Quando o rigor é seletivo: o caso Glauber Braga e os silêncios do Conselho de Ética
Na teoria, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados existe para zelar pela integridade do mandato parlamentar e punir com isenção aqueles que ferem o decoro. Na prática, porém, o que se vê com frequência é um jogo de conveniências. O caso do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que teve a cassação recomendada por […]


Na teoria, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados existe para zelar pela integridade do mandato parlamentar e punir com isenção aqueles que ferem o decoro. Na prática, porém, o que se vê com frequência é um jogo de conveniências. O caso do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que teve a cassação recomendada por 13 votos a 5, escancara um padrão preocupante: o rigor seletivo.
Não se trata de ignorar a gravidade do episódio. Até mesmo aliados do parlamentar reconhecem que houve excesso e que a agressão verbal a um integrante do Movimento Brasil Livre merece punição. O debate está no tamanho da pena. Por que cassar um mandato por um episódio isolado — embora condenável — enquanto tantos outros parlamentares, envolvidos em esquemas milionários de corrupção, rachadinhas, desvio de verbas públicas e até na tentativa de um golpe de Estado, sequer foram representados no mesmo Conselho?
A resposta pode não estar nos autos, mas ressoa nos corredores da Câmara. Glauber Braga é uma voz incômoda. Um deputado que não baixa o tom diante do poder, que confronta o status quo e desafia os interesses ocultos de grupos influentes no Congresso. E quando o incômodo ultrapassa o tolerável, a balança do Conselho, que deveria ser equilibrada, pende com peso contra quem se atreve a desafiá-la.
A seletividade das punições, portanto, não é apenas um reflexo da política de bastidores — é um sintoma de um sistema que tolera mais facilmente a corrupção do que o enfrentamento. Um tapa verbal vira escândalo; um esquema bilionário vira silêncio. As paredes da Câmara têm ouvidos. E sabem que nem sempre é a ética que orienta as decisões, mas os acordos, os interesses e as conveniências de ocasião.
O caso Glauber não é apenas sobre um deputado, é sobre um retrato do Legislativo brasileiro. Um retrato em que a moldura da ética parece bonita, mas esconde rachaduras profundas.
Por Joyce Moura – jornalista
@joycemourarealize
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