O dia em que a Democracia respondeu: a prisão de Jair Bolsonaro
O sábado,22, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso ficará marcado como um dos episódios mais simbólicos da história política recente do Brasil. Para muitos, foi o dia em que a justiça tão esperada, tão cobrada finalmente alcançou quem passou anos acreditando estar acima dela. Para as mulheres insultadas, para as pessoas LGBTQIA+ alvos […]

O sábado,22, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso ficará marcado como um dos episódios mais simbólicos da história política recente do Brasil. Para muitos, foi o dia em que a justiça tão esperada, tão cobrada finalmente alcançou quem passou anos acreditando estar acima dela. Para as mulheres insultadas, para as pessoas LGBTQIA+ alvos de homofobia, para as famílias que choraram seus mortos enquanto ele zombava da Covid-19, para quem sofreu com o ódio institucionalizado, este não foi apenas um fato político: foi uma espécie de reparação moral.
Mas esse sábado também marca um momento histórico: o Brasil vê pela segunda vez um presidente ser preso. A comparação, porém, para por aí, porque as razões que levaram às duas prisões não poderiam ser mais distintas.
Dois presidentes presos: realidades opostas
Em 2018, o Brasil assistiu à prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. Uma prisão posteriormente reconhecida como injusta, baseada em um processo viciado, sem provas materiais, conduzido por um juiz parcial. A anulação completa dos processos pelo Supremo Tribunal Federal e a inocência reconhecida mostram que aquele episódio carregava motivação política, não jurídica.
Diferente disso, a prisão de Jair Bolsonaro ocorre com provas, após investigação extensa que identificou seu envolvimento em tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, ataques ao Estado democrático de direito e violação de medidas judiciais. Não houve improviso, nem perseguição: houve apuração, documentos, delações, perícias, depoimentos, registros e decisões unânimes tomadas em várias instâncias.
Assim, o país vive um fato raro: dois ex-presidentes presos, um injustamente e outro por justiça. Esse contraste revela o amadurecimento das instituições e o recado claro de que, no Brasil democrático, ninguém está acima da lei.
Um legado de agressões e ataques
A prisão de Bolsonaro também dialoga com o seu próprio legado de violência simbólica. Foram anos de atitudes chulas e ofensivas:
xingou mulheres em público, sem recuar ou pedir desculpas;
declarou homofobia abertamente em inúmeras ocasiões;
fez pouco caso da Covid-19 enquanto brasileiros morriam;
promoveu desinformação, desrespeito, ataques à ciência e às liberdades civis;
transformou o discurso de ódio em método, não acidente.
Para quem sofreu diretamente com essas atitudes, a prisão representa não vingança, mas reconhecimento: o país finalmente reagiu.
Os filhos na linha de frente e o tiro pela culatra
E há outro elemento inevitável nesta narrativa: a participação direta de seus filhos na construção e no agravamento da crise que levou Bolsonaro à prisão.
Durante anos, Carlos, Flávio, Eduardo e Renan Bolsonaro foram mais do que “familiares”: eram parte ativa da engrenagem política, de comunicação e de articulação do pai. Estavam na linha de frente e essa centralidade acabou iluminando ainda mais os erros do ex-presidente.
Eduardo atuou nos EUA fazendo campanha contra o Brasil, expondo o país internacionalmente e alimentando suspeitas sobre a atuação da família.
Flávio, ao convocar manifestações contra a prisão do pai, acabou acelerando a execução da ordem judicial já que autoridades identificaram risco de tumulto, fuga e repetição do padrão golpista que marcou o 8 de janeiro.
O caso de Ramagem, que tentou fugir do país, reforçou ainda mais a percepção de risco.
Ou seja: a ânsia dos filhos por protagonismo não apenas desgastou o pai, como deu mais luz aos erros cometidos por ele, contribuindo politicamente e simbolicamente para o desfecho que presenciamos no sábado.
O que este sábado representa para o Brasil
Para muitas pessoas, este dia ficará para sempre na memória. Não apenas por um ex-presidente ter sido preso, mas porque:
vítimas foram reconhecidas,
a lei se impôs,
a democracia se reafirmou,
e um ciclo de impunidade começou a ser rompido.
Nada disso apaga as feridas deixadas. Mas sinaliza que o país está menos disposto a tolerar abusos. A prisão de Bolsonaro não encerra a história ela apenas inaugura um novo capítulo, onde responsabilidade e verdade precisam ser tratadas como pilares.
Se este sábado será lembrado como um divisor de águas, é porque ele mostrou ao Brasil que justiça não é vingança, é coragem.
Sabemos que a semana é decisiva para o processo da trama golpista e que há muitos recursos, mas, há esperança.
Por Joyce Moura
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