Operador usou Rouanet do restauro do Jockey para bancar próprio jornal

Verbas da Lei Rouanet para o restauro do Jockey Club pagou condomínio, luz, seguro e aluguel de empresas ligadas a gestores de contrato

Oct 31, 2025 - 03:00
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Operador usou Rouanet do restauro do Jockey para bancar próprio jornal

A Elysium Sociedade Cultural, associação responsável por gerir R$ 29,2 milhões da Lei Rouanet destinados ao restauro do Jockey Club de São Paulo, usou parte dos recursos para bancar gastos de empresas ligadas ao responsável pela entidade com sede em Goiás.

Entre os beneficiados estão quatro CNPJs ligados ao coordenador-geral da Elysium Sociedade Cultural, Wolney Alfredo Arruda Unes: o jornal A Redação, a Engenho & Arte Participações Eventos Ltda, a Biapó Urbanismo e a imobiliária Sapé. Além das empresas contempladas, os recursos da Rouanet foram usados para pagamento de despesas com restaurante, padaria e hotel com diária de R$ 1.500.

Segundo notas fiscais obtidas pelo Metrópoles, o jornal goiano teve contas de luz e seguro de sua sede em Goiânia no valor de R$ 1 milhão pagos com recursos captados por meio da lei federal de fomento à cultura. O endereço da publicação, rua 94, é o mesmo registrado na conta de luz quitada. A Redação, que tem Wolney Alfredo Arruda Unes como um dos sócios, foi subcontrado pela Elysium para fazer a divulgação do restauro do Jockey.

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Neste ano, o Jockey entrou com um pedido de recuperação judicial, alegando dívidas milionárias de IPTU com a Prefeitura de São Paulo. Na última semana, a Câmara Municipal da capital paulista instaurou uma CPI para investigar suspeitas de gastos irregulares no Jokey.

Jornal A Redação

9 imagensPublicação sobre o Jockey Club no jornal A RedaçãoPagamento do Aluguel no Itaim Bibi com recurso da Lei RouanetNota Fiscal de prestação de serviço da Engenho e Arte Produções para a Elysium com recursos da RouanetPagamento de almoço de R$ 543 em padaria do centro de São PauloPagamentos pela publicação de reportagens no jornal A Redação Fechar modal.1 de 9

Apólice de seguro da sede do jornal A RedaçãoReprodução2 de 9

Publicação sobre o Jockey Club no jornal A RedaçãoReprodução3 de 9

Pagamento do Aluguel no Itaim Bibi com recurso da Lei RouanetReprodução4 de 9

Nota Fiscal de prestação de serviço da Engenho e Arte Produções para a Elysium com recursos da RouanetReprodução5 de 9

Pagamento de almoço de R$ 543 em padaria do centro de São PauloReprodução6 de 9

Pagamentos pela publicação de reportagens no jornal A Redação Reprodução7 de 9

Nota fiscal em nome da Gesto Consultoria, empresa que pertence a Robson Antônio Almeida, diretor Institucional da Elysium Reprodução8 de 9

Nota fiscal de restaurante usada na prestação de contas do Jockey ClubReprodução9 de 9

Sede do jornal A redação em GoiâniaReprodução/Google Maps

 

Pela prestação de contas, não é possível saber por quanto tempo Elysium bancou contas administrativas do jornal. Apesar de estar registrado em Goiânia e cobrir notícias locais, as notas fiscais mostram que a publicação recebeu ao menos R$ 48 mil para publicar “Conteúdos Editoriais” relacionados ao Jockey em uma das suas colunas.

No centro do esquema, está também o irmão de Wolney, João Carlos Arruda Unes, que assina como diretor-presidente de A Redação.

Restaurantes e Hotéis de Luxo

João é diretor da Elysium e aparece nos contratos como coordenador de comunicação da empresa. Ele também é sócio da produtora Engenho & Arte e da imobiliária Sapé, que também prestaram serviços no âmbito da lei federal de fomento cultural.

