Ângela Almeida: a metalinguagem e o ser ontológico

Por Márcio de Lima Dantas Professor de Literatura Portuguesa da UFRN marciomartedantas@gmail.com   Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Cecília Meireles   1. Ângela Almeida (Mossoró, RN, 22.06.1956) é uma das poucas artistas visuais do Rio Grande do Norte que sintonizou suas obras em uma vibração universal. […]

Nov 2, 2025 - 11:00
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Ângela Almeida:  a metalinguagem e o ser ontológico

Por Márcio de Lima Dantas

Professor de Literatura Portuguesa da UFRN

marciomartedantas@gmail.com

 

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Cecília Meireles

 

1.

Ângela Almeida (Mossoró, RN, 22.06.1956) é uma das poucas artistas
visuais do Rio Grande do Norte que sintonizou suas obras em uma vibração
universal. Mesmo quando abordou temas relativos ao Nordeste, permaneceu
refratária ao pitoresco e aos exageros tão afeitos a quase todos os artistas
dessas terras do semiárido.

Quer dizer, recusou-se a repetir o refrão tedioso de retirantes, cangaceiros,
beatos e personagens advindos da religiosidade de cunho popular,
comportamentos e eventos histórico-geográficos datados. O que sucede é
que acabamos compreendendo a região Nordeste como uma espécie de
caricatura, ao carregar no exagero de um mundo já extinto e sem retorno em
todos os seus aspectos. Cronos caminha sempre em largas passadas.

A artista preferiu buscar seus padrões estéticos em formas outras que não
repetissem o que se encontrava na praça fervilhante do mundo da arte, no
lugar onde se chantara seu viver. Buscou, muito mais, mergulhar quase
sempre seus trabalhos em um ethos (caráter) metalinguístico. Suas inúmeras
séries demonstram esse registro: a busca de se voltar sobre si mesma, sobre
os pintores da História das Artes. Enfim, fez valer os domínios da pintura
como seu substrato. Daí, temos um ponto de partida e a elaboração das
requintadas séries que configuram sua dicção estética, cultuando sempre
reflexões acerca de algo que detenha uma funcionalidade ao manchar de
cores um qualquer suporte.

O que quero dizer — é óbvio que não existe funcionalidade na comarca da
arte. A verdade é que arte não tem função, não serve para um uso em algo
do nosso cotidiano, em algo prático, como os objetos que estão no nosso
entorno. Consabido é que arte tem mesmo é um papel.

2.

Eu não gostaria muito de me estender acerca do caráter metalinguístico de
uma semiose que não é a língua natural, mas há que se pensar que as seis
funções da linguagem propostas pelo linguista russo Roman Jakobson não
se prendem somente à linguística, cujo objeto de estudo é a língua. O que
vamos fazer é conduzir essas categorias de análise para uma outra maneira
de contemplar e interpretar a realidade: a função metalinguística. Creio que
é suficiente para esclarecer o que, mais à frente, falaremos sobre a pintura da
nossa artista.
O primeiro exemplo é o filme Mephisto (1981), baseado em um romance de
Klaus Mann, estrelado pelo impagável ator Klaus Maria Brandauer,
representando Mefistófeles. Quando o filme está no fim, no desfecho, a
última fala é o ator olhando para a câmera, como se estivesse conversando
com a plateia, dizendo algo mais ou menos assim: “O que é que eles
queriam? Eu sou apenas um ator!”. Como podemos observar, tudo sugere
que não havia dois planos e duas realidades, como o cinema na tela e o
público que assistia.
Essa quebra de olhar em direção aos que estavam sentados desacredita a arte
do cinema como uma outra realidade construída ao apagar as luzes e as
imagens reverberarem, largando cada pessoa consigo mesma. Concerne ser
apenas um filme como outro qualquer. Mas também pode transmutar-se em
uma epifania, na qual falésias das suas entranhas emocionais escorrem para
um rio, cujo estuário é tombar sobre si, quiçá um oceano partilhado por
todos. Contudo, não chega ao nível de uma revelação, de uma compreensão,
de um efeito de sabedoria, de um preenchimento de uma hiância, de tantos
hiatos, rumas de incompletudes. Enfim, as bodas e o embate sempre
aguardados entre o eu e o mim.
O segundo exemplo é a tela A arte da pintura (1668), de Johannes Vermeer.
A tela retrata um pintor diante de sua modelo, ou seja, a pintura fala da
pintura (o tema, o referente). Temos aqui o clássico da metalinguagem no
código pintura. O referente retrata um pintor de costas, com a tela e o
cavalete, diante do seu modelo vivo: uma mulher com um livro. A cortina da
esquerda parece ser proposital. O fato de a terem puxado inteira e prendido,
com o objetivo de mostrar o que estava acontecendo no cômodo, acaba por
funcionar como moldura. A pintura não é uma natureza-morta, tampouco o
cotidiano de alguma família da realeza. O pintor preferiu, mesmo de costas,
pintar uma tela que retrata seu ofício.

