Três Graças: ônibus da novela são reais, mas têm trajetos diferentes
Linhas de ônibus tomados por Gerluce, protagonista de Três Graças, existem na vida real, mas fazem trajetos diferentes por São Paulo
As linhas de ônibus usadas por Gerluce (Sophie Charlotte), a protagonista da novela Três Graças, existem de fato e transportam cerca de 16 mil passageiros em média, por dia útil, juntas. Entretanto, os trajetos são diferentes na vida real. O dia a dia da mãe batalhadora da Brasilândia também poderia ser bem mais tranquilo, se promessas para o transporte público paulistano já tivessem sido cumpridas, como se verá ao final da reportagem.
Ao que tudo indica, foram usados trajetos modificados intencionalmente para trazer para as telas lugares marcantes e conhecidos por muitos que vivem em São Paulo. Afinal, trata-se de uma ficção. E, na ficção, até Odete Roitman pode voltar à vida depois de passar horas baleada e inerte em um quarto de hotel.
O trecho central da viagem de Gerluce tem a Linha 805L-10, mas ela não passa pelo Terminal Bandeira, no coração da capital paulista, como sugerem as cenas da novela.
Circular, o ônibus trafega entre a Aclimação e o Terminal Princesa Isabel, nos Campos Elíseos, vizinho da Cracolândia, onde havia a maior concentração de usuários de crack da cidade em um único fluxo —agora estão dispersos em grupos menores pelo centro.
No trajeto rumo à Aclimação, o mais próximo que a 805L-10 passa do Bandeira é o Viaduto Jacareí, onde fica a Câmara de Vereadores. A vista aberta da Praça da Bandeira, com seu emaranhado de gente e carros sob as passarelas, margeando o Anhangabaú, pode ter sido a opção mais atraente e pulsante da cidade.
Em algumas cenas, o ônibus para em ponto no Viaduto Mie Ken, na Rua da Gloria, sobre a Ligação Leste-Oeste. Na vida real, a linha também atravessa a Liberdade, mas passa cerca de 100 metros mais abaixo, no Viaduto Shuhei Uetsuka, na Rua Conselheiro Furtado.
21 imagens



Fechar modal.

Trólebus em frente ao Theatro MunicipalWilliam Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins BorgesWilliam Cardoso/Metrópoles
Comunidade do Iraque, na BrasilândiaWilliam Cardoso/Metrópoles
Brasilândia, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Terminal BandeiraWilliam Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins BorgesWilliam Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins BorgesWilliam Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins BorgesWilliam Cardoso/Metrópoles
Motorista de ônibus na Avenida PaulistaWilliam Cardoso/Metrópoles
Comunidade do Iraque, na BrasilândiaWilliam Cardoso/Metrópoles
Ônibus elétrico a bateria, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Rua Ipiroldes Martins BorgesWilliam Cardoso/Metrópoles
Brasilândia, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Avenida AclimaçãoWilliam Cardoso/Metrópoles
Imagem mostra Avenida Aclimação, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Terminal Bandeira, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Ônibus em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Terminal Bandeira, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Passarela no Terminal Bandeira, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Theatro Municipal, em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
Interior de ônibus em São PauloWilliam Cardoso/Metrópoles
A intenção possivelmente foi mostrar, na ficção, as luminárias japonesas presentes no primeiro e ausentes o segundo.
A volta, então, é completamente distante do Terminal Bandeira. O ônibus percorre toda a Avenida Paulista e desce pela Avenida Angélica, até serpentear em direção ao Princesa Isabel. Diariamente, a Linha 805L-10 leva quase 4.000 passageiros, em média.
Pirituba, não Brasilândia
Gerluce também toma a Linha 8400-10, entre o Terminal Pirituba e a Praça Ramos. Há cenas em que um microônibus com essa inscrição circula por ruas estreitas daquela que seria a Chacrinha, a Brasilândia fictícia da novela, como se fizesse parte do grupo do transporte público paulistano chamado de distribuição, que, simplificadamente, seriam as antigas lotações.
Entretanto, na vida real, os coletivos que fazem essa jornada da 8400-10 entre zona norte e o centro da capital paulista são do tipo “padron”, maiores, integrantes do grupo chamado de estrutural, das grandes linhas. Não por acaso, leva 12 mil passageiros em média, por dia.
Leia também
-
São Paulo
Integrante do PCC, Tubarão é morto em confronto com a polícia em SP
-
São Paulo
Haddad chora em velório e destaca resiliência de fundador do PT morto
-
São Paulo
Justiça manda prender “faria limers” por golpes de quase R$ 40 milhões
-
São Paulo
Tony & Dai: Metrópoles estreia podcast sobre caso da mulher que cortou pênis do marido
A linha também não chega nem a triscar a Comunidade do Iraque, na Brasilândia, onde ficaria o núcleo mais pobre da novela. O mais próximo que a 8400-10 passa da “Chacrinha” é o início da Avenida Fuad Lutfalla, a cerca de três quilômetros de distância.
Durante o horário de pico da manhã, cada viagem da 8400-10 chega a durar, em média, 83 minutos entre o Terminal Pirituba e a Praça Ramos. À tarde, no sentido contrário, são 82 minutos no trajeto completo.
Ao descer ou tomar o ônibus em frente ao Theatro Municipal, no ponto da Praça Ramos, a 100 metros de onde fica o gabinete do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Gerluce também sentiria o mau cheiro na última semana. O lugar fedia à urina, com monumento transformado em banheiro a céu aberto.
Sem metrô, sofre Gerluce
O tormento de Gerluce no transporte público paulistano poderia ser bem menor se a construção da Linha 6-Laranja não tivesse virado uma “novela” sem fim. O projeto do metrô entre o bairro da zona norte e o centro da capital foi anunciado ainda em 2008, com previsão de que seria entregue até 2012. Treze anos depois, a linha ainda segue em obras.
Quando for concluída integralmente, deverá transformar as viagens de cerca de uma hora e meia entre Brasilândia e Estação São Joaquim (relativamente próxima da Aclimação) em apenas 23 minutos. Estima-se que isso ocorra em 2027. A previsão é a de que transporte mais de 630 mil passageiros por dia.
Ao chegar à Estação São Joaquim, Gerluce poderia fazer uma baldeação para Linha 1-Azul e desembarcar na parada seguinte, a Vergueiro. Faria então uma caminhada de cerca de um quilômetro até o local de trabalho, nas proximidades da Rua Safira. Lá, supostamente, ficaria a casa de Arminda, a “dona Cobra” interpretada por Grazi Massafera.
What's Your Reaction?