Lula e Macron, o roto e o esfarrapado perdidos na noite em Paris
Lula e Macron têm tudo a ver: ambos afundaram os seus países em rombos crescentes e são desaprovados pela maioria dos eleitores

Lula e Janja estão em Paris. Eles sempre terão Paris. Eles sempre terão Emmanuel e Brigitte Macron para lhes afagar o ego.
Franceses gostam de brasileiros desde que foram apresentados aos tupinambás, no século XVI, quando ainda nutriam o sonho de estabelecer por aqui uma versão antártica do seu país.
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Para se ter ideia dessa atração fatal dos franceses, o meu amigo Michel de Montaigne, no ensaio “Dos canibais”, comparou a sociedade tupinambá à sociedade europeia e concluiu que os autóctones brasileiros tinham uma organização superior, em matéria de justiça e de equilíbrio.
Montaigne escreveu os seus ensaios no alto da torre do seu castelo, na Dordogne, uma região francesa até hoje muito aprazível, que atrai pintores e escritores.
Eu adoraria escrever sobre os tupinambás no alto de uma torre de um castelo na Dordogne. Talvez enxergasse algo de inspirador neles. Mas tenho de me contentar com o nono andar de um prédio no paulistano Itaim Bibi e a perspectiva limitada fornecida pela geografia infeliz.
A torre de Montaigne me veio à lembrança ao assistir ao videozinho em que Lula e Macron, acompanhados das respectivas, aparecem diante de outra torre, a Eiffel, iluminada em verde e amarelo.
Quando o governo francês organiza a visita oficial de um chefe de Estado, a Torre Eiffel veste as cores do país do visitante. Mas foi ato de simpatia extra no Ano do Brasil na França que os Macron levassem os Lula da Silva ao Trocadéro, depois do jantar no Palácio do Eliseu, para fazer selfie com La Dame de Fer ao fundo.
Sob os eflúvios do jantar palaciano — posso garantir que se comeu e se bebeu muito bem no Eliseu —, Lula disse o seguinte no videozinho:
“Estamos aqui, meia-noite, na Torre Eiffel, Macron e eu, trabalhando para melhorar a França e o Brasil. Nós somos dois países irmãos e, juntos, nós seremos muito mais fortes.”
Paris ainda tem esta magia: a de emprestar aos visitantes um pouco da grandeza dos seus monumentos. Em Paris, dos nossos talentos aos nosso amores, tudo parece maior, mais excepcional, épico até. É claro que, se você já é megalomaníaco, o efeito da ilusão é decuplicado.
Credite-se também à magia parisiense o entusiasmo dos áulicos petistas que fizeram as suas próprias selfies com a Torre Eiffel em verde e amarelo. Eles repetiram, excitadíssimos, que, com Lula, o Brasil estava de volta e que o país havia recuperado o prestígio internacional.
Aqui do Itaim Bibi, longe da Dordogne e de Paris, a visão foi outra: a do roto homenageando o esfarrapado.
Macron é o presidente mais impopular da história recente da França. Hoje, saiu uma pesquisa no jornal Les Echos devastadora para ele. Mostra que a confiança dos franceses no seu presidente baixou para 24%, dois pontos a menos do que no mês passado.
Lula, por sua vez, é desaprovado por 57% dos brasileiros, segundo a última pesquisa Genial/Quaest. Além disso, 66% dos cidadãos não o querem candidato em 2026.
Macron e Lula têm tudo a ver: afundaram os seus países em déficits governamentais crescentes, aumentando a dívida pública e a inflação aos consumidores. Os dois são péssimos administradores e ótimos na arte de escorchar os pagadores de impostos.
A diferença é que os franceses colocarão o esfarrapado no ostracismo em 2027 e os tupinambás talvez acabem não devorando o roto. Tupinambás são uma gente cordial.
PS: no seu terceiro mandato, Lula já gastou mais de R$ 50 milhões em viagens internacionais, como publica hoje o jornalista Rafael Moraes Moura. A conta não inclui essa visita de Estado à França, nem a viagem a Pequim, no mês passado. O Brasil, de fato, voltou.
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