Governo Trump enfrenta prejuízos uma semana depois de shutdown
Segundo shutdown sob Trump completou uma semana, deixando militares sem salário e ampliando prejuízos em meio ao impasse no Congresso

O governo dos Estados Unidos completou uma semana de shutdown nessa quarta-feira (8/10). Sem perspectiva de acordo no Congresso, a gestão Trump já esbarra em prejuízos econômicos e operacionais em todo o país. Com recursos federais bloqueados e servidores públicos sem receber, os efeitos atingem desde aeroportos até as Forças Armadas.
A paralisação ocorreu após o Congresso não aprovar o orçamento federal apresentado pelo presidente republicano Donald Trump, para financiar o governo. O prazo expirou às 23h59 de 30 de setembro e as duas propostas em votação no Senado — uma republicana e outra democrata — fracassaram.
O que é shutdown
- Nos Estados Unidos, shutdown é o termo usado para descrever a paralisação parcial do governo federal quando o Congresso não aprova o orçamento. Sem a liberação de recursos, diversos departamentos e agências ficam impedidos de funcionar normalmente.
- Nessas situações, apenas os serviços considerados essenciais, como defesa nacional, hospitais e forças armadas, continuam em operação. Já setores classificados como não essenciais, como museus, parques e parte do funcionalismo público, têm suas atividades suspensas.
- Os servidores afetados podem ser afastados ou obrigados a trabalhar sem garantia de pagamento imediato, ampliando os impactos econômicos e sociais da crise.
- 2018–2019: Trump condiciona o orçamento à construção do muro na fronteira com o México. O impasse provoca o shutdown mais longo da história dos EUA, com 35 dias de paralisação, 800 mil servidores sem salário e prejuízo estimado em US$ 3 bilhões.
- 2025: A disputa em torno de recursos para saúde e programas sociais volta a travar o governo. Cerca de 750 mil servidores estão sem remuneração, em meio a cortes internos e tensões externas.
Crise política e impasse no Congresso
No centro do impasse está a exigência dos democratas de manter recursos para o programa de saúde conhecido como Obamacare. O governo Trump quer postergar essa discussão.
Com isso, quase 1 milhão de servidores federais estão em licença sem pagamento, enquanto outros 700 mil trabalham sem receber. A situação reacende lembranças da paralisação de 2019, quando o atraso de salários levou ao fechamento temporário do espaço aéreo de Nova York.
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Forças Armadas e servidores sem pagamento
Com o shutdown em vigor, os militares podem ficar sem o pagamento previsto para a próxima quarta-feira, 15 de outubro. Nos EUA, os salários das Forças Armadas são pagos quinzenalmente, e o Tesouro não pode emitir a folha sem o orçamento aprovado.
Ao Metrópoles, o jornalista e observador da Casa Branca, Fernando Hessel, analisou a situação como “inaceitável”: as Forças Armadas não deveriam ser arrastadas a uma disputa política doméstica. Ele avalia que a postura de Trump, ao usar o impasse como ferramenta de pressão, agrava a percepção de instabilidade institucional.
Quase 2,3 milhões de servidores federais estão diretamente afetados – cerca de 900 mil foram colocados em licença sem pagamento, enquanto outros 700 mil continuam trabalhando sem receber.
“Na prática, ele está se aproveitando da paralisação para segurar o caixa e reduzir temporariamente a saída de recursos, mas da porta para fora joga a responsabilidade nos democratas”, afirma.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald TrumpReprodução/ TikTok2 de 4
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa com altos líderes militares na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, em 30 de setembro de 2025, em Quantico, VirgíniaAlex Wong/Getty Imagens3 de 4
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa com altos líderes militares na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de QuanticoAndrew Harnik/Getty Images4 de 4
Michael M. Santiago/Getty Images
“Aviões no chão” e transporte aéreo em risco
A Administração Federal de Aviação (FAA) informou que a falta de pessoal causou atrasos em diversos aeroportos, como Las Vegas, Denver e Newark — que atende Nova York. Cerca de 13 mil controladores e 50 mil agentes da Administração de Segurança no Transporte (TSA) continuam trabalhando sem salário.
Segundo o secretário de Transportes, Sean Duffy, o número de faltas entre controladores de tráfego aéreo dobrou desde o início da paralisação, e em algumas regiões as equipes foram reduzidas pela metade. Dados do FlightAware indicam que mais de 4 mil voos foram afetados no início desta semana.
Hessel alerta que “mesmo que o governo reabrisse amanhã, o efeito seria como um tsunami: a onda passa, mas o rastro de destruição aparece depois, com queda de confiança, desvalorização de ativos e retração do consumo”.
Impactos fiscais e na economia real
O IRS, equivalente à Receita Federal norte-americana, afastou mais de 34 mil funcionários — quase metade da equipe — e o prazo de entrega do imposto de renda foi mantido para 15 de outubro. Segundo Hessel, isso preserva artificialmente o caixa federal, enquanto a economia real perde fôlego. “É um colapso fiscal disfarçado de disputa política”, explica.
Além disso, programas federais suspensos travam financiamentos e vendas de casas, enquanto investidores buscam segurança em ativos como ouro. A U.S. Travel Association estima que o setor de viagens perde mais de US$ 1 bilhão por semana, e o prejuízo total pode ultrapassar US$ 7 bilhões.
Impasse político prolongado
Mike Johnson, presidente da Câmara, rejeitou votar um projeto isolado para garantir salários de militares. Ele deve realizar, nesta quinta-feira (9/10), uma reunião privada com os parlamentares republicanos, com o intuito de tentar contornar a paralisação.
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