A montanha que protege o programa nuclear do Irã alvo de Israel
Fordow já foi construída estrategicamente embaixo de uma montanha, para evitar ataques aéreos de adversários militares. Foto de satélite mostra o complexo de montanhas onde instalações militares de Fordow estariam. Reuters via BBC Um dos pontos cruciais no atual conflito entre Israel e Irã é o futuro do programa nuclear iraniano. O Irã afirma que tem um programa pacífico, destinado apenas a geração de energia. Mas Israel diz que o objetivo iraniano é construir uma bomba atômica. Especialistas dizem que Israel também possui tecnologia para produzir uma bomba nuclear — algo que o governo israelense nunca confirmou. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp AO VIVO: Veja as últimas notícias sobre o conflito Israel x Irã Há décadas, os Estados Unidos vêm negociando diplomaticamente com o Irã formas de fazer com que o regime de Teerã desista de seu projeto nuclear. Os ataques de Israel às instalações nucleares do Irã abriram a discussão sobre a possibilidade de os EUA participarem do ataque a Teerã —acabando com o programa atômico por meios militares em vez de diplomáticos. Mas atingir o programa nuclear de Teerã traz um desafio logístico enorme: as principais instalações nucleares estão enterradas em uma montanha. Montanha estratégica A instalação nuclear mais fortificada do Irã, Fordow, foi construída no interior de uma montanha para protegê-la de um ataque. Fordow já foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares. Em 1981, Israel usou caças para bombardear uma instalação nuclear perto de Bagdá como parte de seu esforço para impedir que o Iraque adquirisse armas nucleares. A instalação ficava na superfície, o que facilitou o bem-sucedido ataque israelense. "Os iranianos entenderam perfeitamente que os israelenses tentariam invadir seus programas e construíram Fordow dentro de uma montanha há muito tempo para resolver o problema pós-Iraque", disse Vali Nasr, especialista em Irã e professor da Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao jornal americano The New York Times. Segundo o jornal, ao longo de vários anos, Israel elaborou uma série de planos para atacar Fordow usando apenas as suas próprias armas. Em um desses planos, que foi apresentado ao governo do então presidente Barack Obama, helicópteros israelenses carregados com soldados voariam até o local. Os soldados travariam batalhas para entrar na instalação nuclear iraniana e explodi-la. Algo semelhante já foi feito por Israel na Síria no ano passado, quando o país destruiu uma fábrica de mísseis do Hezbollah. EUA podem entrar na guerra Israel x Irã? Entenda os possíveis impactos para o mundo Mas Fordow exigiria um esforço e preparo muito maior, segundo as autoridades militares. Outra possibilidade que já foi estudada no passado foi a de jogar uma bomba em Fordow. No entanto, Israel não possui nenhuma arma capaz de explodir as instalações subterrâneas iranianas. Somente os EUA possuem armamento capaz de tentar algo assim. Estima-se que o bunker onde os cientistas nucleares iranianos trabalham está enterrado no solo muito longe do alcance das chamadas "armas antibunker" que Israel possui. As armas antibunker são projetadas para destruir alvos que estão abaixo do solo. Elas são pesadas e, ao caírem no solo, penetram camadas de terra ou concreto e explodem só depois de atingir a profundidade máxima. Especialistas militares dizem que até agora Israel teria usado armas antibunker GBU-28 com capacidade de penetração de 6 metros. Isso não seria suficiente para atingir as instalações de Fordow. A profundidade exata do bunker onde ficam instalações nucleares iranianas é desconhecida entre militares ocidentais. A montanha em si teria até 80 metros de rocha e solo —muito além do alcance das armas israelenses. Mas segundo o jornal britânico Financial Times, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, afirmou que algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade. "Já estive lá muitas vezes", disse Grossi ao Financial Times este mês. "Para chegar lá, você pega um túnel em espiral que desce, desce, desce..." "No caso iraniano, como o Conselho de Segurança Nacional dos EUA pode ter certeza de que conseguirá atingir tudo? Essa é a grande questão", o historiador militar Robert Pape ao jornal britânico. Apenas os EUA possuem uma única arma capaz disso: a Massive Ordnance Penetrator (MOP, ou também conhecida como GBU-57), uma bomba antibunker de 13,6 mil kg, que é tão pesada que só pode ser lançada por bombardeiros estratégicos B2, que só os EUA têm. A MOP dos EUA teria capacidade de atingir uma profundidade de 60 metros — dez vezes mais do que as armas do tipo que Israel possui. A MOP funciona sem nenhum tipo de propulsor. Ou seja, ela é apenas lançada do avião, e guiada em alta-precisão por aletas de grade, que direcionam a bomba. Depois que ela atinge sua p


