Ex acusa sócio da Trisul de desviar R$ 23 milhões para conta do filho
Em petição enviada à Justiça, ex-esposa afirma que sócio da Trisul tenta impedir que ela receba sua quota no divórcio. Ele nega as acusações
A disputa milionária por bens no divórcio envolvendo Michel Esper Saad Júnior, sócio da construtora Trisul, uma das maiores empresas do setor do país, e sua ex-esposa, Valéria Coribelli, reacendeu na Justiça.
Em petição enviada ao tribunal em 2 de dezembro, Valéria alega que o empresário tenta impedir que ela receba sua quota do patrimônio comum, estimada em R$ 100 milhões. Na tentativa de barrar a divisão da fortuna, aponta o documento, o empresário Saad Júnior estaria recorrendo à “possível ocultação e dissipação do patrimônio partilhável”.
Saad Júnior, ainda segundo a petição, teria “desviado um milionário patrimônio para seu filho mais novo, fruto de seu primeiro casamento”. O suposto “desvio” teria sido feito por meio da transferência de R$ 22,8 milhões a título de empréstimo para Victor Esper Saad.
“Ou seja, o cônjuge varão, ao emprestar R$ 22,8 milhões para o filho, zerando todas as suas contas bancárias e aplicações financeiras à época, emprestou dinheiro que não era dele, já que 50% pertencem à autora (no caso, a ex-esposa) que, agora, passados 14 anos (do divórcio), sofre para receber o que é seu”, dizem os advogados de Valéria.
Michel Esper Saad Junior e Valéria Coribelli casaram-se em maio de 1999 sob o regime de comunhão parcial de bens. O casal está separado desde 2012. O divórcio foi decretado em outubro de 2015.
Assinaturas dos sócios
Outra questão levada à Justiça pela ex-esposa de Saad Junior está relacionada às assinaturas dos documentos das empresas incluídas no processo, das quais o empresário é sócio. A lista de companhias inclui, entre outras, a Trisul S.A. e a Trisul Participações S.A.
Nesse caso, os advogados de Valéria apontam que todas as empresas exigem que seus documentos sejam assinados por mais de um diretor (ou sócio) ou por procuradores constituídos pelos altos executivos dessas companhias.
No processo em questão, alega Valéria, os documentos são assinados apenas por Saad Júnior, que “constituiu, sozinho, advogados para representar as empresas nos autos, à revelia dos seus sócios”. Na prática, a ex-esposa questiona até que ponto os sócios do empresário sabem da existência da ação, uma vez que suas assinaturas (ou de procuradores por eles constituídos) não constam no processo.
Bens fora do Brasil
Além disso, a ex-esposa afirma que, “preocupada com a eventual frustração do seu crédito”, realizou pesquisas para localizar bens do executivo no exterior. Tais levantamentos teriam constatado movimentações financeiras e a “constituição de estruturas societárias fora do Brasil”.
Apurou-se, por exemplo, a formação de offshores e holdings, “muitas delas criadas após a sentença de partilha de bens (de 2022), envolvendo Saad Junior, seus filhos Victor e Michel Neto, e os sócios da Trisul, Jorge Cury e Roberto Cury”. Nesse caso, são citadas a Espero Holding LLC, CCS Holding, Lake Mary Capital, CCS Tuscany, CCS Green Vue, entre outras firmas.
Movimentações financeiras
Os levantamentos, destaca a petição, também identificaram movimentações financeiras, como transferências bancárias do filho de Saad Junior para um escritório de advocacia, utilizado na constituição de offshores, além de contas bancárias no Safra National Bank of New York.
Para os advogados de Valéria, a abertura de contas em nome dos filhos de Saad Junior, bem como a suposta criação de sociedades offshore após a sentença de partilha, sugerem uma eventual dissimulação de ativos para evitar a execução da sentença no Brasil.
Diante dessas informações, Valéria pede à Justiça medidas como a regularização das assinaturas das empresas no processo e a nomeação de perito para avaliar o montante em dividendos pagos por essas companhias que cabem à ex-esposa de Saad Júnior.
Contestação
Renato Vasconcellos de Arruda, o advogado do empresário, contestou as informações contidas na petição, em e-mail enviado ao Metrópoles. Na mensagem, ele afirma que Saad Junior “não é titular ou sócio de nenhuma empresa offshore no exterior e não possui ativos financeiros fora do Brasil”.
Arruda acrescenta que, no tocante às ações de direito de família, que tramitam em segredo de Justiça, “por uma questão ética não pode transmitir qualquer informação”. “Finalmente, informo, que dentro do prazo legal, já concedido no processo, as procurações das sociedades lá anexadas serão regularizadas, situação totalmente corriqueira em diversas demandas”.
Também consultada pelo Metrópoles, a Trisul, por sua vez, informou que as questões mencionadas na petição “dizem respeito exclusivamente à esfera pessoal do acionista e devem ser tratadas diretamente com ele e seus advogados, não tendo relação com a empresa”.
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