Morte no metrô: qual a distância entre portas do trem e da plataforma
Morte de Lourivaldo Nepomuceno na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás, fez passageiros questionarem qual a distância entre portas do metrô

São Paulo – O vão entre as portas do trem e da plataforma na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás de metrô, em São Paulo, onde morreu Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, tem entre 28 e 30 centímetros, espaço suficiente para abrigar diversos objetos e até mesmo uma pessoa de compleição física mediana, como foi o caso da vítima. Entretanto, na mesma plataforma, há variações na largura.
A tragédia na linha de metrô fez com que muitos passageiros passassem a observar os vãos em estações com porta de plataforma de um jeito diferente, tentando compreender como uma pessoa poderia caber naquele espaço onde Lourivaldo ficou preso.
O Metrópoles fez a medição entre as portas de trens e a porta de plataforma da Estação Campo Limpo nessa quarta-feira (7/5), dois dias após a morte de Lourivaldo. Foi levada em consideração a largura entre o trilho da porta do trem e a barreira zebrada em amarelo e preto, que avança a partir da porta da plataforma.
Caso seja considerada a distância “porta a porta”, sem a barreira zebrada, então são acrescentados mais 10 cm — ou seja, beiraria os 40 cm.
Levando-se em consideração apenas os 30 cm, dimensão de uma régua escolar, o espaço seria suficiente para receber uma mochila comum de escola ou um calçado número 38 (em linha reta).
Presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô de São Paulo (Aeamesp), Luís Guilherme Kolle afirma que o espaço deveria ser menor, mas faz ressalvas. “Deveria ser um espaço menor. Mas se coloca a parte zebrada muito perto, você acaba entrando no gabarito dinâmico do trem [espaço lateral onde o trem pode tocar]. Ele não entra fixo na plataforma, vem balançando e pode ter um contato do trem com essa parte e causar acidentes”, diz.
Variações
Vale ressaltar que as distâncias entre as portas de plataforma e as portas dos trens são variáveis, inclusive na mesma estação. Como a Campo Limpo foi construída em curva, o vão entre portas pode ser mais estreito em alguns pontos, como ocorre na altura do último vagão no sentido Chácara Klabin, onde a medição apontou 23 cm.
Na mesma Linha 5, na Estação Santo Amaro, a distância da porta do vagão até a barreira zebrada é de 20 cm, chegando até 30 cm, considerando o recuo. Na Linha 3-Vermelha, na Palmeiras-Barra Funda, na plataforma em direção a Corinthians-Itaquera, são 28 cm até o início da porta. Na Jabaquara, na Linha 1-Azul, 21 cm.
Cuidados
O engenheiro afirma que é injusto culpar o passageiro pelo acidente envolvendo a porta plataforma. “Todo mundo que usa metrô já deu uma corridinha para tentar embarcar. O que precisa ser feito é uma nova conscientização dos passageiros para os perigos que é burlar esse sistema”, diz.
O engenheiro afirma que é preciso chamar as pessoas a colaborarem de forma diferente, porque o passageiro atual não é como nas décadas passadas. “Hoje, ele chega com fone de ouvido. Como você vai chamar a atenção do cara? Você tem que chamar a atenção de outras formas”, diz.
Segundo Kolle, é importante olhar para estratégias adotadas em outros lugares como exemplo. “Você tem shopping center que começa a colocar chamativo para ir a uma loja no celular do cara. Por que não faz uma campanha como essa?”, questiona.
O engenheiro também diz que as portas de plataforma são bastante úteis e devem ser mantidas. “Imagina a Sé como é hoje e com plataforma? Não ter pessoa, bolsa, carteira caindo na via. Não vai ter gente querendo se jogar no trem”, diz.
Trauma
Enquanto realizava medições na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás, na quarta, a reportagem do Metrópoles conversava com passageiros e uma das pessoas era próxima da família de Lourivaldo. A comerciante Lindaci Buarque, 39 anos, era amiga de infância do homem que morreu entre o trem e a plataforma.
Lindaci chegou a pensar em usar carro de aplicativo para evitar tomar o metrô na estação onde o amigo morreu. “Foi bem duro. Está sendo bem duro para a família também. A gente esperou a mãe e a irmã chegar da Bahia ontem. Está sendo bem triste, bem duro. Bem chato”, disse.
O que diz a concessionária
A concessionária ViaMobilidade afirma que, desde a adoção das portas de plataformas pelo sistema metroviário em SP, sempre orientou seus clientes sobre o uso seguro desse equipamento por meio de placas, avisos sonoros, luminosos, monitores e campanhas de conscientização nas estações, nos trens em seus canais de comunicação.
“Além dos sensores de fechamento, que já existem e impedem que um trem parta se qualquer porta estiver aberta, a concessionária trabalha em um projeto para a implantação de sensores adicionais de presença”, diz, em nota.
A concessionária afirma que a tecnologia “é muito recente e seu uso no mundo ainda é uma exceção, sendo a concessionária uma das pioneiras na adoção deste tipo de solução. Sua instalação envolve uma série de questões técnicas e testes, razão pela qual sua implantação não é imediata”.
Segundo a concessionária, na linha 5-Lilás, o cronograma prevê concluí-la no primeiro trimestre de 2026, data que pode ser antecipada conforme os resultados dos testes.
Questionado, o Metrô não se manifestou até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto.
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