Presos pela farra do INSS criaram 10 empresas no mesmo endereço no DF
Cícero Marcelino e Samuel Chrisostomo são, respectivamente, assessor e contador da Conafer, instituição investigada por fraudes no INSS
Presos pela Polícia Federal, nesta quinta-feira (13/11), Cícero Marcelino Santos e Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, ambos vinculados à Confederação Nacional dos Agricultores e Empreendedores (Conafer) – instituição investigada na farra do INSS–, criaram diversos CNPJs distintos que operam no mesmo conjunto de endereços na capital da República.
A maior parte dos empreendimentos em nome da dupla, bem como no nome de uma terceira pessoa vinculada à Associação de Aposentados do Brasil (AAB) – outra instituição investigada nas fraudes, – supostamente funcionam na parte superior de um sobrado no Recanto das Emas.
Apesar de os envolvidos terem indicado na Receita Federal o endereço como sede de ao menos 10 empresas – que prometem oferecer desde comércio varejista à locação de carros e atividades de apoio à agricultura, – a fachada do pequeno escritório exibe apenas chamada para dois desses empreendimentos: a Expresso e uma segunda companhia apelidada como Solution.
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Um outro CNPJ pertencente a Samuel Chrisostomo, também nomeado como Solution, supostamente funciona no mesmo local de uma Igreja Evangélica, no Recanto das Emas, registrada em nome de Lucineide dos Santos Oliveira, sócia da Associação dos Aposentados do Brasil.
O Metrópoles esteve no endereço e encontrou apenas a instituição religiosa, erguida entre um centro catequético e um terreno baldio. Apesar disso, segundo dados da Receita Federal, a loja de Samuel está ativa no espaço, configurando a suspeita de ser uma empresa fantasma.
Além de pertencerem a integrantes de instituições diferentes e dividirem um único espaço, essas empresas carregam um outra curiosidade: a maioria tem como contato principal o mesmo endereço de e-mail.
Conheça as empresas dos envolvidos e onde estão localizadas:
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Arte: Gabriel Lucas/Metrópoles
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Convocado a prestar depoimento na CPMI que apura as fraudes do INSS, Cícero Marcelino chegou afirmar que lucrava “uns trocos” com o dinheiro que deveria ser destinado aos aposentados e pensionistas. O homem admitiu, ainda, que abriu empresas para prestar serviços a pedido do presidente da Conafer.
Cícero também contou que recebia planilhas de pagamentos para as entidades da Conafer e os repassava, mas negou conhecer Samuel Chrisostomo, apesar de supostamente conduzir empresas no mesmo local que ele.
Durante a CPMI, as empresas de Cícero foram apontadas como empreendimentos laranja. “A única coisa que estou vendo aqui nesta CPMI é que as pessoas que os sindicatos ajudam são os próprios dirigentes e seus familiares, as empresas dos dirigentes, dos familiares, ou dos laranjas e familiares dos laranjas. E você é um laranja, suas empresas são empresas laranja”, disse a deputada Adriana Ventura (Nov-SP).
Operação
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram, nesta quinta-feira (13/11), nova fase da Operação Sem Desconto, investigação que mira esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. A ação mobilizou equipes em 17 estados e no Distrito Federal.
Ao todo, foram cumpridos 63 mandados de busca e apreensão, 10 mandados de prisão preventiva e diversas medidas cautelares. Entre os presos estão:
- Alessandro Stefanutto – ex-presidente do INSS;
- Antônio Carlos Antunes Camilo, conhecido como “Careca do INSS”;
- Vinícius Ramos da Cruz – presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT);
- Tiago Abraão Ferreira Lopes – diretor da Conafer e irmão do presidente da entidade, Carlos Lopes;
- Cícero Marcelino de Souza Santos – empresário ligado à Conafer;
- Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior – também integrante da Conafer.
Os alvos estão espalhados por Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal.
Como o esquema funcionava
Segundo as investigações, os suspeitos atuavam inserindo dados falsos em sistemas oficiais para incluir beneficiários em associações ou entidades fictícias. A partir disso, eram feitos descontos mensais indevidos diretamente nos pagamentos de aposentados e pensionistas, muitos deles sem qualquer conhecimento sobre as cobranças.
O grupo é investigado por formar organização criminosa voltada à obtenção de vantagens financeiras por meio de estelionato previdenciário, além de corrupção ativa e passiva para facilitar o acesso fraudulento aos sistemas do INSS.
Também há apurações sobre ocultação de patrimônio, supostamente utilizado para dificultar o rastreamento dos valores desviados
O outro lado
O Metrópoles tentou contatar as pessoas mencionadas no texto por meio de e-mail e por telefone, mas não obteve retorno até a última atualização. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
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