A solidão do Brasil num mundo em realinhamento (por Hubert Alquéres)

O declínio da relevância internacional do Brasil é sintoma de um governo desconectado da política externa e do país real

Jul 16, 2025 - 10:20
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A solidão do Brasil num mundo em realinhamento (por Hubert Alquéres)

O tarifaço imposto por Donald Trump às exportações brasileiras é mais um sintoma de um mundo em realinhamento. O que chama atenção e preocupa é a resposta frágil do Brasil. Não por falta de indignação inicial, mas pela ausência de uma estratégia compatível com a gravidade do momento — num cenário em que o país aparece isolado, vulnerável e cada vez mais irrelevante para os rumos da política internacional.

Para se ter uma ideia, como lembrou o diplomata Rubens Barbosa, em seis meses de mandato de Donald Trump, o Brasil sequer abriu um canal de diálogo com o governo norte-americano — um dado revelador sobre as atuais prioridades da política externa brasileira.

Durante anos, o Brasil construiu a imagem de país conciliador, respeitado por sua tradição diplomática e por sua capacidade de mediação. Hoje, essa imagem se esvazia. O país não lidera nenhuma agenda global, não é escutado nos fóruns relevantes que moldam o século XXI e tampouco exerce o papel de voz ponderada que já teve. A retórica de Lula — ora agressiva, ora paternalista — perdeu ressonância. No cenário internacional, tornou-se uma figura lateral. Ninguém consulta, ninguém teme, poucos escutam.

O episódio das tarifas escancara também as fragilidades internas. O governo não conseguiu mobilizar o Congresso nem os governadores das regiões mais afetadas, revelando um descompasso entre a gravidade dos fatos e a articulação institucional. A política externa, nesse contexto, parece desconectada da realidade nacional — sem coordenação entre as frentes diplomática, política e econômica.

O contraste entre discurso e prática é visível. Enquanto Lula defende, fora do país, o multilateralismo e o diálogo, sua retórica doméstica reforça a polarização e o antagonismo entre “ricos e pobres”. É difícil atrair o empresariado se, no plano simbólico, ele continua sendo retratado como adversário. A política externa perde eficácia quando não há coesão interna, harmonia entre os Poderes da República e articulação federativa com os governadores, independentemente de seus matizes ideológicos.

Sem uma base parlamentar sólida, sem articulação com o setor produtivo e com baixa capacidade de mobilização institucional, o governo assiste aos acontecimentos como espectador. Lula soa desconectado do país real e do mundo em transformação.

As consequências econômicas não são triviais. Aversão ao risco, valorização do dólar, manutenção da taxa básica de juros em níveis altíssimos. O impacto social é direto, com reflexos sobre o emprego, a renda e a inflação. Nada disso será enfrentado com frases de efeito ou com narrativas de soberania abstrata.

Como alertou Dora Kramer, “daqui em diante, precisa agir com engenho e arte”. A frase vale menos como recomendação e mais como constatação: o jogo internacional é duro — e, em muitos aspectos, desfavorável ao Brasil. Se houver prejuízos relevantes, será inevitável identificar responsabilidades políticas. No presidencialismo, o centro de gravidade da responsabilidade não é difuso.

A retórica não pode substituir a estratégia. Quando o cenário internacional se torna hostil, países como o Brasil dependem ainda mais da diplomacia, da prudência e da inteligência estratégica. Mas, hoje, esses atributos parecem ausentes da política externa brasileira, substituídos por impulsos retóricos e alinhamentos simbólicos de baixa eficácia.

A perda de relevância internacional não é apenas efeito das transformações geopolíticas. Ela reflete também escolhas equivocadas, um projeto errático de política externa e uma liderança que resiste a perceber as mudanças em curso. O Brasil de 2025 precisa mais do que slogans ou declarações de princípio. Precisa de inserção ativa, credibilidade e capacidade de diálogo com grandes potências e parceiros estratégicos.

Guerras comerciais não se vencem com bravatas nem com trincheiras ideológicas. E o Brasil, diante da escalada protecionista, não pode se dar ao luxo de abrir mão da diplomacia — especialmente quando é o único instrumento ainda disponível.

 

Hubert Alquéres é presidente da Academia Paulista de Educação.

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