3.

Isso posto, podemos adentrar por Instaurando banalidades, essa bela série
de Ângela Almeida, com o objetivo de analisar e interpretar — não como
algo enigmático, pelo fato de não seguir uma lógica aristotélica. Mas nos
deparamos com uma diferença em quantidade e qualidade, na qual não
podemos remeter ao que estamos familiarizados, ao que nos cerca, embora
os signos sejam facilmente reconhecidos.
Acontece que o que chamamos em linguística de eixo da seleção
(paradigmático) não unge urdir uma tela composta de uma combinação
(sintagmático). Falo combinação no sentido no qual fomos acostumados a
encontrar na arte: o culto ao belo, à harmonia, a uma outra realidade.
Com efeito, no que concerne às cores ou aos objetos — no que alguém
poderia buscar um equilíbrio estético — talvez não se depare com esse
paradigma que foi, desde sempre, relacionado à arte da pintura.
O que nominamos caráter metalinguístico é quando o código se limita a falar
de si, não querendo dizer outra coisa. É um código apenas falando e soprando
seus signos do próprio código. É narrativa, em certo sentido (musa Calíope,
“retórica”), e extremamente lírico (musa Euterpe, “a que dá prazer”). Não é
uma pintura como outra qualquer. Pouco preocupada com o entorno, o que
se chama de realidade, queda-se em si mesma. A pintura fala da pintura.
A pintura de Ângela Almeida assemelha-se a uma linha de continuidade que
rompeu não só com a tradição, mas também com tudo que o século XX
propôs como a arte de pintar, quer seja concreto ou abstrato. É como se a
artista estivesse “aprendendo” a pintar, por isso os elementos que constam
na tela são aleatórios, justapostos. Existe o referente (tema), mas encontra
se atrelado a uma profusão de imagens que leva o espectador a cair em uma
atitude de “não sei do que se trata”.
Com efeito, é uma coisa que me faz lembrar o livro de Cecília Meireles: Ou
isto ou aquilo. O certo é que reverbera uma paleta na qual se resolveu buscar
um efeito estético diferente, avizinhando cores que não se “combinam”, mas,
também, elementos, peças do cotidiano que foram postas juntas
aleatoriamente.
Contudo, eis a marca da beleza e da ruptura: buscar um ethos de excelsa
mescla a partir da justa combinação. É puro sentimento, emoção, mas não
permanece só aí. A razão e a consciência do que está plasmado vigoram
como se fossem vigilantes da estética, fazendo saber que se domina, com
folga, as técnicas das artes visuais.

4.

Essas últimas séries trazidas à luz pela pintora muito se assemelham a uma
grande narrativa acerca de episódios que dizem respeito ao seu cotidiano.
Não só de dona de casa, mas também do seu contato com o trabalho, seus
expedientes, tal como sua imersão no mundo da arte da cidade ou da região
onde habita: o Nordeste.
Pode suceder o fenômeno de simplificar em demasia ou desvelar
personagens que habitam o imaginário desses lugares, os ritos religiosos, os
folguedos pertencentes a certas zonas, enfim, o que se encontra registrado no
imaginário de certos lugares. O que quero dizer é que a obra de Ângela
Almeida fez o contrário: vivificou tudo o que assomou das terras onde nasceu
e edificou sua herdade, ao que parece ser para todo o sempre.
Está implícito, mas também deixei clara a minha posição. Quem quiser
refratar o que nega o diálogo dessa obra, como uma lídima aura antenada
com o que se fez ao longo da História da Arte. Pode-se levar, e falar, em
qualquer espaço do planeta, expondo essa obra com zelo estético, eivado de
intuição e pesquisa. Haverá de receber a chancela, ousando perguntar.
Desperta afetividades organizadas em timbres, resplandecendo narrativas,
pois, afinal de contas, podemos, sem muito esforço, escandir em blocos
sequenciais as múltiplas séries, para, enfim, por meio de catarse ou uma
epifania, nos entregarmos ao que a arte pode proporcionar: interação através
de um mergulho em nós mesmos, em nossas entranhas, em nosso imo, em
pradarias nas quais habita o longe.
Contudo, há um rio com seu imenso delta e barcos ancorados para os
corajosos, para os ousados, para os curiosos embarcarem e seguirem direção
acima, tendo o atrevimento de manusear a razão, a sensatez, o lugar quedado
em nossas mentes. Por coincidência, encontraremos as mesmas coisas
manuseadas pela artista Ângela Almeida.

