Ex-RBD Alfonso Herrera alerta para queda da ajuda humanitária na COP
Ator mexicano fala sobre crise humanitária, impactos das mudanças climáticas nos refugiados e emoção de retornar ao Brasil após 19 anos
O ator mexicano Alfonso “Poncho” Herrera, ex-RBD, voltou a Belém após 19 anos, agora em um cenário completamente diferente. Se em 2006 ele esteve na capital paraense diante de um estádio lotado para se apresentar como artista, desta vez retorna como embaixador da Boa Vontade do ACNUR, a agência da ONU para refugiados, para participar da COP30. Segundo ele, o sentimento é de felicidade e responsabilidade. Confira a entrevista completa:
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Poncho falou sobre a importância de debater temas relevantes em painéis na COP30.
“Estou feliz de poder estar em um espaço que dá plataforma a vozes que não estão sendo ouvidas. Como diz o Alto Comissário, ninguém pode ficar para trás. A COP é um espaço para proporcionar medidas que tragam um futuro mais esperançador às pessoas deslocadas pela violência”, afirmou o artista.
Herrera participou de painéis com jovens e representantes de comunidades refugiadas. Para ele, a troca direta com essas vozes é a parte mais transformadora do trabalho. “Me emociona estar em um painel com 300 pessoas, com 150 jovens curiosos para entender o que está acontecendo com os refugiados e como podem ajudar.”
Embaixador do ACNUR há cinco anos, Poncho considera a participação na COP30 uma das experiências mais marcantes de sua trajetória. Ao longo dos dias, dividiu agendas com figuras como o Alto Comissário Filippo Grandi e com lideranças indígenas refugiadas na Amazônia, como Gardenia, venezuelana da etnia Guarayo.
“Conheci histórias duras, de quem teve de fugir da Venezuela, mas também vi soluções criadas por essas mulheres nas comunidades onde vivem. O conhecimento que elas têm é incrível. A única coisa que falta são recursos para colocar tudo em prática”, relatou.
O ator destacou ainda a importância da juventude presente na conferência. “Me dá muita alegria ver jovens interessados, presentes, envolvidos. Isso me deixa feliz.”
Questionado sobre o papel de sua influência como artista, Herrera foi direto: ele não se vê como protagonista, mas como instrumento para amplificar causas urgentes.
“Eu sou apenas um veículo para que essas vozes sejam ouvidas. Os verdadeiros heróis são os profissionais do ACNUR que estão no campo, diariamente, atendendo refugiados, crianças e idosos em situação vulnerável.”
Mudanças climáticas agravam crise dos refugiados
Durante a entrevista, Poncho reforçou a relação direta entre deslocamento forçado e mudanças climáticas. Segundo ele, cerca de 120 milhões de pessoas vivem em situação de refúgio no mundo — número próximo à população do México — e 3/4 delas já sofrem os impactos da crise climática.
“Se um país que acolhe refugiados enfrenta uma catástrofe climática, essas pessoas vivenciam uma dupla vulnerabilidade”, explicou, citando as enchentes no Rio Grande do Sul, em Honduras e áreas de desertificação extrema no México.
Por isso, defende que refugiados sejam incluídos nas políticas públicas ambientais dos países que os acolhem.
Crise humanitária e queda na ajuda internacional
Herrera também alertou para outro agravante: o corte global na ajuda humanitária. Ele conta que visita regularmente campos de refugiados em países como Uganda, Egito, Ucrânia e Honduras, onde testemunha histórias difíceis — muitas envolvendo crianças desacompanhadas.
“Os deslocamentos aumentam no mundo, mas a ajuda humanitária diminui. Isso torna o trabalho cada vez mais complexo. Precisamos ser mais criativos e trabalhar mais duro”, disse.
Em Uganda, ele se emocionou ao ver crianças da idade de seus filhos — 5 e 9 anos — chegando sozinhas aos assentamentos. “Elas se juntam às caravanas para não se sentirem sozinhas. As doações são oxigênio puro para garantir educação e assistência legal.”
No Brasil
Mesmo com agenda intensa na COP30, o ator conseguiu experimentar um pouco da gastronomia local. “Provei cachaça, provei um pouco de peixe típico, mas foi tudo muito rápido porque tivemos muitos painéis.”
Após a conferência, Poncho retorna ao México para retomar projetos pessoais e continuar o trabalho com o ACNUR. Entre os próximos planos estão novas viagens pelo Brasil — incluindo Boa Vista — e missões na Ásia.
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