Por que travamos ao começar uma nova série, mesmo gostando do gênero
Bloqueio comum para assistir uma nova série tem relação com o cérebro, excesso de escolhas e saúde mental, explica psiquiatra
Escolher uma série deveria ser simples: o gênero agrada, a indicação é boa, o tempo está livre. Ainda assim, muita gente se vê presa em um impasse silencioso — navega, lê sinopses, assiste trailers e, no fim, desiste antes mesmo do primeiro episódio. Segundo o psiquiatra Adiel Carneiro Rios, esse comportamento não é preguiça nem falta de interesse, mas um reflexo direto de como o cérebro vem sendo estimulado.
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De acordo com o especialista, o consumo frequente de conteúdos curtos e altamente estimulantes condiciona o sistema de recompensa a buscar gratificação imediata. “O cérebro se acostuma a estímulos rápidos, cortes constantes e recompensas instantâneas. Quando encontra uma narrativa mais lenta, que exige atenção e envolvimento progressivo, reage como se fosse esforço demais”, explica. O resultado é a sensação de travamento, mesmo diante de algo que a pessoa sabe que gosta.
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Outro fator decisivo é o excesso de opções. Plataformas com centenas de títulos disponíveis acabam gerando paralisia: quanto mais escolhas, maior a dificuldade de decidir.
“O cérebro entra em sobrecarga e prefere não começar nada a correr o risco de escolher ‘errado’”, afirma Rios.
O alerta aparece quando esse padrão deixa o streaming e invade o resto da vida. Quando se torna difícil iniciar livros, tarefas, projetos, conversas importantes e decisões simples
Esse bloqueio, no entanto, nem sempre está ligado apenas ao ambiente digital. O psiquiatra destaca que, em alguns casos, ele pode estar associado a questões de saúde mental. No transtorno de déficit de atenção, por exemplo, a dificuldade de iniciar tarefas é um sinal clássico de falhas nas funções executivas. Na ansiedade, pensamentos intrusivos ocupam o espaço mental antes mesmo da história começar.
Já na depressão, a redução da capacidade de sentir prazer torna o início de qualquer atividade emocionalmente pesado. Em quadros de burnout, a exaustão é tamanha que até o lazer parece exigir esforço excessivo. Há ainda o perfeccionismo, que transforma uma simples escolha em uma decisão carregada de pressão.
O sinal de alerta aparece quando esse padrão ultrapassa o entretenimento. “Quando a pessoa passa a travar também para iniciar livros, projetos, tarefas do dia a dia ou conversas importantes, e isso vem acompanhado de culpa, frustração e queda na autoestima, é preciso olhar com mais atenção”, diz Rios. Nesses casos, o bloqueio deixa de ser preferência e passa a impactar a qualidade de vida.
Em vez de um episódio, comece com dez minutos. Ensine seu cérebro que iniciar não dói
Como destravar para assistir uma série
Para destravar, a estratégia não é forçar, mas reduzir. O psiquiatra explica que o cérebro responde melhor a pequenos começos. “Em vez de se comprometer com um episódio inteiro, comece com dez minutos. Isso ensina ao cérebro que iniciar não é ameaçador.” Criar um ritual simples, com horário definido e menos distrações, também ajuda. Limitar as opções a duas ou três séries diminui a ansiedade da escolha, assim como evitar o uso simultâneo de outras telas.
Rios reforça ainda a importância de ajustar a expectativa. “Não existe a série perfeita. Existe apenas o ato de começar.” E, se o bloqueio se repete em várias áreas da vida, buscar psicoterapia ou avaliação psiquiátrica é um passo de cuidado, não de fraqueza. “O cérebro tem grande capacidade de reaprender. Com apoio e pequenos passos consistentes, é possível retomar o prazer até nas coisas mais simples.”
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