5.

Eis o que indigitamos de universalidade. Não precisa ir muito longe, nem
pedir conselhos, nem visitas guiadas. É suficiente uma entrega de olhos
acesos, queimando na frágua iluminadora da alma. Assim, posso afirmar a
necessidade da luz, de um fogo que não chamusca, apenas labaredas capazes
de brilhar. Desse modo, por meio do que chega como luminoso, do que se
reveste da legítima arte, impregna-se o que tínhamos nas regiões abissais,
que talvez não soubéssemos da existência.
Com efeito, repito: não podemos perder de vista o ethos universal dessa
pintura. Seria alongar em demasia o perímetro, a extensão, lançando seus
vetores para os limites de tudo o que ela não expeliu de má qualidade no
decorrer da sua trajetória como artista visual. Ela se inscreve como uma das
mais admiráveis, não só quanto a seu domínio do desenho, mas também das
formas, da paleta de cores, edificando séries no papel ou telas de sublime
consideração.
E não devemos olvidar o fato de ter sido uma exímia pesquisadora nos
territórios e distritos concernentes aos artistas abrandados/entorpecidos pela
dinâmica. Muitas vezes, esta é conduzida pelo discurso da ideologia, da fala
autoritária das classes dominantes, que torna natural tudo o que é
historicamente construído, mas nos chega ou convencionam como natural.
Oxalá a vida parecesse mais com a arte do que com o que chamamos de
realidade (como dizem, real concreto). Talvez assim as alvíssaras
sobrepujariam as vicissitudes.

6.

O que tive como objeto para elaborar este ensaio foi ofertado pela
informática, através de uma rede social de grande circulação: o Instagram.
Nem por isso perdeu-se totalmente a aura que reveste a obra de arte desde
sempre. Quem tiver olhos, que veja. Apure a vista sobre a tela do celular ou
do monitor. Franza os olhos, buscando inquirir o que adormece de forma
subliminar nas lacunas. Aproxime as entrelinhas. Assim, talvez encontre
intersecções que lançarão archotes acesos, de madeira de lei.
Tudo isso me faz recordar Riobaldo e a morte de Diadorim. E que fossem
campear velas ou tochas de cera, e acender altas fogueiras de boa lenha, em
volta do escuro do arraial… (Grande Sertão: Veredas). Quero dizer de uma
necessidade de luz, pois o imo estava tão escuro como a tisna. Por isso,
evocou a feitura de uma fogueira com o intuito de iluminar o dramático
escuro de uma personagem que fenece por dentro, ao constatar a morte do
amigo(a), sem ter nenhum controle sobre o luto.
E quem busca pesquisar com o objetivo de organizar dados para encontrar
respostas, que se contente com determinado corpus. Assim sempre sucedeu
com a pesquisa, na sua ânsia de compor determinadas circunscrições
formadas por elemento. Quer detenham algo em comum ou quer sejam
díspares, o que vale é o pendor para aquele lado, para algo que chafurda
também nas suas entranhas, ao ficar diante das obras.
E assim sempre foi: nas telas, o enigma repousa como a esfinge, hirta em seu
lugar, quase apostando que ninguém vai desvendar as questões que propõe a
todos os humanos. Tesa, repousa com indiferença. Contudo, há de chegar
não só uma pessoa que desvendará essas imagens pertencentes à área da
semiótica. Quiçá não esteja nem tão longe.
Haverá de chegar, com poucos utensílios do ofício, para desvendar muito
mais o que esteja a meio caminho. É menos difícil do que aquele que ergueu
e acredita na dinâmica das sintaxes sociais como se tudo fosse natural, como
se tudo fosse “assim mesmo”. Na verdade, os paradigmas e sintagmas,
arranjados de determinadas formas, não passam de construções, de
convenções das classes abastadas com suas titulaturas.
Tais dominantes da vida social edificaram ou imperaram sem poupar nada,
apenas distribuindo e conclamando a todos os sencientes a prosseguirem nas
veredas, nos carrascos, nas ondulações de terrenos plenos de cactos, dizendo
que esses sertões são florestas nascidas naturalmente. Em síntese, fazem
valer um discurso de que o historicamente construído nunca fora delineado
pelo interesse, pela valia ou pelo gosto de uma percentagem de indivíduos.
Na verdade, tudo dessa retórica, dessa eloquência, não passa de um hábil
jogo de construir taperas, muros, distanciando os homens uns dos outros. E
assim, quem é vítima acha completamente normal habitar em sua morada no
longínquo dos sertões revestidos pelas caatingas afora.

