'Se você é forte, consegue pegar. Se não for, não pega': palestinos relatam caos e dificuldades para ter acesso a comida
Depoimentos de palestinos mencionam falta de dignidade em entrega de ajuda humanitária mediada por Israel em Gaza. Palestinos invadem centros de ajuda humanitária em Gaza em busca de comida Após quase uma semana de entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza mediada por Israel, palestinos relataram caos, dificuldades e falta de dignidade para terem acesso a comida. "Se você é forte, consegue pegar. Se não for, não pega." Palestinos foram vistos carregando pacotes de ajuda humanitária na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, nesta quinta-feira (29 de maio), próximo a um ponto de distribuição designado por um novo mecanismo dos Estados Unidos para entrega de auxílio. “Estou com fome e quero comer. Não tem farinha, não tem comida, não tem pão, não tem nada em casa. Toda vez que eu vou (buscar ajuda), pego uma caixa, cem pessoas se amontoam em cima de mim, trezentas. Não consigo pegar nada. Só volto pra casa. Antes, a agência (UNRWA) me mandava uma mensagem, eu ia como qualquer pessoa respeitada, pegava (a ajuda) e voltava (pra casa). Agora, não tem nada. Se você for forte, pega (a ajuda); se não for forte, não pega.” Com a retomada limitada da ajuda, as forças israelenses — que agora controlam vastas áreas de Gaza — mantêm a ofensiva, tendo matado 3.901 palestinos desde o colapso de uma breve trégua em meados de março, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Israel afirma que suas operações militares têm como alvo apenas militantes liderados pelo Hamas e acusa o grupo de usar civis como escudo, o que é negado pelo próprio Hamas. A GHF (Gaza Humanitarian Foundation), apoiada por Israel e por seu aliado próximo, os Estados Unidos, declarou que distribuiu cerca de 8.000 caixas de alimentos — o equivalente a 462.000 refeições — desde que Israel flexibilizou, na semana passada, um bloqueio de 11 semanas ao enclave palestino devastado pela guerra. A Organização das Nações Unidas e outras entidades internacionais de ajuda humanitária boicotaram a fundação, argumentando que ela enfraquece o princípio de que a ajuda deve ser distribuída de forma independente das partes em conflito, com base nas necessidades da população. A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, minimizou as críticas ao programa de ajuda, chamando-as de “reclamações sobre o estilo”. Israel afirma que uma vantagem do novo sistema de distribuição é a possibilidade de fazer triagem dos beneficiários nos pontos designados, excluindo qualquer pessoa associada ao Hamas. Em guerra contra o grupo desde outubro de 2023, Israel acusa o Hamas de roubar suprimentos e usá-los para fortalecer sua posição — algo que o Hamas nega. Israel iniciou sua campanha militar em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas contra comunidades do sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou no sequestro de 251 pessoas levadas como reféns para Gaza, segundo números israelenses. A ofensiva israelense já matou mais de 54.000 palestinos, segundo as autoridades de saúde de Gaza, e reduziu grande parte do enclave costeiro densamente povoado a escombros.
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