A menina que fez Ney Matogrosso pensar em matar um homem

A biografia de Ney Matogrosso, publicada em 2021, conta que o cantor se apegou a uma menina que havia sido estuprada pelo pai

Jun 24, 2025 - 17:30
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A menina que fez Ney Matogrosso pensar em matar um homem

Desde que Homem com H estreou na Netflix, a vida de Ney Matogrosso voltou aos holofotes — e com ela, episódios pouco conhecidos da trajetória do artista. Um deles aconteceu no fim dos anos 1960, quando Ney precisou tomar uma decisão dolorosa: deixar Brasília e voltar ao Rio de Janeiro.

Na capital federal, ele havia passado dois anos trabalhando na ala infantil do Hospital de Base. Foi lá que criou um laço profundo com Luzinete, uma menina de apenas quatro anos, internada com metade do rosto desfigurado após sofrer agressões dos próprios pais.

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Ney cuidou dela com dedicação até a alta médica — momento em que a criança foi devolvida à família, e ele precisou lidar com a despedida. A história é contada em Ney Matogrosso: A Biografia, publicada pela Companhia das Letras em 2021. 4 imagensNey MatogrossoNey MatogrossoNey MatogrossoFechar modal.1 de 4

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Ney MatogrossoRita Franca/NurPhoto via Getty Images

Dias depois, a menina foi encontrada novamente — dessa vez quase morta, em um capinzal, com o corpo tomado por formigas. Luzinete foi estuprada pelo pai.

A biografia do artista, escrita por Julio Maria, conta que Ney quis matar o homem que a machucou. Foi atrás de informações sobre o paradeiro do criminoso e descobriu apenas que ele vivia em uma das cidades-satélites mais afastadas e vulneráveis da região. Além disso, estava foragido.

“Quando Luzinete voltou aos seus braços para ser tratada mais uma vez, o tio hippie entendeu que a vida da menina importava mais do que a vingança. Os dois anos de devoção aos pequenos pacientes pareceram breves e o tempo se abriu mais uma vez, tornando a atrair Ney para as fantasias do teatro, o lugar onde tudo dava a impressão de ser imensamente mais suportável”, diz um trecho do livro.

Ney soube que, no Rio de Janeiro, novas oportunidades profissionais surgiram. Foi quando decidiu retornar ao estado, para tentar um novo começo — mas com o coração apertado por deixar Luzinete aos cuidados do hospital.

A maior incerteza era se, em algum momento, a menina voltaria para os braços do pai. “Foi a única dor que Ney sentiu ao partir”, disse o autor da obra.

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Experiência na ala infantil

Antes de migrar para a ala infantil do Hospital de Base, Ney trabalhava no Departamento de Cardiologia. Na biografia, o artista relatou que queria trabalhar com as crianças porque eram “os únicos seres em Brasília que pareciam adorar seu novo visual hippie”.

Muitas delas estavam internaadas em estado terminal, abandonadas pelos pais ou vítimas de violência doméstica. “A área que os profissionais em geral evitavam pelo desgaste emocional que causava era a que ele queria transformar. Com parte do salário, comprava tinta, barro e argila em cidades vizinhas para dar a pequenos pacientes a sensação de ver objetos nascerem de suas mãos”, relembra trecho da obra.

Ney acabou ganhando uma sala vazia para recreação ao lado de um bosque de eucaliptos, onde deixava as crianças tomarem sol. Ele chegou a levá-las ao zoológico, conduzindo sozinho as que precisavam de cadeira de rodas.

“Seu apego crescia. Ao ver enfermeiros manipulando agulhas e sondas sem delicadeza, exigia mais cuidado. O instante, como no teatro, era só o que importava para crianças que poderiam partir no dia seguinte”, ressalta o livro.

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