7.

O que podemos coletar no Instagram, para efeito de análise e interpretação,
diz respeito a uma sucessão de séries contendo signos que, ao que parece,
estão quedados em uma espécie de saudável narcisismo, na medida em que
a artista usou como pauta ou pentagrama, por assim dizer, elementos bem
próximos a si e a seu cotidiano.
Não precisa ir muito longe, basta prestar atenção ao que jaz nos títulos. É
alguém que se compraz na sua casa, familiarizada tanto com os objetos sobre
os móveis, quanto com a satisfação por ter aquele espaço, em uma espécie
de cordialidade consigo mesma.
Mesmo a presença da (auto)indulgência não ficou de fora. E, em tudo que
apresenta, quase sempre aleatoriamente, justapõe vasos com flores,
cachorros azuis, xícaras de várias cores, pavões junto a uma cafeteira e uma
xícara, móveis de toda qualidade, livros sobre livros, jumentos vermelhos,
fatias de tortas em pratos de sobremesa, peixes voando. Enfim, tudo o que
ocupa espaço em uma herdade, a depender do sujeito envolvido: seu
requinte, seus gostos, sua simplicidade. Para um bom observador, de jeito e
qualidade, esses trabalhos poderão ser motivos de crítica ou de demérito.
Vejamos os títulos das séries: Instaurando banalidades (22), Meus objetos
(8), Visitando Newton Navarro (5), Galos de Maria do Santíssimo (2), Dimas
Ferreira (1), Xico Santeiro (1). Bem claro o que dissemos: a coleta de dados
limita-se à casa de morada e à leitura de artistas com os quais Ângela
Almeida esteve sempre envolvida. Ou seja, elaborando livros e sendo
curadora de exposições acerca desses indivíduos do mundo das artes visuais.
É uma escolha que não renega os mais simples, os naïfs, ou aqueles
ocupantes do que temos de melhor em qualidade estética, como Newton
Navarro.

8.

Assim como Salvador Dalí — que também arrumava os objetos da realidade
à sua guisa e tornou-se o mais importante pintor surrealista da História da
Arte — nossa pintora segue uma gramática assemelhada, na medida em que
ousa justapor objetos que são ou funcionam de uma determinada maneira.
Contudo, toma a liberdade de deixá-los completamente dominados pela
liberdade de uma imaginação.
Quero dizer, fomos acostumados a uma lógica que perde o sentido, na
medida em que os elementos contidos nas telas estão subordinados à lógica
do inconsciente, a qual segue uma outra maneira de ser e estar, de
representar, combinando de um jeito pleno de hiatos, lacunas ou elaborando
conjuntos de elementos que juntos não fazem sentido.
Há um outro fenômeno nessa pintura. Quero falar da dimensão pictórica, do
que se encontra submetido tradicionalmente ao desenho e à pintura. Por não
ligar para as principais tradições dos diversos estilos históricos, mergulha em
pinceladas que, muitas vezes, tornam difícil identificar o que se encontra
retratado. Assim, ocorrem pinceladas pastosas.
Não me perdoaria se não pusesse aqui um exemplo do quanto essas séries
têm de surrealismo. Há um trabalho que pode ser dividido em dois planos. O
mais próximo da vista é uma mesa posta: em cima, um vaso de grandes flores
vermelhas, uma jarra de café e suas xícaras, uma pilha de livros. Não resta
dúvida: é a banalidade de uma residência de uma pessoa com seu bom gosto
e requinte. Na outra metade, na parte de cima do quadro, há uma canoa com
dois homens conduzindo um padre em suas vestes pretas, como costuma
acontecer. Qual é a relação entre a bilateralidade do quadro? Por que estão
justapostos, já que não pertencem ao mesmo lugar semântico ou nem têm
relação de pertinência? Não perscrutaremos nenhuma resposta. Que fique
assim.

