A nova arma da política: IA e o risco de manipulação em 2026
O clima político no Brasil já está quente e tende a se intensificar com a aproximação das eleições de 2026. Essa será a primeira grande disputa em que os efeitos da inteligência artificial (IA) sobre a escolha do eleitorado estarão realmente à prova. Ainda levará tempo para mensurar com precisão seu impacto, mas um […]


O clima político no Brasil já está quente e tende a se intensificar com a aproximação das eleições de 2026. Essa será a primeira grande disputa em que os efeitos da inteligência artificial (IA) sobre a escolha do eleitorado estarão realmente à prova. Ainda levará tempo para mensurar com precisão seu impacto, mas um ponto já é evidente: o avanço da IA pode não apenas baratear campanhas, como também potencializar a produção e circulação de desinformação com uma sofisticação sem precedentes.
Vídeos inteiramente gerados por IA, muitos deles imperceptíveis ao público, já circulam amplamente nas redes sociais. Embora os discursos sobre os benefícios dessa tecnologia dominem o debate público e empresarial, pouco se discute, de forma crítica, os riscos sociais e políticos associados ao seu uso crescente na comunicação política. A IA, já atuante nos bastidores da política digital, tende a ocupar o centro da disputa, seja na personalização de mensagens, seja na propagação automatizada de conteúdos manipulados. O risco não reside apenas na automação da linguagem política, mas na sua capacidade de simular pessoas, fabricar falas, falsificar contextos e manipular afetos.
Esses riscos não são mais hipotéticos. Nas eleições brasileiras de 2022, já circularam vídeos com edições enganosas, legendas falsas e distorções deliberadas de falas de candidatos ainda sem o grau de sofisticação atual, mas com efeitos imediatos sobre a percepção pública. Em 2026, com a popularização da IA generativa, esse tipo de manipulação pode ganhar escala e credibilidade visual inquestionável. Fora a agilidade com que esse tipo de material poderá ser produzido.
Nos Estados Unidos, campanhas políticas já utilizam IA para gerar imagens e anúncios ajustados ao perfil emocional dos eleitores.
No Reino Unido, a divulgação de vídeo com cenas hiper-realistas de violência e degradação urbana gerou críticas por explorar medos sociais com base em cenários fictícios. O caso escancarou os dilemas éticos da propaganda política baseada em simulações.
No Brasil, essa lógica já está em curso. Em um evento recente do PL, Jair Bolsonaro exaltou a IA como uma “nova arma” da comunicação política. A presença de representantes de big techs foi destacada, e os palestrantes ofereceram ao público, segundo a imprensa, “a receita para usá-la”. O episódio evidencia que setores da direita já assimilaram o potencial da IA como instrumento de manipulação simbólica e se organizam estrategicamente para operá-la em 2026.
A gravidade desse cenário aumenta em um país sem regulação e letramento digital extremamente desigual. A maioria da população consome informação via redes sociais, muitas vezes sem distinguir o que foi gerado por humanos ou por sistemas automatizados. Essa assimetria entre quem domina a tecnologia e quem a consome, sem mediação crítica, cria as condições ideais para a manipulação em larga escala da opinião pública.
Não basta combater as fake news. É preciso compreender as estruturas que permitem sua produção automatizada e sua circulação. Isso exige regulação transparente, formação crítica da sociedade, inclusão digital e responsabilidade institucional.
Se nada for feito, corremos o risco de enfrentar, em 2026, uma guerra perigosa de narrativas, em que poucos manipulam muitos, e onde o voto, embora formalmente livre, poderá ser conduzido por percepções artificiais.
Por Vanessa Marques – jornalista
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