Polvo ou golfinho: é possível definir qual animal é mais inteligente?

Os dois animais exibem habilidades impressionantes, mas a inteligência de cada um segue caminhos evolutivos e cognitivos muito diferentes

May 30, 2025 - 02:30
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Polvo ou golfinho: é possível definir qual animal é mais inteligente?

O mar abriga criaturas fascinantes, com habilidades que desafiam o entendimento humano. Golfinhos e polvos são dois dos animais mais conhecidos quando se fala em inteligência no oceano, mas qual deles realmente se destaca?

A inteligência em animais marinhos é um conceito amplo e difícil de mensurar de forma direta. “Não há uma definição única de inteligência aplicável a todas as espécies”, explica Eduarda Pelizzari Camilo, professora de biologia do Colégio Católica de Curitiba.

Segundo ela, pesquisadores das áreas de etologia cognitiva e psicobiologia comparada utilizam testes comportamentais para inferir habilidades cognitivas.

Entre os mais comuns estão os testes de resolução de problemas, como abrir recipientes ou manipular objetos em busca de recompensas, e o teste do espelho, que investiga autoconsciência.

Golfinhos são um dos poucos animais marinhos que passam no teste. Já os polvos não demonstram reconhecimento no espelho, mas exibem habilidades avançadas em memória espacial e resolução de desafios.

Outros critérios analisados envolvem a comunicação e a aprendizagem social, especialmente em espécies que vivem em grupo. “A transmissão cultural de comportamentos, como técnicas de caça, é considerada um forte indicativo de inteligência social”, completa a professora.

O que impressiona na inteligência dos polvos?

Os polvos têm cerca de 500 milhões de neurônios, sendo que mais da metade deles está distribuída nos braços, que funcionam como “cérebros” autônomos.

“Isso já altera a nossa noção de centralidade neural. Esses neurônios não são puramente motores, eles participam de processamento tátil, espacial e até decisório”, afirma o biólogo Fabiano de Abreu Agrela.

Um dos comportamentos mais intrigantes é a capacidade de antecipar soluções. Polvos conseguem abrir potes, escapar de labirintos e simular camuflagem com base no ambiente.

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Além disso, segundo Eduarda, polvos demonstram aprendizagem associativa e não-associativa, formas complexas de adquirir conhecimento. Eles são capazes de associar estímulos a recompensas ou punições, ajustando o comportamento conforme a experiência.

Os animais também apresentam memória espacial refinada e, em alguns casos, aprendem observando outros polvos, algo considerado raro entre invertebrados e que exige atenção seletiva e transferência de informação.

O que destaca os golfinhos em termos de cognição?

Se os polvos se destacam pela autonomia e solução de problemas individuais, os golfinhos brilham no campo da inteligência social.

Com entre 3,5 e 5 bilhões de neurônios, eles têm um córtex cerebral altamente desenvolvido, especialmente nas áreas ligadas à cognição social e à ecolocalização.

“O golfinho desenvolve cultura. Ele ensina comportamentos aos filhotes, organiza caçadas cooperativas e responde a comandos simbólicos”, explica Fabiano. Ele cita como exemplo o uso de esponjas marinhas para proteger o focinho durante a caça, um comportamento aprendido e passado entre gerações.

A comunicação também é um ponto alto. Golfinhos utilizam uma ampla gama de vocalizações, incluindo assobios, estalos e sons pulsados, que possuem diferentes funções comunicativas. “Cada indivíduo desenvolve um assobio exclusivo, uma espécie de ‘nome’, que permite a identificação dentro do grupo”, detalha Eduarda.

Os animais também apresentam imitação vocal, memória de longo prazo e uso integrado de sinais táteis, visuais e sonoros. Saltos e batidas de cauda, por exemplo, ajudam a reforçar vínculos sociais ou coordenar ações em grupo.

Podemos considerar um mais inteligente que o outro?

A resposta depende do tipo de inteligência analisada. “A comparação deve ser realizada com cautela”, ressalta Eduarda, uma vez que os dois animais seguiram caminhos evolutivos muito diferentes.

Enquanto os polvos evoluíram como invertebrados solitários, com um sistema nervoso descentralizado voltado para a exploração do ambiente e a solução de problemas, os golfinhos se desenvolveram em sociedades complexas, com forte ênfase na comunicação, cooperação e transmissão de conhecimento.

“O polvo representa uma forma não vertebrada de inteligência distribuída, adaptativa, voltada para manipulação física, mimetismo e evasão. Já o golfinho expressa uma inteligência vertebrada social, com forte carga emocional, consciência de si e linguagem complexa”, resume o biólogo.

Não se trata de saber quem é mais inteligente, mas sim em que tipo de capacidade cada um se destaca. Se o critério for autonomia, memória espacial e resolução de problemas físicos, o polvo seria o escolhido. Se a comparação envolver comunicação e consciência de identidade e cultura, o golfinho se aproxima mais da inteligência humana.

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