A marcha da extrema-direita (por Gustavo Krause)

Estados Unidos sob a direção do líder mundial da extrema-direita, Donald Trump

Sep 14, 2025 - 12:00
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A marcha da extrema-direita (por Gustavo Krause)

Direita/Esquerda é uma aparente simplificação esquemática. Na origem, a dicotomia (ou “díade”, expressão usual na gramática acadêmica) surge a partir de uma “banal metáfora espacial”, conforme define o notável filósofo italiano Norberto Bobbio, decorrente das posições em que se localizavam, na época da Revolução Francesa, os representantes das classes sociais na Assembleia Nacional.

A referência a Bobbio é absolutamente necessária para compreender a lógica dualista, na obra clássica Direita e Esquerda – Razões e significados (Editora UNESP – São Paulo, 1995) cujo tradutor, Marco Aurélio Nogueira, grande pensador e cientista social, assim define a mencionada obra: “pequeno, mas denso livro é um instigante libelo contra todos os que desprezam a clássica dicotomia direita/esquerda”.

De fato, ao longo do processo histórico, não faltaram vozes que apontaram para obsolescência da díade direita/esquerda. O desmoronamento do socialismo real parecia apontar para o “fim da história” e uma crise irreversível das ideologias. Porém, a visão dicotômica persiste, e persiste porque é essencial ao universo político. Importante não esquecer que, como afirmam os defensores do debate público, “a árvore das ideologias está sempre verde”.

Neste sentido, vale atentar para lição de Bobbio que identifica e considera relevantes, no âmbito do espectro social, quatro tendências: (a) na extrema-esquerda, estão os movimentos simultaneamente igualitários e autoritários dos quais o jacobinismo é o exemplo histórico mais importante e categoria aplicável a períodos e situações históricas diversas; (b) no centro-esquerda, doutrinas e movimentos simultaneamente igualitários, neles compreendidos todos os partidos socialdemocratas, em que pesem suas diferentes práxis políticas; (c) no centro-direita, doutrinas e movimentos simultaneamente libertários e inigualitários, entre os quais se inserem os partidos conservadores, que se distinguem das direitas reacionárias por sua fidelidade ao método democrático, mas que, com respeito ao ideal de igualdade, se prendem à igualdade perante a lei; (d) na extrema-direita, doutrinas e movimentos antiliberais e anti-igualitários que têm como exemplos históricos o fascismo e o nazismo (Op. cit. p.119).

Com efeito, a admirável síntese proposta por Bobbio utiliza como critério de distinção a postura diante da liberdade e da igualdade, destacando que entre a ala moderada e a ala extremista o que separa é a fidelidade aos princípios e métodos democráticos. Ou seja, as extremas são antidemocráticas.

Este desenho não é (e nunca foi) uma abstração teórica. Nele se encaixa o funcionamento político que caracteriza nosso mundo real. De um lado, uma progressiva corrosão das democracias liberais frente às autocracias; de outro, um crescimento expressivo das extremas, em especial, da extrema-direita que vem ocupando os espaços de poder em sociedades tradicionalmente democráticas.

A propósito, o fenômeno não é obra do acaso. Tudo parece incerto diante das rápidas e profundas transformações da sociedade moderna. Neste ambiente, os arranjos institucionais e a política deles decorrentes são capturados pela força das personalidades e de um ideário que ilumina o trajeto extremista da direita.

Nesse trajeto, nada se compara à conquista do poder na maior e mais antiga democracia representativa do mundo que são os Estados Unidos sob a direção do líder mundial da extrema-direita, Donald Trump.

Desta vez, ele chega ao poder com propósitos bem definidos, muito além dos “conselhos” táticos de Steve Bannon. Agora, mesmo que negue, como o fez, furiosamente num dos debates com Kamala Harris; “Não tenho nada a ver com o projeto 2025”. A verdade é que um foi feito para o outro.

O documento projeto 2025 é uma bíblia radical de quase mil páginas elaborada sob os auspícios do think thank conservador, a Heritage Foundation, tendo como principais autores Russell Vought e Paul Dans, dois militantes da ala mais extrema do Partido Republicano.

Publicado no Brasil, em 26/8/25, o livro de autoria de David Graham: O Projeto. Como a extrema direita está transformando os Estados Unidos, revela que O Projeto 2025 “é a chave mestra para compreensão da segunda presidência de Trump – bem como do futuro do Partido Republicano e da direita americana”.

Trata-se de um trabalho de fôlego e que menciona, sob o olhar ideológico, todas as políticas públicas a serem empreendidas pelo governo Trump. Desta vez, diferentemente do primeiro governo Trump, os espaços estratégicos foram ocupados por mentores do plano (Russell Vought, por exemplo, chefia do Escritório de Gestão e Orçamento).

Toda a energia política vem sendo direcionada para destruir o que chamam de “bolsões de independência” dentro do Estado: “as agências reguladoras, o FBI, os órgãos de controle e o Judiciário” como assinala, no prefácio, Celso Rocha Barros. De outra parte, construir uma Presidência Imperial de modo que fulmine a alternância de poder. Aliás, essa hipótese é alimentada pelo próprio Trump quando disse a um grupo cristão de apoiadores: “Daqui a quatro anos você não vão precisar votar de novo. Vamos arranjar tudo tão bem que vocês não vão precisar votar”.

A rigor, a marcha da extrema-direita alterou radicalmente o papel dos EUA no mundo é o que pensa o Prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, para quem o impulso autoritário de Trump afeta a confiança na realização de eleições limpas e justas. Não por acaso, o presidente americano ameaça, interfere e agride a soberania das nações, como se fosse o xerife de um mundo sem lei.

Por aqui, vida segue. A procedente advertência de Krugman não se aplica ao Brasil. Nossa democracia é um precioso e inalienável patrimônio político conquistado por obra e luta do povo brasileiro.

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