Rússia x Ucrânia: Por que o novo encontro de Zelensky com Trump é importante
Após encontro com Putin, Trump se reunirá com Zelensky na segunda-feira O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe nesta segunda-feira (18) o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Washington. O encontro acontece dois dias depois de Trump se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca, e declarar ter visto “grande progresso” em direção ao fim da guerra. Zelensky não estará sozinho. Na reunião, será acompanhado por sete líderes europeus. É a segunda vez que Trump e Zelensky se reúnem desde o início da guerra. O primeiro encontro, realizado em fevereiro, terminou de forma abrupta após o republicano adotar um tom considerado ríspido e pouco diplomático na conversa com o presidente ucraniano. Encontro de Putin e Trump no Alasca Drew Angerer/AFP Trump colocará à mesa a proposta discutida com Putin em Anchorage. Segundo fontes ouvidas pela imprensa americana e europeia, a ideia russa envolve congelar as linhas de frente atuais em troca de reconhecimento internacional da anexação da Crimeia e de áreas ocupadas no Donbas e em Zaporizhzhia. Por que a reunião é importante? A reunião acontece dias depois de Trump se encontrar com Putin. Além disso, terá a presença de líderes europeus e da Otan, o que dá peso inédito às conversas. Quem estará com Zelensky na reunião com Trump: Emmanuel Macron (presidente da França). Keir Starmer (primeiro-ministro do Reino Unido). Friedrich Merz (chanceler da Alemanha). Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia). Mark Rutte (secretário-geral da Otan). Giorgia Meloni (primeira-ministra da Itália). Alexander Stubb (presidente da Finlândia). Diferentemente das negociações anteriores em Bielorrússia e na Turquia, quando a Ucrânia acusou Moscou de usar o diálogo como distração, desta vez o formato se aproxima de uma conferência internacional, nos moldes da diplomacia clássica. Até aqui, cessar-fogos temporários fracassaram. Em 2023, por exemplo, uma pausa de 48 horas para retirada de civis em Bakhmut terminou em novos ataques russos no mesmo dia. Situações como essa tornaram os ucranianos céticos em relação a qualquer trégua sem garantias externas. O encontro em Washington é visto como um grande teste para medir até onde Trump está disposto a pressionar Zelensky e se a Ucrânia aceitará discutir pontos que até agora tratava como inegociáveis. Para Trump, a chance é de transformar uma promessa de campanha em triunfo diplomático. Para Zelensky, o risco é sair de Washington com menos apoio político e militar, caso se recuse a ceder. Se houver avanço, será a primeira vez que Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Otan e Ucrânia se sentam juntos para discutir uma proposta diretamente ligada ao Kremlin. Entre cessar-fogo e acordo de paz, o que se decidir na Casa Branca pode redesenhar não só o futuro da Ucrânia, mas também o equilíbrio de poder na Europa. O que Rússia e Ucrânia querem? Rússia: Putin exige manter a Crimeia e garantir o controle de Donetsk, Lugansk e áreas de Zaporizhzhia, regiões que a Rússia domina em partes. Para o Kremlin, só assim a guerra pode terminar. Ucrânia: Zelensky quer acordo de paz com garantias internacionais, que assegure a soberania do país e impeça novos ataques. Para Kiev, cessar-fogo não garante paz, já que experiências anteriores — como o conflito da Geórgia em 2008 e o próprio Acordo de Minsk de 2015 — mostraram que a Rússia pode retomar as ofensivas mesmo após compromissos formais. Entenda a ocupação russa na Ucrânia Arte/g1 E qual o estado atual das negociações? Donald Trump afirmou que houve “grandes progressos” após sua conversa com Vladimir Putin, mas não deu detalhes sobre os avanços. Já o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, foi além e declarou que Putin teria aceitado oferecer à Ucrânia “garantias de segurança no estilo Otan”, algo que ele classificou como “transformador”. Ainda assim, Witkoff evitou detalhar em que moldes essas