Vítima salva de tráfico sexual em Mianmar chega ao Brasil: “Trauma”

Brasileira foi levada à Ásia com falsa promessa de emprego, e acabou vítima de exploração sexual em um hotel de Mianmar

Jun 9, 2025 - 20:30
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Vítima salva de tráfico sexual em Mianmar chega ao Brasil: “Trauma”

Uma brasileira foi vítima de tráfico humano e exploração sexual no estado de Karen, em Mianmar. A jovem foi resgatada em 6 de maio por duas organizações que combatem o crime no sudeste asiático, e retornou ao Brasil na noite desse domingo (8/6).

A vítima foi aliciada por uma mulher paulista com uma promessa de emprego na Tailândia, mas foi surpreendida quando chegou em Mianmar. No país asiático, ela ficou sob os poderes de integrantes de máfia chinesa, que teriam subornado agentes da imigração para levarem a vítima sob custódia.

Ela foi mantida em cárcere em um um hotel no estado de Karen por dois meses, antes de conseguir pedir ajuda pelas redes sociais, por meio de mensagens enviadas a pessoas envolvidas com o combate ao tráfico humano. Com fome, e sendo sexualmente explorada, a jovem tinha somente acesso à internet, o que possibilitou o pedido de ajuda.

No local para onde foi levada funciona um complexo chefiado pela máfia chinesa. As vítimas de tráfico humano são forçadas a cometerem golpes cibernéticos em regimes exaustivos, sem receber por isso. 3 imagensTriângulo Dourado, onde ocorre com frequência casos de tráfico humano para fins sexuais ou de aplicação de golpes cibernéticosFechar modal.1 de 3

Estado de Karen, no Mianmar, onde brasileira foi mantida em cárcere privado e sujeita à exploração sexualGoogle Maps/Reprodução2 de 3

O Globo/Reprodução3 de 3

Triângulo Dourado, onde ocorre com frequência casos de tráfico humano para fins sexuais ou de aplicação de golpes cibernéticosGoogle Maps/Reprodução

Resgate em Mianmar

  • O dono do complexo onde a jovem estava afirmou que ela poderia deixar o local caso pagasse pelo transporte que a tiraria dali.
  • O valor (cerca de R$ 4 mil) foi pago por uma das organizações que auxiliaram no resgate da mulher.
  • Após o pagamento, a vítima foi liberada com o próprio passaporte, às 2h30 de 6 de maio, horas depois de pedir ajuda por uma rede social.
  • Segura, e já em um hotel de Mianmar, a jovem contatou a embaixada. Então, começaram os trâmites para repatriar a brasileira.
  • Entidades do estado de origem da mulher reuniram esforços para trazê-la em segurança ao país, afirmou Cintia Meirelles, diretora da The Exodus Road Brasil. A organização é uma das que trabalharam no resgate da jovem.
  • “Foi um trabalho em rede. Trabalhar em rede é o sucesso dos casos, e isso nunca antes aconteceu, dessa forma de velocidade”, disse a especialista em assuntos humanitários.
  • O Metrópoles contatou o Ministério das Relações Exteriores (MRE – Itamaraty), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a Polícia Federal (PF) para solicitar informações sobre como esses órgãos atuaram no resgate da brasileira, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

Repercussão do caso

Além dos traumas que já enfrentou durante o cárcere, a vítima tem enfrentado ainda mais após a repercussão do caso na imprensa, segundo Cintia, que mantém contato com ela. Por isso, e também por segurança, detalhes sobre o caso e sobre a identidade da jovem estão sendo preservados.

“Ela vem de vários traumas e, lidar com mais esse [a exposição], é desnecessário”, destacou a presidente da The Exodus Road Brasil.

Leia também

Operação da PF mira tráfico para exploração sexual

A Polícia Federal deflagrou, na última sexta (6/6), a Operação Double Key, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual, com atuação em Mianmar.

Durante a operação, os agentes prenderam dois cidadãos de origem chinesa, que foram detidos no momento em que desembarcavam no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), em voo procedente do Camboja, também no sudeste asiático. Junto com o Mianmar e o Laos, a região forma o chamado Triângulo Dourado, em que crimes correlatos ao tráfico humano são frequentes.

Segundo a PF, também foram cumpridas medidas cautelares contra uma brasileira, além de mandado de busca e apreensão em sua residência, na cidade de São Paulo.

As investigações apontam que o grupo criminoso, composto majoritariamente por cidadãos chineses legalmente estabelecidos no Brasil, aliciava jovens brasileiras com falsas promessas de emprego no estado de Karen. No local, vem sendo erguidos, nos últimos anos, empreendimentos comerciais como hotéis e cassinos, informou a corporação.

A operação teve início após a PF ser notificada sobre o caso da brasileira que retornou ao país nesse domingo (8/6). O nome da vítima foi incluído na lista de difusão azul da Interpol, a chamada Blue Notice, o que possibilitou sua localização e posterior resgate, segundo a corporação.

“As investigações seguem em curso e os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa e tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual”, diz a PF.

O que diz o Ministério da Justiça e Segurança Pública

Em nota, o MJSP informou que “o procedimento de repatriação é competência do Ministério das Relações Exteriores, por meio da Divisão de Assistência Consular (DAC). Uma vez identificada uma vítima de tráfico de pessoas no exterior, a DAC articula e dialoga com autoridades e/ou Instituições relevantes no país onde se encontra a vítima para apoios como segurança, acolhimento, atendimento médico emergencial etc”.

Conforme o texto, a pasta tem a função de oficiar os órgãos da rede local de assistência no Brasil, tal como o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Localidade e a Defensoria Pública da União (NETP), para um atendimento integral à vítima quando ela já está a caminho do Brasil.

O ministério afirmou ainda que, de maneira geral, atua no monitoramento da adequada execução do Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras de Tráfico Internacional de Pessoas, e prestando apoio sempre que necessário. Segundo a nota, diversas instâncias do poder público brasileiro atuam diretamente com a execução do protocolo.

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