Políticos sob ataque: as redes e as ruas contra a PEC da Blindagem

O jogo político brasileiro é complexo e, em geral, pouco transparente. Um exemplo é a chamada PEC da Blindagem, que impede a abertura de processos criminais contra políticos sem autorização do Congresso Nacional. A dinâmica política nesse caso se revela em três dimensões: a institucional, marcada por negociações de bastidor; a digital, que mobiliza a […]

Sep 22, 2025 - 20:30
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Políticos sob ataque: as redes e as ruas contra a PEC da Blindagem

O jogo político brasileiro é complexo e, em geral, pouco transparente. Um exemplo é a chamada PEC da Blindagem, que impede a abertura de processos criminais contra políticos sem autorização do Congresso Nacional. A dinâmica política nesse caso se revela em três dimensões: a institucional, marcada por negociações de bastidor; a digital, que mobiliza a opinião pública em tempo real; e a simbólica, na qual artistas, influenciadores e movimentos culturais conferem densidade moral às disputas.

 

A proposta foi aprovada por 344 votos a favor e 133 contrários na Câmara. Logo em seguida, as redes sociais se encheram de críticas à matéria e aos parlamentares que a apoiaram. Muitos recorreram às próprias redes para explicar seus votos, alguns até pedindo desculpas.

 

Em vídeo, a deputada Silvye Alves (União-GO) afirmou ter sido pressionada e anunciou intenção de deixar o partido. O deputado Pedro Campos (PSB-PE) também recorreu às redes para explicar seu voto. Essa reação evidencia como a opinião pública digital se converte em instrumento de constrangimento imediato.

 

A discussão sobre a PEC somou 1,6 milhão de menções, segundo levantamento da Bites. A publicação da deputada Érica Hilton (PSOL-SP) teve 411 mil curtidas e 5,5 milhões de visualizações contra a proposta. O cantor Caetano Veloso também criticou o projeto, alcançando 297 mil curtidas e 3,1 milhões de visualizações. De acordo com pesquisa da Quaest, 83% das menções coletadas foram negativas à PEC da Blindagem, que nas redes ganhou o apelido de “PEC da Bandidagem”.

 

No domingo (21), a indignação transbordou das telas para as ruas. Em São Paulo, 42,4 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro, 41,8 mil ocuparam a orla de Copacabana, em ato marcado por apresentações artísticas.

 

Essa combinação de redes e ruas gerou impacto direto no Senado. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD-BA), anunciou que pautará a PEC “para sepultar de vez o assunto”. A articulação já reúne maioria para rejeitar a proposta tanto na CCJ quanto no plenário.

 

O episódio revela uma inflexão histórica: a política, antes guiada pelo compasso lento das negociações internas, tornou-se refém do tempo real das redes sociais e das ruas. Hoje, o cidadão conectado não apenas recebe informações, mas cria, compartilha e amplifica narrativas que podem constranger diretamente seus representantes. Surge, assim, uma nova forma de “prestação de contas digital”, em que parlamentares se veem obrigados a reagir à indignação coletiva.

 

Se o Senado enterrar a PEC da Blindagem, como tudo indica, será menos por convencimento interno e mais pela força de uma mobilização virtual e presencial, que redefine os limites da representação. O desafio é compreender se essa nova dinâmica fortalece a democracia, ampliando a accountability dos eleitos, ou se aprofunda uma cultura de instabilidade, em que decisões legislativas oscilam ao sabor da indignação momentânea.

 

Vanessa Marques

Jornalista, professora e palestrante. Mestre em Comunicação pela Universidade de Valência (Espanha) e pós-graduada em Economia e Ciência Política. Atua há 20 anos na comunicação política, sendo 13 anos na Câmara dos Deputados.

 

Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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