“A defesa do meio ambiente é tarefa de todos”, defende Roberto Veloso

No Educa Talks, o desembargador abordou cidadania climática, justiça social e papel da educação e da sociedade na preservação do planeta

Oct 16, 2025 - 16:30
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“A defesa do meio ambiente é tarefa de todos”, defende Roberto Veloso

A crise climática deixou de ser um conceito distante para se tornar uma luta cotidiana. As enchentes devastam cidades, as secas prolongadas afetam colheitas e o aumento da temperatura global já ultrapassa o limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. No centro desse cenário, surge um conceito fundamental para a construção de um futuro sustentável: a cidadania climática — a consciência de que cada indivíduo, instituição e governo tem responsabilidade compartilhada diante das mudanças ambientais.

Foi sob essa perspectiva que o Centro Universitário Euroamericano (Unieuro) realizou, na tarde de quarta-feira (15/10), a segunda edição do Educa Talks, com o tema “Rumo à COP30: justiça e cidadania climática”. O debate contou com a participação do desembargador federal Roberto Carvalho Veloso, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, e a mediação da jornalista Vanessa Oliveira.

Promovido em parceria entre o Metrópoles e o Unieuro, o encontro faz parte de uma série de diálogos que conectam ciência, educação e sustentabilidade. A proposta é antecipar discussões essenciais que estarão no centro da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que será sediada em Belém, no Pará, em novembro de 2025.

Justiça e cidadania climática

Ao longo da conversa, Roberto Veloso destacou que “a defesa do meio ambiente é tarefa de todos”, reforçando a dimensão ética e social da cidadania climática. O termo, ainda pouco familiar a grande parte da população, diz respeito ao direito e ao dever dos cidadãos de participar ativamente na proteção ambiental e na formulação de políticas sustentáveis.

Em outras palavras, trata-se de uma nova forma de exercer a cidadania: não apenas votar ou cumprir obrigações civis, mas também adotar atitudes cotidianas e cobrar ações públicas que reduzam o impacto humano sobre o planeta. Retrato do magistrado sorrindo, vestindo terno escuro e gravata azul, com fundo de madeira e planta verde decorativa.Roberto Veloso comenta a importância da conciliação preventiva em questões ambientais

Nesse contexto, a justiça climática complementa o conceito, ao reconhecer que os efeitos da crise climática não são distribuídos de forma igualitária. Populações mais pobres, mulheres, comunidades indígenas e quilombolas estão entre os grupos mais vulneráveis aos desastres ambientais.

“Hoje o sistema de justiça tem um papel que vai além do julgamento de processos. É preciso promover conciliação e diálogo entre instituições. Executivo, Legislativo e Judiciário precisam se comunicar para que o país avance em soluções concretas. O movimento preventivo de conciliação nasce para evitar danos antes que eles aconteçam.”Roberto Carvalho Veloso, Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região

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A Amazônia como palco do futuro

Ao comentar a escolha de Belém como sede da COP-30, o desembargador lembrou a importância simbólica e geográfica da região: “A escolha foi muito feliz. Belém está no coração da Amazônia, entre os rios Amazonas e Tocantins. É uma cidade que representa o Brasil diante do mundo. Temos ecossistemas diversos — Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampas — e, com eles, a responsabilidade de preservar o que ainda temos”.

Para Veloso, sediar o encontro global na Amazônia é também um chamado à coerência: o Brasil, ao abrigar o evento, precisa ser exemplo em políticas de sustentabilidade, proteção florestal e inclusão social.

“A COP30 não é um tema ideológico, é uma questão de responsabilidade nacional. Se não forem tomadas medidas concretas imediatamente, podemos comprometer o planeta de forma irreversível”, alertou.
Retrato do magistrado sorrindo, vestindo terno escuro e gravata azul, com fundo de madeira e planta verde decorativa.O desembargador fala sobre o papel do Brasil na COP-30

Quando o concreto sufoca o planeta

“Uma das razões das enchentes nas grandes cidades é o excesso de asfalto. A água não tem mais para onde ir.” A afirmação sintetiza problemas estruturais profundos — a impermeabilização das cidades brasileiras e a falta de planejamento urbano integrado às mudanças climáticas.

Ao trocar o verde pelo cinza, o Brasil comprometeu a capacidade natural do solo de absorver a água das chuvas, o que agrava inundações e coloca em risco milhões de pessoas.

Segundo levantamento do MapBiomas (2024), o Brasil perdeu mais de 16% da cobertura vegetal urbana em apenas 37 anos. E, paradoxalmente, esse avanço da infraestrutura não veio acompanhado de saneamento básico — o país ainda tem 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada e quase 100 milhões sem coleta de esgoto, conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Retrato do magistrado sorrindo, vestindo terno escuro e gravata azul, com fundo de madeira e planta verde decorativa.O desembargador federal Roberto Carvalho Veloso durante o Educa Talks

Veloso usou esse contraste para exemplificar como a cidadania climática passa, antes de tudo, pela escolha coletiva do que se prioriza.