garantias seriam implementadas e que compromissos estariam de fato em jogo. Secretário de Estado, Marco Rubio também falou em progresso, mas fez questão de ressaltar os impasses. Ele destacou que tanto a Rússia quanto a Ucrânia terão de fazer concessões para que um acordo de paz seja possível. Do lado ucraniano, o presidente Volodymyr Zelensky falou na manhã deste domingo (17) em tom firme. Ele defendeu a necessidade de “negociações reais” e sugeriu que elas poderiam começar “na linha de frente”, onde a situação é mais urgente. No entanto, deixou claro que sua posição permanece inalterada: a Ucrânia não cederá território à Rússia, mesmo diante da pressão por um cessar-fogo imediato. Por que os EUA entraram na negociação entre Rússia e Ucrânia? Os Estados Unidos, sob Trump, assumiram o posto de principal mediador. O interesse americano é estratégico: Político: Trump prometeu durante a campanha eleitoral que, se chegasse à Casa Branca, acabaria com a guerra no dia seguinte. O republicano usa a mediação para reforçar sua imagem de “pacificador”. Militar: Washingt


Após encontro com Putin, Trump se reunirá com Zelensky na segunda-feira O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe nesta segunda-feira (18) o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Washington. O encontro acontece dois dias depois de Trump se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca, e declarar ter visto “grande progresso” em direção ao fim da guerra. Zelensky não estará sozinho. Na reunião, será acompanhado por sete líderes europeus. É a segunda vez que Trump e Zelensky se reúnem desde o início da guerra. O primeiro encontro, realizado em fevereiro, terminou de forma abrupta após o republicano adotar um tom considerado ríspido e pouco diplomático na conversa com o presidente ucraniano. Encontro de Putin e Trump no Alasca Drew Angerer/AFP Trump colocará à mesa a proposta discutida com Putin em Anchorage. Segundo fontes ouvidas pela imprensa americana e europeia, a ideia russa envolve congelar as linhas de frente atuais em troca de reconhecimento internacional da anexação da Crimeia e de áreas ocupadas no Donbas e em Zaporizhzhia. Por que a reunião é importante? A reunião acontece dias depois de Trump se encontrar com Putin. Além disso, terá a presença de líderes europeus e da Otan, o que dá peso inédito às conversas. Quem estará com Zelensky na reunião com Trump: Emmanuel Macron (presidente da França). Keir Starmer (primeiro-ministro do Reino Unido). Friedrich Merz (chanceler da Alemanha). Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia). Mark Rutte (secretário-geral da Otan). Giorgia Meloni (primeira-ministra da Itália). Alexander Stubb (presidente da Finlândia). Diferentemente das negociações anteriores em Bielorrússia e na Turquia, quando a Ucrânia acusou Moscou de usar o diálogo como distração, desta vez o formato se aproxima de uma conferência internacional, nos moldes da diplomacia clássica. Até aqui, cessar-fogos temporários fracassaram. Em 2023, por exemplo, uma pausa de 48 horas para retirada de civis em Bakhmut terminou em novos ataques russos no mesmo dia. Situações como essa tornaram os ucranianos céticos em relação a qualquer trégua sem garantias externas. O encontro em Washington é visto como um grande teste para medir até onde Trump está disposto a pressionar Zelensky e se a Ucrânia aceitará discutir pontos que até agora tratava como inegociáveis. Para Trump, a chance é de transformar uma promessa de campanha em triunfo diplomático. Para Zelensky, o risco é sair de Washington com menos apoio político e militar, caso se recuse a ceder. Se houver avanço, será a primeira vez que Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Otan e Ucrânia se sentam juntos para discutir uma proposta diretamente ligada ao Kremlin. Entre cessar-fogo e acordo de paz, o que se decidir na Casa Branca pode redesenhar não só o futuro da Ucrânia, mas também o equilíbrio de poder na Europa. O que Rússia e Ucrânia querem? Rússia: Putin exige