórios de grupos de defesa apontam que imigrantes foram algemados e amarrados, além de sofrerem com outros abusos em prisões da Flórida

Relatórios dos grupos de defesa Human Rights Watch, Americans foi Immigrant Justice e Sanctuary of the South apontam que imigrantes que estão em uma prisão para “estrangeiros”, em Miami (EUA), foram algemados com as mãos amarradas nas costas e tiveram que se ajoelhar para comer em pratos de isopor “como cães”.
Os relatos, obtidos por meio de entrevistas com os detentos, foram divulgados nessa segunda-feira (21/7) e os episódios aconteceram em três instalações prisionais do estado da Flórida.
Conforme o relatórios, dezenas de homens ficaram presos em uma cela por horas e tiveram o almoço negado até por volta das 19h. Eles permaneceram algemados com a comida em cadeiras à sua frente. “Tínhamos que comer como animais”, disse um detento chamado Pedro.
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Segundo a descrição dos grupos de defesa, o tratamento humilhante por parte dos guardas é comum nas três prisões.
No centro de processamento de serviços de Krome North, no oeste de Miami , detentas eram obrigadas a usar banheiros à vista dos homens detidos e não tinham acesso a cuidados adequados ao seu gênero, chuveiros ou alimentação adequada.
Caixa de gelo
A prisão estava tão além da capacidade, relataram alguns detentos transferidos, que eles foram mantidos por mais de 24 horas em um ônibus no estacionamento. Homens e mulheres eram confinados juntos e liberados apenas quando precisavam usar o único banheiro, que rapidamente entupia.
“O ônibus ficou nojento. Era o tipo de banheiro em que normalmente as pessoas só urinam, mas como ficamos tanto tempo no ônibus e não nos deixaram sair, outros defecaram no banheiro”, disse um homem. “Por causa disso, o ônibus inteiro cheirava fortemente a fezes.”
Quando o grupo foi finalmente admitido na unidade, eles disseram que muitos passaram até 12 dias amontoados em uma sala de admissão gelada que eles batizaram de “la hielera” – a caixa de gelo – sem roupas de cama ou roupas quentes, dormindo no chão frio de concreto.
O relatório aponta que o espaço era tão pouco em Krome, que todos os quartos disponíveis eram usados para acomodar os recém-chegados. “Quando saí, quase todas as salas de visita estavam lotadas. Algumas estavam tão cheias que os homens nem conseguiam sentar, todos tinham que ficar de pé”, disse Andrea, uma detenta.
Detentos brutalizados
Na terceira unidade, o centro de transição de Broward, em Pompano Beach, onde uma mulher haitiana de 44 anos, Marie Ange Blaise, morreu em abril , os detidos disseram que rotineiramente tinham atendimento médico negado ou psicológico adequado.
Alguns sofreram atrasos no tratamento de ferimentos e condições crônicas, além de respostas indiferentes ou hostis da equipe, diz o relatório.
Em um suposto incidente ocorrido em abril na cadeia do centro de Miami, funcionários desligaram uma câmera de vigilância e uma “equipe de controle de distúrbios” brutalizou detentos que protestavam contra a falta de atendimento médico a um deles que estava tossindo sangue. Um detento sofreu uma fratura no dedo.
Todas as três instalações estavam extremamente superlotadas, disseram os ex-detentos, um fator que contribuiu para a decisão da Flórida de construir rapidamente a controversa prisão “Alligator Alcatraz” nos Everglades, destinada a abrigar até 5.000 migrantes indocumentados aguardando deportação.
Aumento nas detenções
O número de detenções por imigração em todo o país era em média de 56.400 por dia em meados de junho, com quase 72% sem antecedentes criminais, de acordo com o relatório. A média diária durante todo o ano de 2024 foi de 37.500, disse a HRW.
Os grupos dizem que os abusos documentados refletem condições desumanas dentro das instalações federais de imigração, que pioraram significativamente desde a posse de Trump em janeiro e a subsequente pressão para aumentar as detenções e deportações.
“A escalada anti-imigrante e as táticas de repressão do governo Trump estão aterrorizando comunidades e destruindo famílias, o que é especialmente cruel no estado da Flórida, que prospera por causa de suas comunidades de imigrantes”, disse Katie Blankenship, advogada de imigração e cofundadora do Sanctuary of the South.
“A abordagem rápida, caótica e cruel de prender e encarcerar pessoas é literalmente mortal e está causando uma crise de direitos humanos que afetará este estado e todo o país nos próximos anos.”
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