TCU investiga desvio de R$ 40 milhões do CFO em esquema de pirâmide

Conselho Federal de Odontologia (CFO) está na mira do TCU após desvio milionário de dinheiro que foi parar em esquema de pirâmide financeira

May 14, 2025 - 05:30
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TCU investiga desvio de R$ 40 milhões do CFO em esquema de pirâmide

O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga um desvio de R$ 40 milhões dos cofres do Conselho Federal de Odontologia (CFO) por meio de um esquema de pirâmide financeira. Ao todo, a operação irregular movimentou cerca de R$ 100 milhões entre 2021 e 2022. Atualmente, há 690 mil profissionais de odontologia no Brasil registrados no CFO, sendo 382 mil cirurgiões-dentistas.

O desvio milionário envolveu diretores e ex-diretores da entidade em repasses à empresa Solstic Capital, Investimentos e Participações Ltda., do empresário Flávio Batel, morto em novembro de 2024. A denúncia obtida pela coluna e apurada pelo TCU aponta o atual presidente do CFO, Cláudio Yukio Miyake, secretário-geral da entidade na época das supostas irregularidades, como “operador financeiro da estrutura empresarial que recebeu os aportes, tendo sido possivelmente o principal articulador para que o CFO investisse recursos públicos na pirâmide financeira da Solstic”.

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Flávio Batel morreu em dezembro, em circunstâncias misteriosas
Denúncia aoTCU pede afastamento de Cláudio Miyake da presidência do CFO
Empresário Flávio Batel, morto em 2024, era dono da Solstic
TCU investiga desvio de recursos do CFO em esquema de pirâmide
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Cláudio Miyake, presidente do CFO, era secretário-geral da entidade Reprodução

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O documento pede “o afastamento cautelar de Cláudio Yukio Miyake da presidência do CFO, bem como de Nazareno Ávila, Ataíde Mendes Aires, Élio Silva Lucas e Roberto de Sousa Pires dos cargos que ainda ocupam no Conselho Federal de Odontologia, considerando que aprovaram as contas dos exercícios em que ocorreram os aportes à Solstic, sendo corresponsáveis pelos danos causados”.

De acordo com as informações levadas ao TCU, o empresário Flávio Batel teria se aproximado de Miyake por intermédio do também empresário Carlos Alberto Kubota, sócio do presidente do CFO no Instituto Educacional União Cultural, em São Paulo. A Solstic Capital, de Flávio Batel, oferecia uma comissão de 5% a cada empresário que atraísse novos investidores, o que teria motivado o convite de Kubota a Miyake.

Lastro financeiro

Depois do início dos aportes do CFO, que se tornou o lastro financeiro do esquema, Batel e Kubota fundaram em sociedade a B-Life Saúde Médica Ltda., empresa destinada ao “fornecimento de serviços de cuidado com a saúde humana, por meio de hospitais, centros médicos hospitalares e clínicas”. A B-Life tinha participação da KHealth LLC, com sede no exterior e representada por Kubota. Em 2022, Batel deixou a sociedade, passando suas cotas para a KHealth.

“A empresa B-Life Saúde Ltda. foi constituída por Carlos Kubota e Flávio Batel em 2022, em um momento em que a pirâmide financeira operada por Batel já demonstrava sinais de colapso. A constituição dessa sociedade levanta sérias suspeitas de que tenha sido criada com o objetivo de facilitar a evasão de divisas, desviando para o exterior recursos públicos investidos indevidamente pelo CFO na Solstic”, aponta a denúncia.

“A empresa estrangeira KHealth LLC, que compunha a estrutura societária da B-Life e tem sede no exterior, aparece como elo estratégico na rede de lavagem de dinheiro sob apuração, indicando que a operação foi concebida para ocultar a origem dos recursos desviados”, prossegue a denúncia.

Com base nesses indícios, as hipóteses levantadas pela denúncia são de que “Batel pode ter sido pressionado ou usado como laranja, já que, mesmo tendo recebido mais de R$ 100 milhões, chegou a passar por dificuldades financeiras”, e que “Kubota pode ter sido o beneficiário final, esvaziando os recursos por meio de suas empresas internacionais, como a KHealth”.

