O ALIENÍGENA (PARTE XXXVI)
Clauder Arcanjo* Pintura “O médico”, de Samuel Luke Fildes. Devido a… — Atchim!… … gripe pesada deste escrevinhador de província, não teremos… — Atchim!… … o capítulo de hoje. & & & — Isto não se justifica! Não se justifica! Já soube de casos de escritor arrematar suas tramas no leito, às vascas […]


Clauder Arcanjo*
Pintura “O médico”, de Samuel Luke Fildes.
Devido a…
— Atchim!…
… gripe pesada deste escrevinhador de província, não teremos…
— Atchim!…
… o capítulo de hoje.
& & &
— Isto não se justifica! Não se justifica! Já soube de casos de escritor arrematar suas tramas no leito, às vascas da morte! Não é uma gripezinha que vai…
— Atchim! Quem falou isso?
— Digo, repito e “trepito”. Nunca fugirei de assumir a minha opinião, seu Clauder Arcanjo. Você vem, semana a semana, mantendo todos nós nesta noveleta; e, só por causa de um resfriado, vem agora, perante seu público leitor, dizer seus atchins. Tenha a santa paciência!
— Só poderia ser você, seu Acácio. Companheiro rabugento! Você fala assim porque não sofre minhas…
João Américo, até então metido no seu casaco de silêncio roto, elevou a sua voz de barítono sertanejo:
— Piper in clunibus aliorum est refrigerans.
& & &
Quando eu achava que a situação tendia para um armistício, eis que se metem na prosa uma legião de personagens: Brizolete Hernandes, Nabuco, Goiaba, Lucas San, Robertão Social, Severíssimo Pancão, Baltazar do Bozó, Das Dores, professor Galvino, Gazumba, Belarmino, Raimundo Sacristão, padre Araquento, Samaria Constância, Lau, Federardo, Coronel Jorge, seu Zequinha, dentre outros. Todos reunidos na Praça do Poeta.
— Estou há semanas sem aparecer nesta historieta, e você vem me dizer que está gripadinho. Ora, ora!, seu Arcanjo! — protestou madame Brizó.
— Miau!… Miauuuu!… iau!… — aparteou Nabuco. Que, em linguagem felina, significa: “Vá com a sua doença para a puta que pariu!…”.
— Au, au, au! Auuuu!… — intervém Goiaba. Traduzindo: “Devagar, Nabuco, olha as boas maneiras!”.
— Exigimos respeito. E respeito em literatura, Clauder Arcanjo, significa, antes de tudo, compromisso com os seus personagens — bradou Lucas San.
Robertão Social, Baltazar do Bozó, Das Dores, professor Galvino, Gazumba, Belarmino, Raimundo Sacristão, padre Araquento, Samaria Constância, Lau, Federardo e Severíssimo Pancão, este amassando seguidamente os bagos, disseram em coro:
— Mandou bonito, Lucas San!
— E eu, tão satisfeito com a minha aparição no capítulo anterior! — choramingou Coronel Jorge.
Seu Zequinha, na tentativa de serenar o ambiente, orientou a sua esposa, Maria Djanira:
— Nada que um chazinho de limão com alho não resolva, Maria!
Houve um instante de paz, quando uma jovem se aproximou do centro do assanhamento pedindo:
— Acabei de chegar de São Francisco do Monte, lá de Minas Gerais, pois alguém me falou que eu teria chance de participar de um romance.
— Claro que você terá a sua oportunidade, senhorita…
— Gilvânia, muito prazer. E o senhor, como se chama?
— Porfírio Costabrava Príapo, seu criado. Também conhecido como El Grande.
— Eu sou o Paulo Bodô, o personagem central desta narrativa.
— Personagem central?! Só se for num conto de terror — intrometeu-se Zé Aguiar.
Em pouco tempo, uma grande briga envolveu a todos, apesar da intervenção do Cabo Jacinto Gamão; e uma poeirada braba tomou os céus de Licânia.
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— Atchim!…
Como eu dizia há pouco, este resfriado não…
— Atchim!… Atchim!…
… me dará trégua. E agora muito menos com essa poeira toda.
— Atchim!… Atchim!…
Leitor, nós nos veremos no próximo capítulo.
João Américo, sob o efeito latino da carraspana, observou:
— Influenza in corpore, verbum exanimis.
*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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