Ativista preso em Israel nega ser herói: “História são os palestinos”
Thiago Ávila chegou em SP nesta sexta (13/6). Ele e outros 11 ativistas foram presos em Israel ao tentar levar ajuda humanitária à Gaza

Após desembarcar na manhã desta sexta-feira (13/6) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o ativista brasileiro Thiago Ávila, de 38 anos, afirmou que a violação que sofreu em Israel ao ser detido por tentar levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza é uma pequena fração do que sofrem os milhares de palestinos sequestrados e mantidos em prisões israelenses.
O ativista estava sob custódia de Israel desde a madrugada da última segunda-feira (9/6), quando o veleiro em que estava com outros onze ativistas foi interceptado pela Marinha israelense no Mar Mediterrâneo. A embarcação Madleen, da Coalizão Flotilha da Liberdade, buscava levar itens de ajuda humanitária à Gaza, como arroz e leite em pó.
“Eu poderia falar para vocês sobre as várias violações que a gente sofreu nesses quatro, cinco dias. Inclusive em regime de solitária. Mas a verdade é que isso é uma pequena fração do que mais de 10 mil palestinos [vivem] hoje encarcerados nas masmorras de Israel. E pelo menos 300 dessas pessoas são crianças”, disse o ativista em entrevista a jornalistas nesta sexta-feira (13/6).







Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles2 de 10
Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles3 de 10
Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles4 de 10
Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles5 de 10
Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles6 de 10
Grupo de manifestantes pró-Palestina no saguão do aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles7 de 10
Brasileiro Thiago Ávila é deportadoReprodução/Instagram8 de 10
Thiago ÁvilaReprodução9 de 10
Thiago se recusou a assinar papéis da deportaçãoReprodução/Youtube10 de 10
Greta e Thiago quando chegaram a IsraelReprodução/X
Thiago contou que passou os últimos dias em uma solitária de um centro de detenção, em uma cela escura e pequena, onde iniciou uma greve de fome em protesto. Isso porque o brasileiro não assinou um documento em que reconheceria que cometeu um crime ao tentar entrar em Israel. Nesta sexta, Ávila afirmou que só aceitou voltar para o Brasil porque a exportação de outros ativistas presos dependia da decisão dele.
O ativista chegou ao Brasil ainda usando o uniforme que lhe foi dado na prisão israelense, e afirmou ter orgulho disso. “É uma honra usar essa roupa aqui, porque eu sei que tantas pessoas que estão nas masmorras de Israel nesse momento são libertadas com essa mesma roupa.”
Ao sair pelo portão de desembarque nesta sexta, os cerca de 30 manifestantes que esperavam pelo ativista entoaram hinos em favor da Palestina livre enquanto chamavam Thiago de herói. Após agradecer, o brasileiro deixou claro que o que ele passou nada tem a ver com heroísmo.
“A verdade é que a gente não precisa falar de herói no mundo de hoje. A gente precisa de solidariedade, de coragem, de afeto, de amor e de humanidade nesse momento”, falou. “O que é que o mundo vai fazer pra deter esse horror? Eu sou só mais um aliado. A história não é a flotilha. A história não são aquelas 12 pessoas. Definitivamente não é o Thiago. A história são palestinos e palestinas.”
Veja:
No momento em que o ativista chegou, a sua esposa, Lara de Souza, correu para encontrá-lo no portão de desembarque com a filha do casal no colo, até outros apoiadores se aproximarem. Um deles coloca uma kufyia no ativista, um lenço tradicional palestino.
Deportação
Na quarta-feira (11/6), uma decisão da Justiça de Israel, após audiência com os ativistas, determinou a deportação de Thiago Ávila e retorno ao Brasil. A defesa apontou a inexistência de delito, porque os passageiros “estavam em águas internacionais com embarcação civil desarmada com autorização para navegar”.
O Palácio Itamaraty confirmou, “com satisfação”, a volta de Thiago ao Brasil. “Desde a interceptação do veleiro Madleen por forças israelenses, na madrugada de 9/6, em águas internacionais entre as costas da Palestina e do Egito, o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil em Tel Aviv [em Israel], atuou de modo a garantir a segurança e a integridade física do brasileiro”, informou o órgão, em nota.
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Grupo de manifestantes pró-Palestina no saguão do aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles2 de 6
Thiago Ávila chega ao Aeroporto de GuarulhosBruna Sales/ Metrópoles3 de 6
Brasileiro Thiago Ávila é deportadoReprodução/Instagram4 de 6
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Thiago se recusou a assinar papéis da deportaçãoReprodução/Youtube6 de 6
Greta e Thiago quando chegaram a IsraelReprodução/X
Ao Metrópoles, a irmã do ativista, a policial civil Luana Ávila, disse que ele não concordou com a autodeportação porque assumiria culpa sobre entrada ilegal no território de Israel. Com isso, o brasileiro foi levado para a solitária de um centro de detenção, em uma cela escura e pequena, onde iniciou uma greve de fome em protesto.
Após essas ações, de acordo com um comunicado da advogada do ativista, Thiago Ávila contou que ameaçaram deixá-lo na solitária por sete dias, sem contato com outras pessoas, inclusive com a defesa.
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Além do brasileiro, foram deportados Mark van Rennes (Holanda), Suayb Ordu (Turquia), Yasemin Acar (Alemanha), Reva Viard (França) e Rima Hassan (França). Dois ativistas franceses, Pascal Maurieras e Yanis Mhamdi, seguem detidos na Prisão de Givon, com deportação prevista para esta sexta.
Ajuda humanitária
Doze ativistas saíram em 1° de junho da Itália a bordo do veleiro Madleen com destino para a Faixa de Gaza. Entre eles, além de Ávila, estavam a ativista sueca Greta Thunberg e a deputada francesa do Parlamento Europeu Rima Hassan.
Todos foram detidos após a abordagem do barco no domingo (8/6) pela Marinha israelense, a cerca de 185 quilômetros da costa do território palestino. Ávila afirmou em uma gravação que a embarcação deles foi interceptada pelo exército.
Veja:
Na ocasião, um vídeo publicado no X pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel mostrou a Marinha israelense se comunicando com o Madleen por meio de um alto-falante, instando-o a mudar de rota porque a zona marítima ao largo da costa de Gaza estaria fechada ao tráfego naval. A pasta refere-se à embarcação como “iate da selfie”.
The Israeli Navy is currently communicating with the “selfie yacht”. Using an international civilian communication system, the Israeli Navy has instructed the “selfie yacht” to change its course due to its approach toward a restricted area. pic.twitter.com/KnSqWrsXU2
— Israel Foreign Ministry (@IsraelMFA) June 8, 2025
Quatro dos ativistas – a sueca Greta Thunberg, dois franceses e um espanhol – voltaram para seus países na terça-feira (10/6), após aceitarem a exportação de Israel.
Greta Thunberg afirmou na própria terça-feira em Paris, onde fez escala antes de chegar à Suécia, que os ativistas foram “ilegalmente atacados e sequestrados” e “transferidos para Israel contra sua vontade”.
Em 19 de maio, o bloqueio de ajuda humanitária a Gaza foi flexibilizado pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, após um bloqueio terrestre de três meses com todos os pontos de passagem fechados pelas autoridades israelenses. A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) é priorizada para distribuir itens de ajuda, uma organização apoiada pelos EUA e por Israel, mas amplamente condenada por grupos humanitários.
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