Morte suspeita

O caso toma contornos mais obscuros a partir da morte, em circunstâncias misteriosas, do empresário Flávio Batel, em 13 de novembro de 2024. O laudo de necropsia registrou “causa indeterminada”, mas a denúncia aponta a existência de “suspeitas de suicídio por ingestão de soda cáustica, segundo relatos informais”. Na sequência, em 6 de dezembro de 2024, o então presidente, Juliano do Vale, e o então tesoureiro do conselho federal, Luiz Evaristo Volpato, renunciaram aos cargos.

“O ex-presidente Juliano do Vale e o ex-tesoureiro Luiz Evaristo Volpato, ambos citados, deveriam ter tomado posse no dia 8 de dezembro de 2024 para a continuidade do mandato, mas renunciaram misteriosamente ao cargo antes da posse, no dia 6 de dezembro de 2024. Atualmente, não compõem o Plenário do CFO. Tal saída repentina ocorreu muito próxima da data da morte de Flávio Batel, o que reforça a suspeita de que já havia pleno conhecimento da gravidade dos fatos nos bastidores da autarquia”, diz a documentação recebida pelo TCU.

Com as renúncias, o então secretário-geral Cláudio Miyake assumiu o comando da instituição. Em abril, o CFO emitiu um comunicado interno, assinado por toda a nova diretoria, afirmando que a Solstic Capital havia devolvido R$ 8 milhões do dinheiro supostamente investido e assumido uma dívida no valor de R$ 37 milhões. A nota também informava que o caso havia sido levado ao Ministério Público Federal (MPF) e isentava os integrantes da atual direção das irregularidades apontadas.

“É essencial destacar que todas as decisões administrativas e financeiras relacionadas a este investimento foram formalmente tomadas e executadas pelo então presidente Dr. Juliano do Vale e pelo tesoureiro Luiz Evaristo Volpato, responsáveis diretos pela gestão financeira da autarquia conforme suas atribuições legais e regimentais. As análises técnicas da operação foram conduzidas pela funcionária da tesouraria, que acompanhou todo o trâmite operacional”, afirmou a nota.

“O CFO manifesta profundo pesar ao constatar que a instituição foi vítima de um elaborado golpe financeiro arquitetado pelo Sr. Flávio Batel e suas empresas, conforme evidenciam os fatos documentados na ação judicial e na notícia-crime apresentadas aos órgãos competentes. Conforme apurado, o esquema envolveu a apresentação de falsas credenciais, promessas fraudulentas e uma complexa engenharia financeira com o único objetivo de apropriar-se indevidamente dos recursos da autarquia”, apontou o comunicado.

Sem autorização

A denúncia enviada ao TCU alega que a Solstic Capital, braço da Solstic Advisors, de Batel, não tinha autorização da Comissão de Valores Mobiliários nem do Banco Central para operar com investimentos. A empresa, diz a documentação, atuava na produção de móveis de escritório. “Era uma holding criada por Flávio Batel com o objetivo de montar móveis, mais especificamente cadeiras de escritório. Segundo informações obtidas, havia um contrato dessa holding com o banco Santander, pelo qual Batel importava componentes da China, montava e entregava as cadeiras ao banco, com lucro estimado em 20%”, afirma a denúncia.

A nota da diretoria do CFO confirmou que a empresa não era credenciada para o recebimento dos valores e alegou que sua escolha se deu em um momento de crise provocada pela pandemia da Covid-19, quando “profissionais de todo o Brasil enfrentaram graves dificuldades financeiras e clamavam por linhas de crédito e apoio financeiro”.

“Relatórios da auditoria externa, solicitada pela atual gestão em 2025, confirmam que a Solstic Capital não era habilitada pelo Banco Central ou pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para custódia de depósitos de investidores ou para oferecer remuneração, e que o contrato estava à margem das normas do mercado financeiro. Os extratos mensais emitidos pela própria Solstic, sem correspondência em instituições financeiras oficiais, constituem fortes indícios de estelionato financeiro”, argumentou o CFO, em abril.

