Milei adota tom moderado a afetados por ajuste após série de derrotas
Ainda sob o impacto da derrota eleitoral na província de Buenos Aires, o presidente deixou de lado o estilo agressivo contra os críticos

A 40 dias das eleições, o presidente Javier Milei fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV para apresentar o orçamento público de 2026. O plano mantém o equilíbrio fiscal como regra de ouro, mas ensaia melhorias em Educação, Saúde e Previdência, além de benefícios para pessoas com deficiência — áreas nas quais Milei tem sofrido derrotas no Congresso e perda de popularidade. Apesar do apelo, universitários se preparam para uma grande manifestação nesta quarta-feira (17/).
Ainda sob o impacto da derrota eleitoral na província de Buenos Aires, Milei deixou de lado o estilo agressivo contra os críticos e adotou um tom mais moderado em seu pronunciamento de 15 minutos na noite de segunda-feira (15), no qual, pela primeira vez, não usou a palavra “ajuste”.
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O presidente afirmou que o equilíbrio fiscal é inegociável, mas procurou mostrar preocupação com áreas sensíveis afetadas por sua política de cortes. Ele ressaltou que 85% do orçamento será destinado à Educação, à Saúde e às aposentadorias, garantindo aumentos acima da inflação em 2026.
O orçamento atribui 4,8 trilhões de pesos (R$ 17,7 bilhões) às universidades nacionais, aumenta os gastos com aposentadorias em 5% e com Saúde em 17%, acima da inflação. O gasto com Educação também cresce 8% acima da inflação, e o montante recebido por cada pensionista portador de deficiência aumentará 5% acima da inflação de 2026. O orçamento prevê uma inflação anual de 10,1% para o ano que vem.
Protestos e oposição em destaque
Esses setores estão entre os principais alvos da famosa “serra elétrica” de Milei, que transformou o déficit fiscal em superávit ao cortar 5% do Produto Interno Bruto (PIB) desde o primeiro mês de governo. O presidente afirmou que o pior já passou e admitiu que às vezes se entusiasma demais com o equilíbrio fiscal, destacando que este orçamento apresenta o menor nível de gasto público dos últimos 30 anos em relação ao PIB.
O tom moderado com os críticos e com a oposição, à qual já chamou de “um ninho de ratos”, ocorre após uma série de derrotas legislativas e antes de uma sessão na Câmara de Deputados que vai analisar o veto presidencial à lei de financiamento universitário, à lei de emergência dos hospitais pediátricos e à lei de repasse de verbas da União às províncias.
Enquanto legisladores opositores tentam derrubar os vetos, universitários, com apoio de sindicatos, prometem cercar o Congresso em uma grande manifestação. Milei afirmou ter certeza de que, trabalhando ombro a ombro com governadores, deputados e senadores que querem uma Argentina diferente, “irão conseguir”.
Crise social e dúvidas sobre o orçamento
A postura receptiva de Milei e a súbita preocupação social estão associadas às eleições legislativas de 26 de outubro, cujo resultado definirá o futuro do plano econômico e da governabilidade. O que antes parecia uma vitória certa tornou-se frágil após a derrota por 13,6 pontos na província de Buenos Aires em 7 de setembro, responsável por quase 40% do eleitorado. Por isso, Milei pediu aos argentinos que não joguem “tudo no lixo”, alertando que, se o processo de mudança iniciado não for concluído, todo o esforço realizado terá sido “desperdiçado”.
Mas o apelo não convenceu os reitores das universidades públicas, que consideraram o anúncio como uma iniciativa sem novidades que consolida o ajuste sobre o sistema universitário e científico.
O Conselho Interuniversitário Nacional explicou que os 4,8 trilhões de pesos anunciados equivalem à anualização do que já é recebido até dezembro de 2025, muito abaixo dos 7,3 trilhões necessários para o funcionamento normal do sistema.
Eles ressaltaram que, em outras palavras, o orçamento de 2026 é praticamente igual ao de 2025, um ano em que viviam em perigo, e que a expectativa está no Congresso para manter a lei de financiamento universitário e aprovar, depois, um orçamento razoável para 2026.
No texto do orçamento de 2026, aparecem projeções sobre 2025 que se distanciam da realidade. Por exemplo, prevê-se que o dólar oficial termine o ano em 1.325 pesos, quando, nesta segunda-feira (15), fechou em 1.475 pesos. A inflação acumulada em 2025 seria de 24,5%, mas até agosto já está em 19,5%, crescendo 2% ao mês. O crescimento do PIB ficaria em 5,4%, enquanto consultorias mais otimistas estimam entre 4% e 4,5%.
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