O alienígena (Parte XXI)
Clauder Arcanjo* Pintura Baco adolescente, de Caravaggio. — Companheiro Acácio?! Silêncio. — Professor Galvino?! Nada de resposta. — Madame Brizolete Hernandes?! Robertão Social?! Goiaba, João Américo?!… Tudo imerso na calmaria. Cá estou, escritor aflito, em busca dos personagens desta pretensa novela, no entanto ninguém dá o ar da sua graça. Desgraça! — Calma, […]


Clauder Arcanjo*
Pintura Baco adolescente, de Caravaggio.
— Companheiro Acácio?!
Silêncio.
— Professor Galvino?!
Nada de resposta.
— Madame Brizolete Hernandes?! Robertão Social?! Goiaba, João Américo?!…
Tudo imerso na calmaria.
Cá estou, escritor aflito, em busca dos personagens desta pretensa novela, no entanto ninguém dá o ar da sua graça.
Desgraça!
— Calma, Clauder Arcanjo, eles não podem ter desaparecido assim. Estavam todos aí no capítulo anterior. Devem ter ido se esconder no alto do Serrote da Rola, tão somente para valorizar as suas participações. Ou, quem sabe, exigirem um pouco mais de presença, de agora em diante, nesta trama que caminha para o seu desfecho, mas não mostrou a que veio. Você há de convir!
— E quem é você que vem tirar um sarro da minha história?
— Sou o seu inconsciente, agora um pouco mais consciente das diatribes que o seu ego vem revelando, seu Arcanjo de província!
— Ih, não estou gostando do que leio! Ou seria do que escuto? Sei lá, tudo me parece tão amalucado que, sinceramente, não sei qual dos verbos seria o mais perfeito.
— Ou, quem sabe, o mais imperfeito, caro escritor? Explico. A narrativa vai e vem, em ondas sem brilho, num vai que não vem tão sem sentido que, desconfio, os personagens devem ter se cansado de esperar. Deram com o pé na estrada de papel, antes que tudo virasse um…
& & &
— Lucas San?!
Profundo silêncio.
— Paulo Bodô?! Zé Aguiar?! Cabo Jacinto Gamão?!
Quem vem lá? Deixe-me apurar bem a vista neste papel.
É o João Américo, lembra, leitor? No final do capítulo passado, ele, segundo o assustado Baltazar do Bozó, surgira pálido como se tivesse visto (ou ouvido) um fantasma. Está lembrando agora?
— Seu João Américo?! O senhor passa bem?
Desmaiou junto aos meus pés, enquanto ao longe se ouvia…
— Uh… Uh….
Não sei, se conseguirei…
Puft.
Mais um corpo estendido no chão desta novela.
*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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