“Muitas vezes a própria população pede asfalto, e não saneamento. E os governantes, de olho no retorno político, cedem a essa pressão. Mas o que rende voto nem sempre é o que melhora a vida das pessoas”, afirmou.

Para o magistrado, o desafio das cidades brasileiras é compreender que crescimento urbano e sustentabilidade não são opostos, mas precisam caminhar juntos. Isso exige planos diretores atualizados, com foco em drenagem, arborização e ocupação responsável — uma discussão que, segundo ele, não pode mais esperar por desastres para acontecer.

“Precisamos de visão. Revisar planos diretores apenas após uma tragédia, como no caso do Rio Grande do Sul, é agir tarde demais. A prevenção é o verdadeiro exercício de cidadania climática”, defendeu.

O poder transformador da educação

Além de magistrado, Roberto Carvalho Veloso é professor de direito no Centro Universitário Euroamericano (Unieuro) — instituição parceira do Metrópoles na realização do Educa Talks.

Ele destacou o papel central da educação como ferramenta para enfrentar a crise climática, defendendo a criação de currículos transversais e interdisciplinares nas universidades brasileiras. “Os cursos de direito ainda ensinam a litigar, a disputar. Mas precisamos ensinar a conciliar. O meio ambiente é o exemplo mais urgente dessa necessidade. As universidades têm a missão de formar cidadãos capazes de dialogar, compreender o problema e agir antes que ele aconteça”, explicou. Retrato do magistrado sorrindo, vestindo terno escuro e gravata azul, com fundo de madeira e planta verde decorativa.Roberto Veloso fala sobre justiça climática e o papel do Judiciário nas políticas ambientais

O desembargador ressaltou que, nas salas de aula, temas como meio ambiente, sustentabilidade, ética pública e justiça climática devem estar integrados à formação dos futuros profissionais, sejam eles juristas, engenheiros, gestores ou comunicadores.

Esses conteúdos, segundo ele, não pertencem apenas às ciências ambientais, mas à própria noção de cidadania moderna.

“A democracia ambiental começa nas universidades. É ali que nascem as ideias e os compromissos com o futuro.”Roberto Carvalho Veloso, Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Durante a conversa mediada por Vanessa Oliveira, o magistrado também comentou a resposta positiva dos alunos em suas aulas e seminários sobre o tema. Segundo ele, o interesse da nova geração é um sinal de esperança, pois os jovens serão protagonistas nas próximas décadas — inclusive durante a COP30.

“Vejo nos olhos dos alunos o brilho pela importância do tema. Eles compreendem que não se trata mais de um discurso abstrato. Falar de clima é falar de sobrevivência, de economia, de justiça social. E o conhecimento é o primeiro passo para a transformação.”

O papel da justiça e o movimento de conciliação

Veloso também apresentou um olhar jurídico inovador sobre a questão ambiental. Ele explicou que o Sistema de Justiça brasileiro tem evoluído para adotar um modelo mais preventivo e colaborativo, destacando a criação do Centro de Inteligência, Tecnologia e Soluções Consensuais da Justiça Federal da 1ª Região (Citescom).

“A conciliação ambiental é uma forma de mitigar conflitos antes que eles se transformem em processos. É o Judiciário exercendo seu papel educativo, chamando o Executivo e o Legislativo para o diálogo. O meio ambiente precisa de entendimento, não apenas de sentenças”, avaliou.

Para ele, o desafio é construir um sistema de governança climática articulado, em que as instituições se comuniquem de forma transparente e orientada pelo interesse coletivo.

“O meio ambiente não é assunto de um poder isolado. É de todos. A conciliação é a prova de que o diálogo pode ser mais efetivo que a punição”, afirmou o desembargador. Vanessa Oliveira e Roberto Veloso estão sentados em poltronas frente a frente, com o telão do Educa Talks ao fundo exibindo o logotipo do evento. Ambos sorriem e conversam em um estúdio iluminado com tons amadeirados e plantas decorativas.A jornalista Vanessa Oliveira entrevista o desembargador federal Roberto Carvalho Veloso durante o Educa Talks “Rumo à COP30: Justiça e Cidadania Climática”, promovido pela Unieuro em parceria com o Metrópoles

COP30: o Brasil no centro do debate global

O desembargador destacou que a COP-30, em Belém, será uma oportunidade histórica para o Brasil demonstrar ao mundo seu potencial de liderar uma agenda climática justa e inclusiva.

“A COP em Belém é mais do que um evento — é um chamado à responsabilidade. O mundo inteiro vai olhar para nós e perguntar: o que estamos fazendo com esse tesouro que é a Amazônia?”, afirmou.

Veloso lembrou que o desenvolvimento sustentável não é inimigo do progresso, e que o equilíbrio entre economia e preservação é possível. “Não podemos parar o trem do desenvolvimento. Mas precisamos garantir que ele siga nos trilhos certos, com sustentabilidade, preservação e inclusão. O futuro depende disso”, finalizou.

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