Além do afastamento da diretoria do CFO, a denúncia apresentada ao TCU pede a instauração de inquérito para apuração dos crimes de peculato, estelionato, advocacia administrativa, tráfico de influência, formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, prevaricação e desobediência a ordem judicial.

Em contato com a coluna na terça-feira (13/5), o conselho federal emitiu novo comunicado no qual reafirmou a responsabilidade da gestão anterior e disse ter ajuizado uma ação de cobrança junto ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). A entidade também enviou a nota divulgada em abril, sem a data e sem assinatura da diretoria.

Leia abaixo a íntegra das notas do CFO:

“O Conselho Federal de Odontologia esclarece que a mencionada operação foi realizada na gestão anterior, por antigos membros da diretoria, possivelmente vítimas de golpe financeiro. Após tomar posse em dezembro de 2024 e realizar análises criteriosas da documentação disponível, a atual gestão determinou a instauração de auditorias internas e, posteriormente, realizou o ajuizamento de ação de cobrança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (1012194-73.2025.4.01.0000), além da apresentação de notícia-crime ao Ministério Público Federal (PR-DF 00040128/2025). O CFO informa que tem empenhado todos os esforços necessários para auxiliar a Justiça na elucidação do caso e garantir as devidas indenizações, como explicitado no documento anexado.

No período em que a operação financeira foi realizada, o atual presidente, Claudio Miyake, ocupava o cargo de secretário do Conselho, cujas funções são totalmente desvinculadas das decisões e ou atividades financeiras da autarquia. Sendo assim, ele não tinha qualquer ascendência sobre balanços ou prestações de contas.

Confira nota em anexo com as informações completas sobre o caso, de acordo com a cronologia dos acontecimentos.”

“NOTA OFICIAL DE ESCLARECIMENTO – CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) vem a público prestar esclarecimentos detalhados sobre o investimento realizado na empresa Solstic Capital Invest. e Participações Ltda, ocorrido durante a gestão 2018-2021 e 2022 – 2024, e informar as providências jurídicas adotadas para recuperação dos valores.

Para que a situação seja compreendida, traçamos uma linha do tempo que contextualiza os fatos:

CONTEXTO E LINHA DO TEMPO

/2020 (Período da Pandemia):

* A pandemia de COVID-19 impôs severas restrições ao exercício da odontologia em todo o país.;

* Profissionais de todo o Brasil enfrentaram graves dificuldades financeiras e clamavam por linhas de crédito e apoio financeiro.;

* Diversos Conselhos Regionais buscavam soluções locais para auxiliar seus inscritos.

/Segundo semestre de 2020:

* A direção do CFO, por iniciativa do então Presidente, iniciou tratativas com diversas instituições financeiras.;

* O objetivo inicial era estabelecer parcerias que viabilizassem linhas de crédito especiais para profissionais da odontologia, demanda está muito solicitada pelos inscritos de todo o país.;

* Entre as diversas instituições contatadas, o Banco BTG Pactual foi indicado como potencial parceiro que poderia oferecer produtos e serviços financeiros interessantes aos inscritos.

/2021:

* O Sr. Flávio Alexandre Batel Pereira, apresentando-se como interlocutor do banco BTG Pactual, intermediou reuniões na sede do banco em São Paulo, situado na Av. Faria Lima em São Paulo-SP.

* Em 13 de julho de 2021, o então Presidente e o Tesoureiro do CFO celebraram acordo com a Solstic Capital Investimentos e Participações Ltda., representada pelo Sr. Flávio Alexandre Batel Pereira.

* As transferências bancárias realizadas pelo CFO para contas da Solstic Capital, totalizando R$ 40.000.000 ocorreram entre julho e outubro de 2021.

* Desde o primeiro momento, a obrigação contratual da Solstic era repassar imediatamente esses valores para uma conta do CFO no BTG Pactual.

/2022-2023

* Após o não cumprimento dos compromissos assumidos pela Solstic, iniciou-se uma longa sequência de promessas não cumpridas, cronogramas fictícios e justificativas infundadas.

* Solstic devolve ao CFO R$ 8.660.718,11.

* Em 28 de fevereiro de 2023, a Solstic Capital reconheceu formalmente uma dívida de R$ 37.184.518,00 com o CFO em termo de responsabilidade.

