Base de Nunes articula boicote a pupilo de Milton Leite na Câmara
Aliados de Ricardo Nunes defendem recondução de Ricardo Teixeira no comando da Casa e miram derrubada do União Brasil da presidência em 2027
Aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na Câmara Municipal de São Paulo articulam a recondução do presidente Ricardo Teixeira (União Brasil) para mais um ano no comando da Casa. A eleição da Mesa Diretora para o próximo ano ocorre em 15 de dezembro.
De acordo com lideranças da base governista, Teixeira teria a prerrogativa de exercer mais um ano de mandato, resgatando uma tradição da Câmara de ter gestões no formato de biênios. O movimento, no entanto, contraria um acordo feito com a bancada do União de se fazer um rodízio entre seus vereadores na presidência do Legislativo municipal.
Embora seja do União Brasil, Teixeira é tido entre os pares como uma figura governista, próximo do prefeito e não exatamente um quadro partidário do União. O indicado da legenda para comandar a Casa em 2026 é outro vereador, Silvão Leite, pupilo e ex-assessor do ex-vereador Milton Leite, ex-presidente da Câmara e cacique do partido em São Paulo.
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Milton Leite afirma que fez um acordo com Ricardo Nunes – ainda no ano passado, em meio às costuras pela campanha de reeleição do prefeito – para que a presidência do Legislativo municipal ficasse com o União durante os quatro anos da atual legislatura.
Lideranças de outros partidos da base do prefeito, no entanto, contestam esse acordo e afirmam que nada foi combinado com os vereadores. Neste sentido, MDB e PL – duas das maiores bancadas – articulam para reeleger Teixeira e, em 2027, tirar o bastão do União.
“Ter um segundo ano é direito do Ricardo Teixeira, até porque ele foi um bom presidente. Abriu e democratizou a Câmara. Ele é o nome de consenso na Casa”, afirma o vereador João Jorge (MDB), vice-presidente da Câmara e um dos principais aliados de Nunes na Casa. O parlamentar é o nome do MDB cotado para presidir o Legislativo municipal, com apoio do prefeito, no segundo biênio do ciclo. As conversas com outros partidos em torno do emedebista, incluindo o PT, já estão em andamento.
Reação de Milton Leite
Milton Leite diz que o União Brasil não está disposto a abrir mão dos quatro anos de presidência, tampouco do rodízio combinado entre seus vereadores.
“Não acreditamos em disputa dentro do União. O Ricardo Teixeira deve apoiar o Silvão, acreditamos que ele vai cumprir o documento assinado no final do ano passado, no qual ficou acordado que haveria um rodízio na presidência entre os vereadores da bancada. Ele não tem motivo para não cumprir esse acordo”, afirmou Milton Leite ao Metrópoles.
Segundo lideranças da Câmara ouvidas pela reportagem, a avaliação entre os vereadores é de que Silvão não conseguiu se viabilizar para ter o apoio da Casa na eleição de dezembro.
Os parlamentares citam que o pupilo de Milton Leite ainda tem pouca experiência por estar ainda no primeiro mandato. Para 2025, o ex-vereador já havia tentado emplacar o aliado. Após forte resistência dos vereadores, acabou cedendo e indicando Teixeira, que foi eleito para o posto.
A ideia, com isso, passou a ser que Silvão fosse o nome para o comando da Casa a partir de 2026.
“Não dá para fazer o rodízio, o Silvão não se viabilizou. Não tem esse negócio que o União vai ficar com a Casa. O PL tem sete vereadores, o MDB tem sete, eles têm sete, o PT tem oito. E eles (União) é que decidem?”, afirmou uma outra liderança governista da Câmara.
Questionado se pretende disputar novamente a presidência, em desacordo com seu partido, Teixeira não quis comentar.
De acordo com vereadores da base, caso não haja um consenso, a disputa pode se deflagrar e outros nomes que correm por fora podem tentar se viabilizar. São citados João Jorge (MDB), Fábio Riva (MDB), Gilberto Nascimento (PL) e Isac Félix (PL).
Mudança no regimento
O movimento de tentar diminuir a influência de Milton Leite na Câmara teve um passo importante em 27 de junho, às vésperas do recesso legislativo. Na ocasião, a base governista conseguiu aprovar uma alteração no regimento interno que passou a permitir a reeleição à presidência por apenas mais um ano.
A medida retomou o modelo que era vigente até 2022. Naquele ano, durante a presidência de Milton Leite, a Câmara aprovara um projeto que passou a permitir a reeleição pela terceira vez seguida, reconduzindo-o ao comando. Em 2023, uma nova mudança foi aprovada, dessa vez permitindo a recondução de forma indefinida.
A retomada do chamado modelo 1+1, neste ano, foi entendida nos bastidores como uma forma de impedir que o grupo de Milton Leite dominasse a Câmara nos anos seguintes, estabelecendo um padrão de dois anos de mandato. A articulação da mudança, inclusive, ocorreu no momento em que ele era homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em cerimônia com a presença dos vereadores do União.
Esse formato se encaixa ao discurso de que Teixeira deve ser reeleito, com o apoio do governo, completando dois anos na Presidência.
Consequências para 2026
- Outro fator levado em conta nessa articulação é o fato de que, no ano que vem, há chances de Ricardo Nunes deixar a prefeitura para disputar o Governo do Estado.
- Com isso, o presidente da Câmara viraria uma espécie de vice-prefeito, já que com o vice Mello Araújo (PL) na cadeira de titular, o posto de comando do Legislativo vira o segundo na linha sucessória do Executivo municipal.
- Neste cenário, seria interessante para os aliados de Nunes na Câmara que a presidência ficasse com alguém de confiança do grupo e não com o União Brasil.
- Aliados de Milton Leite, por outro lado, apontam que o movimento pode ser arriscado para Nunes. Isso porque, caso a federação entre União Brasil e PP se concretize, Leite, que comanda o partido em São Paulo, teria o controle de uma bancada de 11 cadeiras, a maior da Câmara Municipal.
- O entorno do cacique também aponta que um boicote aos planos de Milton Leite na Câmara também pode colocar em risco o apoio do União a uma eventual candidatura de Nunes em 2026.
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