Fordow já foi construída estrategicamente embaixo de uma montanha, para evitar ataques aéreos de adversários militares. Foto de satélite mostra o complexo de montanhas onde instalações militares de Fordow estariam. Reuters via BBC Um dos pontos cruciais no atual conflito entre Israel e Irã é o futuro do programa nuclear iraniano. O Irã afirma que tem um programa pacífico, destinado apenas a geração de energia. Mas Israel diz que o objetivo iraniano é construir uma bomba atômica. Especialistas dizem que Israel também possui tecnologia para produzir uma bomba nuclear — algo que o governo israelense nunca confirmou. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp AO VIVO: Veja as últimas notícias sobre o conflito Israel x Irã Há décadas, os Estados Unidos vêm negociando diplomaticamente com o Irã formas de fazer com que o regime de Teerã desista de seu projeto nuclear. Os ataques de Israel às instalações nucleares do Irã abriram a discussão sobre a possibilidade de os EUA participarem do ataque a Teerã —acabando com o programa atômico por meios militares em vez de diplomáticos. Mas atingir o programa nuclear de Teerã traz um desafio logístico enorme: as principais instalações nucleares estão enterradas em uma montanha. Montanha estratégica A instalação nuclear mais fortificada do Irã, Fordow, foi construída no interior de uma montanha para protegê-la de um ataque. Fordow já foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares. Em 1981, Israel usou caças para bombardear uma instalação nuclear perto de Bagdá como parte de seu esforço para impedir que o Iraque adquirisse armas nucleares. A instalação ficava na superfície, o que facilitou o bem-sucedido ataque israelense. "Os iranianos entenderam perfeitamente que os israelenses tentariam invadir seus programas e construíram Fordow dentro de uma montanha há muito tempo para resolver o problema pós-Iraque", disse Vali Nasr, especialista em Irã e professor da Universidade Johns Hopkins, em entrevista ao jornal americano The New York Times. Segundo o jornal, ao longo de vários anos, Israel elaborou uma série de planos para atacar Fordow usando apenas as suas próprias armas. Em um desses planos, que foi apresentado ao governo do então presidente Barack Obama, helicópteros israelenses carregados com soldados voariam até o local. Os soldados travariam batalhas para entrar na instalação nuclear iraniana e explodi-la. Algo semelhante já foi feito por Israel na Síria no ano passado, quando o país destruiu uma fábrica de mísseis do Hezbollah. EUA podem entrar na guerra Israel x Irã? Entenda os possíveis impactos para o mundo Mas Fordow exigiria um esforço e preparo muito maior, segundo as autoridades militares. Outra possibilidade que já foi estudada no passado foi a de jogar uma bomba em Fordow. No entanto, Israel não possui nenhuma arma capaz de explodir as instalações subterrâneas iranianas. Somente os EUA possuem armamento capaz de tentar algo assim. Estima-se que o bunker onde os cientistas nucleares iranianos trabalham está enterrado no solo muito longe do alcance das chamadas "armas antibunker" que Israel possui. As armas antibunker são projetadas para destruir alvos que estão abaixo do solo. Elas são pesadas e, ao caírem no solo, penetram camadas de terra ou concreto e explodem só depois de atingir a profundidade máxima. Especialistas militares dizem que até agora Israel teria usado armas antibunker GBU-28 com capacidade de penetração de 6 metros. Isso não seria suficiente para atingir as instalações de Fordow. A profundidade exata do bunker onde ficam instalações nucleares iranianas é desconhecida entre militares ocidentais. A montanha em si teria até 80 metros de rocha e solo —muito além do alcance das armas israelenses. Mas segundo o jornal britânico Financial Times, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi, afirmou que algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade. "Já estive lá muitas vezes", disse Grossi ao Financial Times este mês. "Para chegar lá, você pega um túnel em espiral que desce, desce, desce..." "No caso iraniano, como o Conselho de Segurança Nacional dos EUA pode ter certeza de que conseguirá atingir tudo? Essa é a grande questão", o historiador militar Robert Pape ao jornal britânico. Apenas os EUA possuem uma única arma capaz disso: a Massive Ordnance Penetrator (MOP, ou também conhecida como GBU-57), uma bomba antibunker de 13,6 mil kg, que é tão pesada que só pode ser lançada por bombardeiros estratégicos B2, que só os EUA têm. A MOP dos EUA teria capacidade de atingir uma profundidade de 60 metros — dez vezes mais do que as armas do tipo que Israel possui. A MOP funciona sem nenhum tipo de propulsor. Ou seja, ela é apenas lançada do avião, e guiada em alta-precisão por aletas de grade, que direcionam a bomba. Depois que ela atinge sua profundidade máxima, ela é detonada. Por contar apenas com a gravidade para atingir o chão, a bomba precisa ser lançada de uma altitude muito grande. Ela também é muito pesada — e por isso precisa de aviões especiais, como os B2 americanos. "Para destruir Fordow, para o qual a MOP foi explicitamente projetada, provavelmente seriam necessárias pelo menos duas bombas, cada uma atingindo exatamente o mesmo ponto", disse Pape ao Financial Times. "Isso pode ser bom, e tenho certeza de que a Força Aérea dos EUA tem as capacidades técnicas. Mas isso nunca foi feito antes em uma guerra real." Segundo o New York Times, Trump estaria considerando agora o uso de bombardeiros B2 equipados com a bomba MOP para ajudar Israel a atingir o programa nuclear iraniano. Um ataque militar potente contra as instalações nucleares do Irã só poderia ser lançado pelos EUA, que possui os bombardeiros B2 e a bomba MOP. O New York Times diz que nos últimos dois anos militares americanos, sob acompanhamento próximo da Casa Branca, desenvolveram uma operação para atacar Fordow que envolveria o uso de múltiplas bombas MOP jogadas uma depois da outra, sempre no mesmo buraco provocado pela primeira bomba. Essa ideia que antes era tratada apenas como um exercício militar teria ganhado força após os ataques de Israel contra o Irã na semana passada.
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