1 ano das enchentes no Rio Grande do Sul (por Mariana Caminha)

Daquelas imagens difíceis de esquecer, as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul completaram um ano na semana passada. Não por coincidência, 2024 foi o ano mais quente já registrado, com a temperatura média global alcançando 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (dados da Organização Meteorológica Mundial).

Há um ano, enquanto assistia aos boletins jornalísticos sobre a tragédia brasileira — na qual milhares de pessoas perdiam suas casas, seus pertences, uma vida inteira —, acompanhava também as redes sociais. Nelas, vi muita gente “caindo na real”. Os efeitos da crise climática finalmente se tornaram mais palpáveis, mais próximos, mais reais.

O renomado climatologista brasileiro Carlos Nobre era um dos entrevistados mais frequentes nos jornais. Em suas falas, destacava que a causa climática é “o maior desafio que, na minha opinião, a humanidade já enfrentou”.

A ação global coordenada entre governos e tomadores de decisão — tão defendida por Nobre — já acontece, mas ainda carece de mais celeridade, mais recursos e, sobretudo, mais vontade política.

Janeiro deste ano foi o mês mais quente já registrado na história, com temperaturas médias 1,75°C acima das observadas no mesmo período no final do século XIX, segundo dados do Observatório Europeu do Clima, da União Europeia.

Entre tudo o que se sabe sobre ação climática, um ponto é consenso: sem investimento, não há solução. Também já está claro que nenhum governo no mundo tem, sozinho, capacidade financeira para cobrir a demanda de ações de mitigação e adaptação. Estamos falando de trilhões de dólares por ano.

O mercado de capitais está atento — e engajado. Investidores ao redor do mundo compreendem que não existe retorno sem estabilidade climática. As chamadas finanças sustentáveis se consolidaram nos últimos anos, e há quem diga que o nosso futuro — o seu e o meu — está nas mãos delas.

Investimentos climáticos em resiliência têm crescido — e com razão. São projetos e ações que nos ajudam a lidar com os efeitos cada vez mais intensos das mudanças do clima. Como no caso das enchentes no Rio Grande do Sul, dos incêndios na Califórnia e de tantos outros eventos extremos ao redor do mundo.

Mas o que são, afinal, esses investimentos em resiliência?

Cidades e comunidades com infraestrutura resiliente contam com estradas mais resistentes, moradias preparadas para enchentes e sistemas que ajudam agricultores a enfrentar longos períodos de seca. Quando desastres ocorrem — de tempestades a ondas de calor —, essa preparação reduz danos, salva vidas e permite uma recuperação mais rápida.

A infraestrutura verde também é uma aliada estratégica. Plantar árvores, restaurar áreas úmidas e criar parques em regiões urbanas ajuda a absorver a água da chuva — reduzindo enchentes — e a resfriar o ambiente durante picos de calor. Diante do ano mais quente já registrado, esse tipo de iniciativa se torna urgente.

Segundo estudo recente da Climate Bonds Initiative, o risco climático e de desastres está aumentando rapidamente. Desde 2005, houve um aumento de 80% no número de pessoas afetadas por eventos extremos. Se seguirmos no ritmo atual, o mundo poderá enfrentar 560 desastres por ano — ou 1,5 por dia — até 2030.

Enquanto isso, os desastres já custam à economia global mais de 330 bilhões de dólares por ano, e os investimentos em resiliência ainda estão perigosamente aquém do necessário – apesar de já sabermos que prevenir é mais barato que remediar.

O futuro, dizem, bate à porta. Mas no caso da crise climática, ele já entrou — e está exigindo ação.]

Próxima Estação – Crônicas Climáticas. Mariana Caminha é jornalista e especialista em estratégias de comunicação voltadas para crise climática e desenvolvimento sustentável.