Tarifas são desafio de política externa e interna (por Leonardo Barreto)
Lula disse que se o caso da invasão do Capitólio tivesse ocorrido no Brasil, o presidente Donald Trump estaria preso

Em entrevista concedida à TV Globo na quinta passada (10), o presidente Lula deixou claro que entende as tarifas impostas pelos Estados Unidos como algo dirigido a ele pessoalmente e ao projeto de construção de um polo alternativo de poder guiado pelo “sul global”.
No seu momento mais exaltado, Lula disse que se o caso da invasão do Capitólio tivesse ocorrido no Brasil, o presidente Donald Trump estaria preso. E completou afirmando que se os empresários prejudicados pelas tarifas defendessem alguma concessão aos Estados Unidos, não poderiam ser chamados de patriotas.
A palavra negociar aparece no discurso, mas envolta de uma reação agressiva e desafiadora marcada pela revelação de que Lula não vê motivo suficiente para buscar contato pessoal com o presidente dos Estados Unidos, pelo menos por enquanto.
A postura adotada por Lula na entrevista misturou política comercial com intenções eleitorais, em consonância com o ministro Fernando Haddad, que fez questão de partir para cima de Tarcísio de Freitas acusando-o de adotar uma postura subalterna em relação a Donald Trump.
Nesse sentido, jornalistas e fontes do governo declaram abertamente que a situação foi um presente dos céus para o presidente, que enfrenta problemas de popularidade e pode, com o surgimento de um inimigo externo, recuperar fôlego.
Trata-se, no entanto, de uma análise com pouco sentido ou, pelo menos, fora de época. Isso porque o resultado desse processo não pode sequer ser tateado ainda.
Toda situação, na medida em que os prejuízos concretos vão sendo conhecidos, pode ser potencialmente muito ruim e ficar perguntando quem ganha e quem perde agora é equivalente a saber que o Brasil está na rota de colisão com um meteoro e ficar se perguntando se isso seria bom para o partido A ou o partido B ao invés de se preocupar em correr para um abrigo.
Como Lula está com o controle na mão, como é ele que precisa defender o cargo, é ele que será responsabilizado se a população passar a sentir os efeitos negativos dessa situação. Em resumo, o que importa politicamente não é como entramos nisso, mas como vamos sair.
Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília
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