Ministro da Educação recebeu ex-nora de Lula alvo da PF fora da agenda

Carla Ariane é investigada por suposto tráfico de influência na educação. Registro da agenda traz “Presidente Lula” no campo do cargo

Nov 14, 2025 - 15:00
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Ministro da Educação recebeu ex-nora de Lula alvo da PF fora da agenda

A ex-nora do presidente Lula, Carla Ariane Trindade, foi recebida pelo ministro Camilo Santana (PT-CE) em uma reunião fora da agenda no Ministério da Educação no dia 12 de julho de 2024. Nesta quarta (12/11), Carla Ariane foi alvo da Polícia Federal (PF) por suposta participação em um esquema de desvio de verbas da Educação em municípios do interior de São Paulo.

A portaria do ministério registra a entrada de Ariane com destino ao gabinete de Camilo Santana em Brasília, às 12h do dia 12 de julho de 2024. O registro de entrada dela no ministério, obtido via Lei de Acesso à Informação (LAI), traz “Presidente Lula” no campo cargo/função — Carla não tem cargo oficial no governo.

Naquele dia, uma sexta-feira, a agenda oficial de Camilo Santana inclui uma viagem aérea de Fortaleza (CE) a Brasília; e um compromisso pela manhã no Hospital Universitário de Brasília (HUB), ligado à Universidade de Brasília (UnB). Essa agenda no hospital se estendeu das 9h30 às 11h, segundo o registro oficial. Ou seja, Santana estava na capital na hora descrita

Segundo investigações da PF, ela faz parte de um grupo de cinco pessoas supostamente responsáveis por fazer lobby junto ao governo federal para liberar verbas aos municípios do interior de São Paulo. Parte dos repasses eram usados em contratos com a Life Tecnologia Educacional, que fornece equipamentos superfaturados à educação municipal.

Na decisão judicial que autorizou a operação, tanto Carla quanto o lobista Kalil Bittar são descritos como pessoas “com alegada influência no governo federal”. Kalil Bittar é ex-sócio de outro filho de Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, o “Lulinha”.

A decisão que autorizou a Coffee Break é da juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1ª Vara Federal de Campinas (SP). 3 imagensCarla Ariane Trindade, ex-nora de Lula, foi alvo de busca e apreensão Dinheiro apreendido durante operação da PF contra fraude em licitaçõesFechar modal.1 de 3

Fluxograma do esquema de tráfico de influência investigado pela PFOtávio Augusto/ Metrópoles2 de 3

Carla Ariane Trindade, ex-nora de Lula, foi alvo de busca e apreensão Reprodução3 de 3

Dinheiro apreendido durante operação da PF contra fraude em licitaçõesPolícia Federal

O dono da Life, André Mariano, estaria no centro do esquema, e seria responsável pelo pagamento de propina a servidores e lobistas que o ajudavam a arrecadar recursos públicos (imagem acima). Ele teria, inclusive, pago duas viagens da ex-nora do presidente a Brasília.

Carla foi casada por 20 anos com o filho mais velho de Lula, Marcos Cláudio Lula da Silva. Ela teria conhecido André Mariano por meio de um secretário municipal de Hortolândia, Fernando Gomes Moraes, e de Kalil Bittar.

Segundo a PF, o secretário intermediava agendamentos do empresário com ela. Depois disso, o município realizava licitações que eram direcionadas a Life.

O encontro de Carla com o ministro da Educação aconteceu justamente no período em que ela teria sido mais ativa nesse esquema. O inquérito, contudo, não esclarece qual seria o seu grau de influência dela junto ao governo federal, nem se ela teria recebido propina de Mariano.

Para a PF, “a dinâmica dos agendamentos, muitas vezes demonstra que Carla defende os interesses privados de Mariano junto a órgãos públicos, principalmente na busca por recursos e contratos”.

Além disso, no dia 14 de maio de 2024, o próprio André Mariano esteve em Brasília para uma reunião no FNDE sobre “livros paradidáticos, material para alunos e bibliotecas”. Participaram do encontro a então presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba; e Nadja Cezar, coordenadora-geral do FNDE. O encontro está na agenda oficial da autarquia.

Além de André Mariano, também esteve no encontro o lobista Magno Romero, e os representantes de duas outras empresas.

Como funcionava o esquema

  • A investigação aponta que o esquema funcionava pelo menos desde 2021. O ciclo criminoso envolvia três núcleos principais: a Life Tecnologia, na figura de Mariano, agentes públicos e doleiros.
  • Segundo os autos, Mariano obtinha acesso privilegiado a secretários de Educação dos municípios e “criava a demanda” pelos seus produtos. Com isso, o processo licitatório era fraudado para que a Life vencesse os certames, em troca do pagamento de propina aos agentes públicos responsáveis.
  • Segundo a PF, os valores comercializados pela Life chegava a ser 35 vezes maior que o valor de mercado. Um livro comprado por R$ 5 reais era vendido por R$ 80
  • Agentes públicos como os secretários de Hortolândia, Cafu César e Fernando Gomes de Moraes, atuavam para direcionar a vitória da Life, assinar atas de registro de preços e agilizar a liberação e o empenho dos pagamentos dos contratos superfaturados.
  • As investigações mostram que, depois das eleições de 2022, o esquema se intensificou. Mariano passou a apostar na influência de Kalil Bittar no governo federal, e a buscar meios de aumentar sua participação em cidades governadas pelo PT.
  • Para isso, ele recorreu a agendamentos com Carla Ariane, que passou a defender os interesses privados da Life.

Procurado pelo Metrópoles, o Ministério da Educação não se pronunciou a respeito da reunião de 2024 até a publicação desta reportagem. A coluna busca contato com a defesa de Carla Ariane.

Em nota, a Prefeitura de Hortolândia disse que “foi surpreendida com a ação da Polícia Federal” e que as “licitações seguem processos rigorosos”. A Administração Municipal ainda disse que “acompanha os fatos e se coloca à disposição das autoridades para possíveis esclarecimentos”.

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