Enquanto operadores do contrato do Jockey pela Elysium, Wolney e João Unes usufruiram de viagens pelo Brasil, frequentando hotéis de luxo e restaurantes caros. Notas fiscais apresentadas na prestação de contas da Lei Rouanet mostram hospedagens em redes como os hotéis Hilton e jantares regados a vinho e saquê.

Em uma das noites, um dos irmãos gastou cerca de R$ 800 em um restaurante japonês no Itaim. Em outra, ele foi a um espanhol e pediu uma garrafa de vinho de R$ 216. Há gastos ainda com almoço aproximado de R$ 500 em uma padaria italiana de renome no centro da capital paulista.

Além dos dois irmãos, funcionários também foram beneficiados. A Gesto Consultoria e Gestão, do diretor institucional da Elysium, por exemplo, foi contratada por R$ 10 mil para fazer “o acompanhamento institucional e técnico” da execução das obras de restauro do Jockey.

Empresas da Família Unes beneficiadas pela Rouanet:

  • Engenho & Arte Participações Eventos Ltda: empresa de produção cultural de João Arruda Unes que foi contratada pela Elysium para serviços como “elaboração de projetos de restauro e complementares” e “fiscalização dos serviços de restauro” do Jockey. Notas ficais mostram um pagamentos frequentes de R$ 11 mil e R$ 15 mil para a Engenho.
  • Biapó Urbanismo: construtora de Wolney que foi contratada para fazer o restauro de arquibancadas e outras obras dentro do Jockey. Uma das obras executas rendeu à empresa cerca de R$ 200 mil.
  • Sapé: imobiliária de Wolney, ela alugou um apartamento na rua Tabapuã para a Elysium no valor de R$ 5 mil mensais, pagos com recursos oriundos da Rouanet. A empresa também tem como sócios João Carlos Unes e a sobrinha dos irmãos, Débora Perillo Unes.
  • A Redação: jornal de Wolney e João teve contas de luz e o seguro da sua sede pagos com dinheiro oriundo da Rouanet. O portal, que tem foco na cobertura de Goiânia, também foi contratado para publicar notas sobre o Jockey Clube de São Paulo.

Os Perillo

Wolney e João são sócios de Débora Perillo Arruda Unes na construtora Biapó Urbanismo, que também foi contratada pela Elysium. Débora é sobrinha dos irmãos Unes e, supostamente, parente do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Perillo mora em São Paulo e é um dos sócios do Jockey Club. Sua relação com a família Unes foi revelada pelo portal Uol no início de outubro, que também apontou que o ex-governador vem atuando a favor da revisão das dívidas do Jockey.

Perillo nega estar associado às negociações de restauro da instituição e declarou à imprensa que “não tem nenhum relacionamento” com Débora. Em nota, o ex-governador disse que “tentam atribuir a mim a indicação da empresa sendo que, quando me tornei sócio do Jockey, ela já prestava os serviços fazia três anos. Pelo que conheço, a empresa citada é uma das melhores do Brasil do ponto de vista técnico para projetos de restauro”.

Defesas

O Jokey afirma que “os recursos financeiros utilizados nas obras de restauração foram devidamente auditados e fiscalizados”. E que “em relação a recursos oriundos de benefícios fiscais referentes ao restauro do patrimônio histórico tombado da instituição, como no caso da Lei Rouanet, o Jockey informa que prestou todas as informações solicitadas pelas autoridades responsáveis e todas as prestações de contas foram feitas de acordo com as regras legais”.

Segundo a instituição, “o restauro vem ocorrendo a portas abertas, com o público tendo acesso aos progressos e resultados das obras já realizadas ou em andamento, reforçando o compromisso com a total transparência. A entidade reitera o compromisso com a boa-fé processual, conforme demonstrado em todas as manifestações anteriores, e reafirma a plena disposição para eventuais vistorias e esclarecimentos adicionais”.

A reportagem não localizou a defesa da Elysium. O espaço segue aberto para manifestação.

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