Gaza segue em colapso humanitário enquanto Israel lida com crise interna e pressões externas

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel No Oriente Médio, o momento é de pressão por parte da comunidade internacional sobre Israel em virtude da crise humanitária em Gaza. Israel permitiu a entrada de ajuda humanitária após mais de dois meses de bloqueio. No entanto, a quantidade ainda é considerada insuficiente. Na terça-feira (20), 93 caminhões […]

May 21, 2025 - 11:30
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Gaza segue em colapso humanitário enquanto Israel lida com crise interna e pressões externas

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

No Oriente Médio, o momento é de pressão por parte da comunidade internacional sobre Israel em virtude da crise humanitária em Gaza. Israel permitiu a entrada de ajuda humanitária após mais de dois meses de bloqueio. No entanto, a quantidade ainda é considerada insuficiente. Na terça-feira (20), 93 caminhões chegaram ao território. A título de comparação, este volume chegava a 600 caminhões diariamente durante o período de cessar-fogo.

Diante da crise humanitária desencadeada em Gaza, o Reino Unido suspendeu as negociações de um acordo de livre comércio com Israel e impôs sanções a colonos da Cisjordânia. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, classificou a situação humanitária em Gaza como “intolerável” e enfatizou que a ajuda precisa chegar ao território “rapidamente”.

O secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy, disse que a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza está prestes a “entrar numa fase sombria” na qual “o governo de Netanyahu planeja expulsar os moradores e permitir que eles recebam uma fração da ajuda de que precisam.

A embaixadora de Israel na Grã-Bretanha, Tzipi Hotovely, foi convocada para prestar esclarecimentos ao Ministério das Relações Exteriores britânico.

Já a União Europeia (UE) anunciou que irá revisar o acordo de associação com Israel. Isso porque o bloco avalia que o governo israelense permitiu a entrada de uma quantidade mínima de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, “uma gota no oceano”, conforme definição de Kaja Kallas, a chefe da diplomacia da UE.

“O que isso diz é que os países veem que a situação em Gaza é insustentável, e o que queremos é realmente ajudar as pessoas, o que queremos é desbloquear a ajuda humanitária para que ela chegue às pessoas”, afirmou Kallas aos jornalistas.


Palestinos tentam receber alimentos doados em uma cozinha, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 19 de maio de 2025.
Palestinos tentam receber alimentos doados em uma cozinha, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 19 de maio de 2025. AP – Jehad Alshrafi

Pressão internacional pode ter efeito interno oposto

Em entrevista à RFI, Yonatan Freeman, professor de Relações Internacionais da Universidade Hebraica de Jerusalém, disse acreditar que os apelos internacionais não têm influência sobre os objetivos da guerra, mas sobre o modo de condução do confronto, a distribuição da ajuda humanitária e também a continuidade das negociações em busca de um acordo. Freeman também avalia que a forte pressão internacional pode ter um efeito oposto internamente em Israel, ou seja, de fortalecer a narrativa e a coesão do governo.

“Acredito que quanto mais a pressão [internacional] aumentar, mais forte o governo vai ficar. Haverá a narrativa de que ‘o mundo todo está contra nós’. E até pessoas de fora da coalizão podem ficar menos críticas. Se você observar as condenações que os países estrangeiros fazem, muitas vezes se referem aos soldados de Israel, e isso é muito caro a todos [no país]. Ou seja, todos esses elementos podem acabar por fortalecer a coalizão de Netanyahu”, analisa.

O Exército é a instituição que conta com o maior percentual de confiança do público, segundo pesquisa divulgada pela Universidade Reichman, de Israel. De acordo com o levantamento, 65% dos entrevistados confiam nas Forças Armadas do país. Em segundo lugar está o presidente de Israel, Isaac Herzog, com 42%; a Promotoria do Estado, 32%; a polícia, 27%; e o Knesset, o Parlamento, com 11%.

Polêmica interna

Há muito debate interno e troca de acusações políticas a partir das declarações de Yair Golan, líder do partido de esquerda Os Democratas. Em entrevista ao canal público Kan, ele disse que “Israel está a caminho de se tornar um Estado pária” e que “um país sensato não luta contra civis, não mata bebês por hobby e não tem como objetivo expulsar populações”.

As declarações foram recebidas com muitas críticas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que os comentários de Golan são “incitação selvagem” e um “libelo de sangue”, expressão que nasceu na Idade Média para definir a acusação falsa de que os judeus usavam sangue de crianças cristãs em rituais religiosos.

O líder da oposição Yair Lapid também criticou Golan, rebatendo alegação de que os soldados israelenses matam bebês. Para ele, a afirmação é “um presente para os inimigos”.

Yair Golan, o autor das declarações polêmicas, serviu nas Forças Armadas de Israel durante 38 anos e chegou ao cargo de vice-chefe do Estado-Maior do Exército. Diante das repercussões, Golan fez uma conferência de imprensa para explicar seus objetivos.

“Eu me referi única e exclusivamente ao governo de Israel, e não ao Exército. Mas eu me recuso a ficar calado quando este governo prejudica o Exército e sua boa reputação. Um governo que afirma que é preciso deixar crianças passarem fome e abandonar reféns. Isso não é legítimo, não é judaico, e não trabalha pelo povo de Israel”, disse.

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João Miragaya, mestre em história pela Universidade de Tel Aviv e co-fundador do podcast ‘Do Lado Esquerdo do Muro’, considera que as declarações de Yair Golan são necessárias.

“Eu entendo que a frase tenha sido equivocada. Mas alguém tem que dizer isso em Israel, e precisa ser alguém importante. Os israelenses não podem ficar à margem do que acontece em Gaza sem debater a questão, principalmente quando o mundo inteiro está vendo”, disse à RFI.

Negociações estagnadas

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que, após uma semana de negociações “intensas” no Catar, não houve qualquer progresso rumo a um acordo. Segundo ele, os membros de alto escalão da equipe regressam a Israel para consultas. Mas um grupo de trabalho israelense permanecerá em Doha.

Durante o Fórum Econômico do Catar, o primeiro-ministro do país, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, declarou que as negociações chegaram a um impasse por “diferenças fundamentais” entre Israel e Hamas.

O Hamas divulgou um comunicado oficial em que afirma que nenhuma negociação séria sobre um cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns ocorreu desde o último final de semana.

“A presença da delegação sionista em Doha é uma tentativa flagrante do [primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu de enganar a opinião pública global”, disse o grupo palestino.

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