* Notificações extrajudiciais foram enviadas em 21 de novembro de 2022 e 08 de dezembro de 2023.

/2024-2025:

* O Sr. Flávio Alexandre Batel Pereira faleceu em 13 de novembro de 2024, em circunstâncias descritas como suspeitas.

* Em 8 de dezembro de 2024 a nova diretoria assume mandato no CFO.

* Em janeiro de 2025, a nova diretoria do CFO toma conhecimento detalhado da situação.

* Foram imediatamente solicitados relatórios completos e aprofundados à superintendência, procuradoria jurídica, setores financeiro e contábil, além de auditoria externa.

* Em abril de 2025, o CFO protocolou ação de cobrança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) e apresentou notícia-crime ao Ministério Público Federal (MPF)

ESCLARECIMENTOS FUNDAMENTAIS

É essencial destacar que todas as decisões administrativas e financeiras relacionadas a este investimento foram formalmente tomadas e executadas pelo então Presidente e Tesoureiro do CFO à época dos fatos, responsáveis diretos pela gestão financeira da autarquia conforme suas atribuições legais e regimentais. As análises técnicas da operação foram conduzidas pelo setor de tesouraria, que acompanhou todo o trâmite operacional.

O CFO manifesta profundo pesar ao constatar que a instituição foi vítima de um elaborado golpe financeiro arquitetado pelo Sr. Flávio Batel e suas empresas, conforme evidenciam os fatos documentados na ação judicial e na notícia-crime apresentadas aos órgãos competentes.

Conforme apurado, o esquema envolveu a apresentação de falsas credenciais, promessas fraudulentas e uma complexa engenharia financeira com o único objetivo de apropriar-se indevidamente dos recursos da autarquia.

Relatórios da auditoria externa confirmam que a Solstic Capital não era habilitada pelo Banco Central ou pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para custódia de depósitos de investidores ou para oferecer remuneração, e que o contrato estava à margem das normas do mercado financeiro. Os extratos mensais emitidos pela própria Solstic, sem correspondência em instituições financeiras oficiais, constituem fortes indícios de estelionato financeiro.

O CFO lamenta que pessoas mal-intencionadas, com objetivos escusos, estejam utilizando este trágico episódio para tentar desestabilizar as entidades representativas da classe odontológica, disseminando informações imprecisas e narrativas distorcidas que não correspondem aos fatos documentados. Tais condutas irresponsáveis visam apenas a promoção pessoal e a deslegitimação dos órgãos de representação profissional, justamente em um momento em que a união da classe é fundamental.

MEDIDAS ADOTADAS

A atual gestão do CFO tomou imediatamente as seguintes providências ao constatar a gravidade da situação:

1. Instauração de apurações internas e solicitação de auditorias específicas;

2. Análise minuciosa dos extratos bancários e da documentação disponível;

3. Protocolo de ação de cobrança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), processo 1012194-73.2025.4.01.0000;

4. Apresentação de notícia-crime ao Ministério Público Federal (MPF), PR-DF 00088282/2025;

5. Requerimento de medidas cautelares urgentes para bloqueio de bens;

6. Implementação de novos procedimentos internos com camadas adicionais de segurança nos processos decisórios financeiros;

7. Processo de concentração de todas as aplicações financeiras em instituições oficiais com garantia governamental.

GARANTIAS À CLASSE ODONTOLÓGICA

É importante ressaltar que, apesar da gravidade da situação, a solidez financeira e administrativa do CFO permitiu que nenhum serviço prestado à classe odontológica fosse prejudicado. Todos os programas e ações finalísticas do Conselho, como fiscalização, ética e aprimoramento profissional, permanecem em pleno funcionamento. O CFO reafirma seu compromisso com a transparência, a responsabilidade fiscal e a boa gestão dos recursos públicos. A instituição continuará envidando todos os esforços necessários para recuperar os valores investidos e responsabilizar todos os envolvidos nas irregularidades apuradas.

A instituição se mantém à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais e se compromete a manter a classe odontológica e a sociedade devidamente informadas sobre os desdobramentos deste caso.

Conselho Federal de Odontologia”

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