A fuga de quem se dizia cego, surdo e mudo, e o seu cachorro
A fértil imaginação de um bolsonarista
O roteirista do filme “Brasil” aprontou mais uma: a fuga para El Salvador, sonho de consumo dos líderes da extrema-direita no continente, do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, condenado a 23 anos e seis meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e mais quatro crimes.
Não foi uma fuga como outra qualquer. Como a de Bolsonaro, por exemplo, para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro de 2022. Até a véspera, ele batalhou sem sucesso para recuperar as jóias presenteadas a sua mulher pelo governo da Arábia Saudita e apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos.
As de Bolsonaro entraram no Brasil escondidas na mala de um ministro, e ele as recebeu. A deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão, mas não por golpe, fugiu para a Itália, via Estados Unidos, de uma maneira, digamos assim, mais discreta.
Foi presa em Roma, apanhou de detentas e está para ser extraditada. Bem-sucedido mesmo foi o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência, condenado como golpista a 16 anos de prisão. Fugiu para os Estados Unidos. Vive em Miami na companhia da família.
Qual será o destino do Pitbull depois que seu dono foi preso em um aeroporto de Assunção, no Paraguai, quando tentava embarcar em um voo para El Salvador? Silvinei já foi devolvido ao Brasil e teve sua prisão preventiva decretada. Ainda não há notícias sobre o cachorro, seu companheiro inseparável.
Como a sentença de Silvinei não transitou em julgado, ele morava com o cachorro num apartamento do município de São José, em Santa Catarina, atado a uma tornozeleira eletrônica (ele, não o cachorro). Silvinei rompeu a tornozeleira e por volta das 19h30m deu início à sua fuga na noite do Natal.
Teve o cuidado de abastecer o carro no qual fugiu com ração e tapetes higiênicos para o cachorro. A Polícia Federal só se deu conta da fuga às 3h do dia 25. Vestindo calça de moletom, camiseta e um boné, Silvinei levava uma carta em que dizia não conseguir escutar ou falar e que iria para tratamento médico em El Salvador.
Segundo a carta, em espanhol, ele se submetera a um tratamento em Foz do Iguaçu que teve como efeitos colaterais a cegueira e a surdez. Ao ser detido, Silvinei usava um passaporte paraguaio falso com o nome de Julio Eduardo. Como interrogar um cego, surdo, mudo e que na carta informava ter um câncer no cérebro?
Não foi necessário. A Polícia Federal mandou a tempo fotos de Silvinei para a polícia paraguaia.
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