Máfia do ICMS ofereceu créditos fraudados a cervejarias, aponta e-mail

Denúncia do MPSP mostra oferta de créditos de ICMS para Heineken, Kaiser e Ambev. Todas afirmam que compraram créditos legalmente

Sep 23, 2025 - 03:00
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Máfia do ICMS ofereceu créditos fraudados a cervejarias, aponta e-mail

E-mails anexados às denúncias do Ministério Público de São Paulo (MPSP) mostram que as cervejarias Heineken, Kaiser e Ambev receberam ofertas de venda de créditos fraudulentos de ICMS feitas pelos acusados de operar um esquema bilionário de corrupção fiscal na Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Em agosto, a chamada Máfia do ICMS foi alvo de uma operação da Operação Ícaro, do MPSP, que resultou nas prisões do dono da Ultrafarma, Sidney Oliveira, e do executivo da Fast Shop, Mario Otávio Gomes — ambos foram soltos cinco dias depois. Na última sexta-feira (19/9), o MPSP apresentou uma segunda denúncia contra o grupo, que seria liderado pelo auditor fiscal Artur Gomes Silva Neto. 4 imagensDinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoPacotes de dinheiro foram encontrados em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoDinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoFechar modal.1 de 4

Dinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução2 de 4

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Pacotes de dinheiro foram encontrados em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução4 de 4

Dinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução

 

O crédito de ICMS é o valor que a empresa pode descontar do imposto a pagar sobre suas vendas. Ele leva em conta o imposto que já foi pago em etapas anteriores da produção e pode ser usado para compensar outros débitos em operações da própria empresa.

A denúncia do MPSP mostra uma troca de e-mails de junho de 2022, em que um advogado apontado como parte do esquema discute a venda de créditos de ICMS pela Fast Shop a Heineken (veja aabaixo). Não há informações se a transação foi efetivada, mas a cervejaria chegou a enviar os documentos necessários. Também foi discutido que tipo de produto a Fast Shop poderia adquirir da Heineken para viabilizar a cessão do crédito.

As investigações já haviam mostrado que, além de se beneficiar com o esquema, a Fast Shop também fez a revenda de créditos fraudados para outras empresas.

A primeira denúncia apresentada pelo MPSP mostra que a cervejaria Kaiser, que pertence à Heineken, e a Ambev receberam ofertas semelhantes. A Kaiser também é mencionada no e-mail da nova denúncia.

Ao Metrópoles, o grupo alegou que “as aquisições foram realizadas dentro dos parâmetros legais estabelecidos, junto a fornecedores com os quais havia relação comercial legítima no contexto das operações (veja nota completa abaixo)”.

No caso da Ambev, a Fast Shop chegou a cedê-la R$ 40 milhões em créditos de ressarcimento de ICMS-ST. Sobre a transação, a empresa disse que “seguiu toda legislação aplicável em relação ao crédito citado”. Além da cervejarias, as redes varejistas Oxxo e Kalunga também foram citadas como empresas que negociaram créditos com as investigadas.

Entenda o esquema

  • Auditores fiscais da Secretaria da Fazenda são acusados de terem recebido até R$ 1 bilhão de propina para prestar “assessoria contábil criminosa” a varejistas.
  • As empresas recebiam vantagens no ressarcimento do ICMS – medida prevista em lei para devolver valores pagos a mais em produtos que acabaram sendo vendidos por menor valor.
  • O principal operador do esquema foi diretor do setor de “Rede e Comércio Varejista” na Diretoria de Fiscalização da Secretaria da Fazenda de São Paulo, Artur Gomes da Silva Neto.
  • Com auxílio de “comparsas”, o fiscla adiantava os créditos de ICMS e auferia um valor inflado para empresas em troca de propina, segundo denúncia do MPSP.
  • Com o ressarcimento facilitado, as empresas revendiam os créditos de ICMS para outras companhias, de forma legal, como prevê a legislação.
  • Em 12/8, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) deflagrou a Operação Ícaro, que prendeu dois auditores da Receita Federal e empresários.
  • Preso, Artur Neto pediu demissão da Receita Federal e foi exonerado. Outros sete servidores foram afastados, incluindo Marcelo de Almeida Gouveia, que está detido em Tremembé.
  • Os empresários Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e Mário Otávio Gomes, diretor da Fast Shop, cheram a ser presos na mesma operação e foram soltos depois. O dirigente da Fast Shop fechou acordo de colaboração com o MPSP.

Nova denúncia

Além da menção à Heineken, a denúncia apresentada na última sexta (19/9) também traz o nome do advogado Wilson Rogério Constantinov Martins. Segundo o MPSP, ele era responsável por intermediar a revenda dos créditos pela Fast Shop, além de acompanhar as transações com as empresas interessadas.

O advogado trabalhava junto com o auditor Artur Gomes Neto, e aparece em cópia dos e-mails que mencionam a Heineken. A denúncia do MPSP mostra que ele está negociando um acordo de colaboração. Segundo o MPSP, o grupo liderado pelo fiscal teria recebido R$ 383 milhões em propina da Fast Shop.

Grupo Heineken nega irregularidades

Em nota ao Metrópoles sobre as menções a Kaiser, o grupo Heineken nega “qualquer relação com os fatos investigados na Operação Ícaro”. A cervejaria alega que todas as operações de aquisição de créditos ocorreram “em estrita conformidade com a legislação vigente e somente com créditos já homologados pelo Estado de São Paulo”.

“A compra de créditos de ICMS é uma prática legal, comum entre empresas, e regulamentada por legislação específica. Esse modelo é amplamente utilizado no Estado de São Paulo e em outras unidades da federação, sempre com base em créditos, como dito, já homologados pelo Estado, o que pressupõe sua validade e regularidade. As aquisições foram realizadas dentro dos parâmetros legais estabelecidos, junto a fornecedores com os quais havia relação comercial legítima no contexto das operações.

Reforçamos nosso compromisso com a ética, a transparência e o respeito às regras que orientam nossas atividades”.

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