manter a Crimeia e garantir o controle de Donetsk, Lugansk e áreas de Zaporizhzhia, regiões que a Rússia domina em partes. Para o Kremlin, só assim a guerra pode terminar. Ucrânia: Zelensky quer acordo de paz com garantias internacionais, que assegure a soberania do país e impeça novos ataques. Para Kiev, cessar-fogo não garante paz, já que experiências anteriores — como o conflito da Geórgia em 2008 e o próprio Acordo de Minsk de 2015 — mostraram que a Rússia pode retomar as ofensivas mesmo após compromissos formais. Entenda a ocupação russa na Ucrânia Arte/g1 E qual o estado atual das negociações? Donald Trump afirmou que houve “grandes progressos” após sua conversa com Vladimir Putin, mas não deu detalhes sobre os avanços. Já o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, foi além e declarou que Putin teria aceitado oferecer à Ucrânia “garantias de segurança no estilo Otan”, algo que ele classificou como “transformador”. Ainda assim, Witkoff evitou detalhar em que moldes essas garantias seriam implementadas e que compromissos estariam de fato em jogo. Secretário de Estado, Marco Rubio também falou em progresso, mas fez questão de ressaltar os impasses. Ele destacou que tanto a Rússia quanto a Ucrânia terão de fazer concessões para que um acordo de paz seja possível. Do lado ucraniano, o presidente Volodymyr Zelensky falou na manhã deste domingo (17) em tom firme. Ele defendeu a necessidade de “negociações reais” e sugeriu que elas poderiam começar “na linha de frente”, onde a situação é mais urgente. No entanto, deixou claro que sua posição permanece inalterada: a Ucrânia não cederá território à Rússia, mesmo diante da pressão por um cessar-fogo imediato. Por que os EUA entraram na negociação entre Rússia e Ucrânia? Os Estados Unidos, sob Trump, assumiram o posto de principal mediador. O interesse americano é estratégico: Político: Trump prometeu durante a campanha eleitoral que, se chegasse à Casa Branca, acabaria com a guerra no dia seguinte. O republicano usa a mediação para reforçar sua imagem de “pacificador”. Militar: Washington quer reduzir os gastos bilionários em apoio militar a Kiev, que já ultrapassaram R$ 380 bilhões (US$ 70 bi) desde 2022. Geopolítico: encerrar a guerra fortalece o papel dos EUA como potência indispensável em negociações globais, especialmente diante da influência crescente da China. Esse protagonismo explica por que a reunião será em Washington e não em Genebra ou Viena, cidades tradicionalmente ligadas à diplomacia europeia. Mapa mostra áreas da Ucrânia controladas por tropas da Rússia. BBC Quais territórios estão em disputa Um dos principais impasses da reunião em Washington é a exigência territorial feita por Vladimir Putin. A Rússia condiciona qualquer cessar-fogo ou acordo de paz ao reconhecimento de áreas que hoje estão sob ocupação russa — juntas, elas representam cerca de 20% do território ucraniano. A lista começa pela Crimeia, anexada pela Rússia em 2014 e transformada em base naval estratégica no Mar Negro. Além da importância militar, a península é vista por Moscou como símbolo de “reunificação histórica” com o território russo. Outro ponto central é o Donbas, região que engloba Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Em parte controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014, a área tem grande valor econômico e militar. Putin exige que Kiev retire suas tropas e reconheça oficialmente a soberania russa sobre essas províncias. A Rússia também incluiu nas negociações trechos de Zaporizhzhia, região vital pela infraestrutura energética, e de Kherson, que garante acesso estratégico ao delta do rio Dnieper e ao Mar Negro. Para Moscou, só com a incorporação formal dessas áreas a guerra pode terminar. Já para Kiev, essa proposta é inaceitável. O presidente Volodymyr Zelensky reforça que “ceder território não é uma opção”, já que equivaleria a legitimar a invasão e abriria espaço para novas ofensivas no futuro.
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