“Banco” de mãe de fiscal preso tem capital fake de R$ 3,4 bilhões
Mãe de Artur Gomes, preso por esquema de propinas, tem banco falso que fez transações milionárias com empresa suspeita de esquema

O falso banco da mãe do fiscal Artur Gomes da Silva Neto, preso na última terça-feira (12/8), tem um capital astronômico de R$ 3,4 bilhões. A cifra, que impressiona em um primeiro momento, tem como lastro papéis duvidosos atribuídos a um banco que nem existe mais e um documento de cartório de uma pequena cidade no interior de Minas Gerais.
Como mostrou o Metrópoles, o Dac Bank, que é apenas uma fintech de tecnologia com roupagem de banco, está sob suspeita de lavar dinheiro para o fiscal. Para vender serviços financeiros, precisa estar associada a uma instituição financeira licenciada pelo Banco Central (BC).
Ela recebeu R$ 54 milhões de uma empresa de consultoria tributária que recebeu, por sua vez, dinheiro de empresas que supostamente pagaram propina a Artur. A mãe do fiscal, que é sócia da empresa, está sob suspeita de ser laranja do esquema.
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Dinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução2 de 4
Dinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução3 de 4
Pacotes de dinheiro foram encontrados em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução4 de 4
Dinheiro encontrado em casa de fiscal Artur Gomes da Silva Neto, investigado por corrupçãoReprodução
A empresa foi aberta em 2023. No início de agosto de 2025, semanas antes da operação policial, mudou de nome para “Visão Suporte Administrativo”. Parte do capital, de R$ 1,4 bilhão, são títulos do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), extinto há mais de uma década. Em ofício a investigadores, o Banco do Brasil afirma que todas as ações do banco não existem mais desde 2009.
Outros R$ 2 bilhões constam como cessão de direito de crédito do 2º Tabelionato de Monte Sião, cidade de 25 mil habitantes no sul de Minas Gerais. Nenhum centavo em dinheiro.
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Em um site que foi retirado do ar na última quinta-feira (14/8), após a Operação Ícaro, do Grupo de Combate ao Cartel e Lavagem de Dinheiro (Gedec) do Ministério Público (MPSP), que levou o fiscal à cadeia, o Dac Bank, que passou a se chamar Dac Pay, oferecia o gerenciamento financeiro a outras empresas. “Aqui, você encontra uma conta digital completa, crédito flexível e ferramentas que simplificam sua gestão financeira”, dizia a página.
Como mostrou o Metrópoles, fintechs como essa, na prática, não passam de empresas cujos serviços vendidos por elas pertencem, na verdade, a um banco autorizado pelo BC. Os clientes usam o aplicativo da empresa, mas a conta, o pix, o TED, e outros serviços são todos de um banco parceiro dela.
Barrado no compliance
Em um processo judicial, a fintech cobra uma instituição financeira por não ter prestado o serviço contratado por ela. Em um contrato de termos de uso, chegou a anunciar que suas atividades tinham lastro em outro pequeno banco. O Metrópoles apurou que o compliance barrou o contrato porque o falso banco tinha um sócio com um histórico criminal polpudo.
A reportagem não identificou a instituição financeira que deu lastro às contas e serviços de transferências bancárias do Dac Bank. Em um aplicativo de acesso às contas, pede-se ao usuário que demonstre que foi convidado a ser correntista com uma senha de quatro dígitos.
A mãe do fiscal, Kimio Mizukami, de 73 anos, consta como sócia, ao lado de outros três sócios. Artur, segundo documentos da Junta Comercial de São Paulo, aparece como administrador.
“Assessoria criminosa”
De acordo com o MPSP, a leitura dos e-mails ligados a Artur mostra que ele vinha prestando uma “verdadeira assessoria tributária criminosa”. Citando a atuação junto à Fast Shop, afirma a Promotoria, ele orientava os diretores da empresa sobre quais documentos deveriam ser colocados no procedimento, além de compilar os dados a serem enviados. Em síntese, a conduta apontada é que ele atuaria nas duas pontas: tanto como fiscal como representante das empresas por meio de uma consultoria de fachada em nome de sua mãe.
Os promotores dizem que ele também acelerava o ressarcimento dos créditos, deferia os valores para a empresa e também autorizava a venda dos créditos a outras pessoas jurídicas.
“Ele conseguia créditos superiores àqueles que a empresa tinha apurado. Então, a gente tem provas de que a empresa tinha apurado um valor A de ressarcimento de crédito e ele conseguia ressarcir um valor B, que era muito superior”, afirmou o promotor João Ricupero, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), acrescentando que Artur garantia que os créditos não fossem revistos. Tudo isso acontecia em troca de propina bilionária, segundo o MPSP. O auditor teria recebido cerca de R$ 1 bilhão desde 2021 para fraudar créditos tributários a favor das empresas. Na casa dele, o MPSP encontrou pacotes de dinheiro.
Além da Ultrafarma e da Fast Shop, as redes varejistas Oxxo e Kalunga são citadas como suspeitas de envolvimento no esquema bilionário de corrupção fiscal.
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