9.

Com relação ao desenho, os elementos da tela refratam o acadêmico ou a
herança do devir, que quase sempre proclama o início de uma pintura, com
o intuito de imprimir marcas orientadoras. Eles aguardam os pincéis com as
tintas, com as cores de uma paleta, servindo para o artista como orientação,
deixando-o mais ancho, mais seguro no ato de manusear tanto o conjunto das
tintas quanto as clivagens ou divisões leves, riscando o papel com um grafite.
Onde estão os contornos? Onde repousam as garatujas subjacentes às
personagens ou aos objetos presentes nas gramaturas dos papéis? Por que
tanta dificuldade em agrupar em uma mesma titulatura, possibilitando a
interpretação de uma tela após submetê-la à análise? Para o Surrealismo da
artista, o que interessa são as massas de tintas, em pinceladas fartas,
problematizando de maneira arbitrária. Ela evoca, ainda mais, o inconsciente
e seus habitantes nas diversas matizes do deus Hypnos (sono) e de seu filho
Morpheu (sonho), que impera com seus símbolos. Assim, tudo se torna mais
complexo de agrupar, com o intento de fazer saber de uma eventual alcunha
de determinada tela.

10.

Finalmente, não podemos deixar de fora — em busca de esclarecer — o que
a tradição da antiga Grécia, com o surgimento e evolução da Filosofia,
marcou sobre o que faz o humano a ficar diante da realidade e dos seus
semelhantes.
Conduzindo-o a inquirir, através de um olhar minucioso, “o que significa
ser?”. Adentra por muitas veredas e rodagens, procurando uma resposta nem
sempre plausível, visto que, muitas vezes, resta “aceitar”. O ser humano dá
longas passadas, auscultando uma inquietude no seu íntimo, por não
conseguir se enquadrar em um discurso que organize comportamentos.
Nesse sentido, ensaia, mesmo sem deter a carta final que encerra o jogo. O
que quero dizer diz respeito às equações nas quais o todo não se doa em
completude e sensatez.
Não existe um resultado sem a presença de lacunas, mesmo que se
esquadrinhe minuciosamente. O objeto não se entrega inteiriço. Contenta-se
o indivíduo com, se podemos falar assim, uma percentagem: 50%, 30%, 10%
ou nonada.
Aportamos no cais da ontologia, como era de se esperar, e nossa eloquência
já denunciara o cerne dessa verve. Ou seja, o entusiasmo relativo às pessoas
que não deixam impune uma obra de arte, um objeto com sua aura estética,
uma interação calcada na empatia.
Com efeito, caminha-se em direção às fronteiras nas quais se indaga acerca
do que caracteriza os seres e suas essencialidades, como se ousasse
desvendar o que une aquilo que a dinâmica da realidade ordena em
movimento — desde o que circunda o céu e as estrelas, até os gestos banais
do cotidiano.
Vejamos, para encerrar, como podemos aplicar tais categorias às séries da
artista visual Ângela Almeida. Na verdade, ocorreu, nessa obra, a
inauguração de um mundo novo, uma nova realidade, um edifício numa
tônica maior, tudo o que de ânimo a artista perpetrou ao justapor suas cores,
com predominância do azul-real, do vermelho e do verde.
Ora, é muito curioso observar esse manuseio de cores que nem sempre
combinam, sendo dissonantes, mas, aqui, nas séries, tudo evola-se em todos
os espaços e caminha para encontrar uma outra realidade, cujo ser emana do
inconsciente. Por isso, evocamos o Surrealismo — estilo de uma arte que
refrata a razão e vai buscar, em outras regiões interiores mais profundas, sua
gramática, sua sintaxe e sua morfologia, conduzindo-nos, por meio da livre
imaginação, a encontrar, aceitar e conviver dentro de uma outra lógica.
Essa realidade é plasmada por meio de uma chusma de trabalhos, cuja
essencialidade permite refletir de outra maneira, com outra lógica. O ser se
transmuta. Agora sou outro.

 

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